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Esculturas da Roma Antiga estão perdendo a cabeça – literalmente

Entenda por que tantas estátuas romanas estão decapitadas nos museus hoje em dia

Por Manuela Mourão
31 ago 2024, 12h00

Quando se fala em estátuas da Roma Antiga, é esperado que algumas estejam danificadas, afinal, estamos falando de milênios de existência. Nos museus de arte clássica, é possível ver em primeira mão como nem tudo melhora com o tempo: obras com narizes quebrados, dedos perdidos e, frequentemente, estátuas sem cabeça. Mas por que tantas delas estão sem cabeça e onde elas foram parar? 

Estátua sem cabeça?!?

A primeira explicação para tanta decapitação é bem simples: o pescoço é uma área frágil do corpo humano e, por extensão, das estátuas também. Após anos de exposição, transporte e manuseio, é comum que o pescoço seja a primeira parte a se quebrar, visto que é o principal suporte do peso deste rosto e, qualquer impacto pode acidentalmente desprender a cabeça por inteiro.

No entanto, nem todas as decapitações são sem querer. Às vezes, os próprios romanos destruíam suas estátuas. 

Decapitação da memória

No Direito romano, existia a “condenação da memória” (damnatio memoriae), uma pena que consistia em apagar qualquer lembrança de uma pessoa, como se ela nunca tivesse existido. Traidores e aqueles que desonravam o Estado Romano eram vítimas dessa prática, e seus rostos eram apagados de onde quer que aparecessem: pinturas, moedas e claro, estátuas. 

Imperadores famosos, como Calígula e Nero, sofreram por essa sentença e só são conhecidos hoje em dia por causa de textos escritos em vida e algumas poucas imagens que sobreviveram a damnatio memoriae.

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Mas, nem sempre as estátuas eram completamente destruídas. Aquelas que eram  feitas de mármore ou metais preciosos eram frequentemente reutilizadas, com seus corpos sendo preservados e as cabeças substituídas para representar novos governantes.

Artesãos romanos costumavam criar estátuas com proporções padronizadas para os corpos, baseando-se em arquétipos preexistentes. O rosto, porém, era esculpido de forma única, permitindo que a estátua fosse um retrato particular de quem precisava representar. Assim, quando um imperador caía, não era necessário esculpir uma nova estátua – bastava substituir a cabeça.

Em alguns casos, as estátuas eram projetadas com cabeças removíveis que se encaixavam no pescoço. Segundo Kenneth Lapatin, curador do Museu J. Paul Getty, em Los Angeles, essa estrutura removível facilitava a produção das esculturas, permitindo que materiais distintos fossem utilizados para o corpo e a cabeça. Essa característica também possibilitava a colaboração de diversos escultores em uma mesma obra ou, inclusive, a substituição posterior da cabeça. Explicou para o jornal New York Times.

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Tais esculturas são identificáveis por uma base no fim da cabeça, ao invés de uma fratura irregular.

Além de seus próprios criadores, saqueadores de artefatos e invasores ao longo da história também foram grandes carrascos de esculturas romanas. A decapitação de estátuas era vista como um ato de revolta simbólica, visando minar autoridades e governantes. Destruir as imagens desses líderes era uma forma de atacar ideologicamente o poder que eles representavam. 

Carrascos contemporâneos

A decapitação de esculturas não se restringe à antiguidade. Em tempos mais recentes, alguns negociantes de arte descobriram que poderiam lucrar mais vendendo uma estátua e sua cabeça separadamente, do que vendendo a peça completa.

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Um exemplo é a Statue of a Draped Woman, no Museu Getty. Quando adquirida em 1972, a estátua estava sem cabeça, embora fotos de arquivos mostrassem que ela estava inteira até a década de 1930. Mais tarde, descobriu-se que a cabeça havia sido removida e vendida por um negociante de antiguidades. 

Felizmente, os conservadores do museu conseguiram restaurar a estátua, mesmo com complicações devido à fraturas irregulares que ocorreram com a separação.

Às vezes, arqueólogos encontram cabeças e corpos separados que pertenciam originalmente à mesma estátua, mas as chances de um reencontro desses são baixas. “Embora eu não tenha ideia das estatísticas precisas, hoje temos muito mais partes (cabeças sem corpo e corpos sem cabeça) do que estátuas completas. Isto fica claro em qualquer galeria de arte grega e romana”, comentou o especialista ao jornal americano.

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