Como foi a erupção do Vesúvio?
Foi uma explosão que destruiu várias cidades da baía de Nápoles, na Itália, em 24 de agosto do ano 79.
pergunta Renato Balera de Mello, Santo André, SP
ilustra Cássio Yoshiyaki
edição Felipe van Deursen
Foi uma explosão que destruiu várias cidades da baía de Nápoles, na Itália, em 24 de agosto do ano 79. Essa região portuária e de agricultura fértil fica a só 240 km de Roma, capital do mundo ocidental na época. O assustador evento foi inédito na cultura romana, tanto que nem havia uma palavra para vulcão. O nome veio de uma festividade, comemorada na véspera, para Vulcano, o deus do fogo (Hefesto para os gregos). Pompeia se tornou a mais famosa dessas cidades porque centenas de corpos permaneceram preservados. Assim, a cidade, que estava num lugar e num momento especiais na história, ficou bem conhecida. Seria o equivalente a uma força desconhecida da natureza destruir uma área próxima a Nova York hoje. Ao longo do tempo, houve outras erupções doVesúvio. A mais recente, em 1944, em plena 2ª Guerra Mundial, matou 28 pessoas e destruiu 80 aeronaves norte-americanas. Desgraça pouca é bobagem.
Dia de fúria
A cronologia do fim de Pompeia
MANHÃ
Fazia calor no dia, e o primeiro abalo foi sentido no fim da manhã, quando, em dias festivos, as pessoas costumavam se reunir no estádio para assistir às lutas dos gladiadores. As pessoas levantavam cedo (4h30). O comércio abria às 7h. Ao meio-dia, elas almoçavam pão, peixes, frutas e bolos (Pompeia tinha mais de 30 padarias)
TARDE
O comércio incluía lavanderias, bancos e banhos públicos, que lotavam após as 13h. Não naquele dia: o céu ficou tomado por uma chuva de cinzas, rochas e detritos, que provocaram as primeiras mortes. Corrosivas, as cinzas vulcânicas não se dissolvem em água. Elas alcançam 300 ºC, queimando a garganta e as vias nasais
NOITE
Ao cair da tarde, quando as famílias se recolhiam e era perigoso sair nas vielas, a cidade estava tomada por rochas e cinzas. Boa parte dos edifícios desabou e muitos habitantes já estavam mortos quando a lava começou a brotar do Vesúvio. Ela não chegou a Pompeia, atingindo somente áreas mais próximas do vulcão
Há basicamente dois tipos de vulcões. Os mais comuns são grandes rachaduras, por onde jorra lava vinda do manto, a camada extremamente quente que fica debaixo da crosta terrestre. Montanhas com crateras no topo são raridade. Nelas, a erupção é uma sequência de rochas, fuligem e gases tóxicos. A lava é a dose final de terror
MENTOS COM REFRI
A erupção em terra firme (lembre-se que há também os vulcões submersos) é uma garrafa de refrigerante agitada: primeiro, um jato alto, que lança até pedras do próprio topo do vulcão. A explosão de 79 foi tão forte que mudou a cara do Vesúvio. No lugar do topo antigo, mais alto e pontiagudo, surgiram duas crateras planas. Está assim até hoje
Para completar a tragédia, a erupção causou um tsunami na baía de Nápoles. Ondas de até 8 m inutilizaram o porto de Pompeia. Quem sobreviveu e tentou fugir pelo mar não conseguiu. Muitos morreram sufocados de madrugada
BAÍA DA MORTE
Herculano, Estábia, Oplontis, Nucéria e Miceno foram as outras cidades atingidas. Herculano estava mais perto do Vesúvio do que Pompeia. Mas foi evacuada a tempo: só 300 morreram lá. A maioria morreu em Pompeia mesmo
Mais de mil corpos foram encontrados em Pompeia desde o século 18. Muitas vítimas foram soterradas por uma camada de cinzas aquecidas, solidificada com o tempo. Isso criou um molde negativo dos cadáveres, já totalmente decompostos. Preenchidos com gesso, os moldes exibiram a posição das vítimas na hora da morte
Vesúvio no top 5
As erupções vulcânicas mais assassinas (em mortes registradas)
1. 92 mil
Tambora, Indonésia, 1815
2. 36 mil
Krakatoa, Indonésia, 1883
3. 29 mil
Pelée, Martinica, 1902
4. 23 mil
Nevado Del Ruiz, Colômbia, 1985
5. 16 mil
Vesúvio, Itália, 79
UMA ÚLTIMA CURIOSIDADE Pompeia foi redescoberta sem querer no século 16. E o primeiro corpo só foi achado no século 18
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Consultoria Penelope Allison, especialista em história antiga da Universidade de Leicester (Reino Unido)
Fontes Livros A Vida Quotidiana na Roma Antiga, de Pedro Paulo Funari, e Secrets of Pompeii, de Emidio de Albentiis e Alfredo Foglia, filme Pompeia – O Último Dia, BBC/AVENTURAS NA HISTÓRIA