Como são os bastidores da cerimônia de entrega do Oscar?
Apresentações de músicos, muitos concorrentes e shows variados ajudam a segurar a audiência - mas alongam a festa.
ILUSTRAS Maurício Planel
Objetivos cruzados
O Oscar é o segundo evento mais visto na TV dos EUA. Só perde para a final do campeonato de futebol americano. Canais pagam caro pelo direito de exibição -e, em troca, exigem um show que prenda a audiência, para justificar o preço dos anúncios. Isso provoca uma deturpação bizarra: os organizadores da festa precisam se preocupar mais em fazer “um bom programa de TV” do que em homenagear o cinema.
Maldito fuso!
Um exemplo: há anos, membros do showbusiness pedem a inclusão de novas categorias, como a de melhor dublê. A Academia não aceita porque isso deixaria a cerimônia ainda mais longa. Por causa do fuso horário, a transmissão costuma terminar depois da meia-noite em cidades no leste dos EUA, como Nova York e Boston. Muita gente não aguenta até o final e o ibope cai. Por isso, também há lobby para eliminar categorias, como as de curtas.
Sem blá-blá-blá
Para manter a duração sob controle, o Oscar comete até a maior das indelicadezas: usar a orquestra para interromper discursos “muito longos” (acima de 30 segundos). Em 2002, o produtor da festa chegou a prometer aos indicados que quem falasse menos ganharia uma TV HD (um luxo na época)! O premiado foi o holandês Michael Dudok de Wit, vencedor de melhor curta (rá!) animado.
Até os mortos disputam atenção
A duração restrita também afeta o clipe “In Memorian”,que tem cerca de dois minutos para relembrar as dezenas de astros falecidos no ano anterior. Um comitê secreto determina quem merece a homenagem, mas isso não impede que empresários e experts em relações públicas façam pressão para garantir que seu (ex?) cliente seja incluído. A guerra é tão intensa que o ex-presidente da Ampas (Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood) Tom Shreak chegou a afirmar que preparar o “In Memorian” é “a coisa mais difícil do Oscar”.
Sonora vingança
Os produtores da transmissão adoram quando astros populares como Lady Gaga e Sam Smith são indicados em melhor canção: seus fãs vão ligar a TV para ver sua performance. Quando falta star power, sobra grosseria. Em 2005, a Academia não teve pudores em substituir o uruguaio Jorge Drexler pelo ator Antonio Banderas na apresentação da canção “Al Otro Lado Del Rio”, de Diários de Motocicleta. O diretor do filme, Walter Salles, reclamou que a troca foi “um desrespeito”, mas Drexler riu por último: ganhou o prêmio e ainda cantarolou um trecho no discurso.
Um Oscar para o povão
Para alguns especialistas, dobrar o total de concorrentes a melhor filme também foi uma tática para bombar a audiência. Historicamente, mais gente assiste ao evento quando blockbusters estão na disputa. Com dez vagas, eles têm mais chances. Coincidência ou não, a mudança rolou logo após o ano em que Wall-E e O Cavaleiro das Trevas, sucessos de público e crítica, ficaram de fora.
Uma coisa meio esquizofrênica
A necessidade de atrair o grande público também explica por que, às vezes, a cerimônia fica com cara de show de variedades. A premiação já teve mágicos, jogos de sombra, acrobacias do Cirque Du Soleil, patinação no gelo e até uma grotesca paródia de uma música da banda Creedence Clearwater Revival cantada por uma atriz vestida de Branca de Neve. E sem a aprovação da Disney!
FONTES The Independent, Entertainment Weekly, Variety, The Hollywood Reporter, Time, Oscars.org
PODRES DO OSCAR
PARTE 1: Como surgiu a Academia de Cinema que entrega o Oscar?
PARTE 2: Como é a votação do Oscar?
PARTE 3: Quem define se um ator disputa o Oscar de protagonista ou coadjuvante?
PARTE 4: Como são as campanhas para ser indicado ou vencer o Oscar?
PARTE 5: Como são os bastidores da cerimônia de entrega do Oscar?