Pergunta da leitora – Agatha Veroneze,
Posto da Mata, BA
Com várias câmaras com funções específicas e túneis que as interligam. A disposição desses locais depende de vários fatores, como a espécie da formiga (há mais de 10 mil!), sua dieta, o lugar onde o ninho é construído e o número de habitantes. Em geral, quanto mais espaço disponível, mais câmaras e túneis (os de formigas urbanas, por exemplo, têm apenas uma sala). Os formigueiros costumam surgir em épocas úmidas e quentes (como os meses de agosto e setembro no Brasil), em que rola o acasalamento e as rainhas procuram um lugar para pôr seus ovos. A colônia vive até 15 anos, que é a expectativa de vida de sua líder. Mas esse período pode ser abreviado devido ao ataque de predadores, como aves, sapos e tamanduás.
Reino subterrâneo
Com salas especiais para bebês, comida e lixo, formigueiros chegam a ter milhões de indivíduos
TORRE DE VIGILÂNCIA
O tamanho da toca depende da quantidade de habitantes. As espécies do gênero Acromyrmex chegam a ter 175 mil, e os sauveiros até 7 milhões. Além da parte subterrânea, alguns ninhos podem também atingir 1,5 m de altura na superfície. A teoria é que essa protuberância sirva para impedir a entrada de água
QUARTEL-GENERAL
Algumas das operárias nascem para ser soldados, com tamanho maior e mandíbulas afiadas como um alicate. Em grandes formigueiros, elas ficam de guarda em uma sala especial, na ponta do ninho. De lá, podem farejar predadores ou formigas forasteiras e combatê-los. Cabeçudas, também podem bloquear as entradas com a cuca
APOSENTO REAL
A sala da rainha é o primeiro “cômodo” a ser construído e o único feito por ela. Aqui, a soberana passa praticamente toda a vida colocando seus ovos. A primeira ninhada ainda é tratada pela própria mãe. Durante o período, seu corpo degrada os músculos das asas, que se tornam desnecessárias após o acasalamento
JARDIM DE FUNGOS
A dieta da espécie influencia no design do formigueiro. Por exemplo, as saúvas se alimentam de fungos que crescem nos vegetais coletados e precisam de uma sala para cultivá-los. Já as formigas do gênero Tapinoma vivem de açúcar e não precisam da sala: em vez disso, armazenam o carboidrato no corpo de algumas operárias
ATERRO NATURAL
Em geral, a parte mais baixa do formigueiro possui uma câmara que funciona como uma espécie de depósito de lixo. As operárias trazem para cá todas as sobras: restos de fungos, folhas, fezes de insetos capturados e também formigas mortas. O lixo fica aqui se decompondo e nunca se mistura ao restante da colônia
BERÇÁRIO OPERÁRIO
Quando há espaço, o formigueiro possui uma câmara de chocagem. A partir da segunda ninhada, é para cá que as operárias trazem os ovos. Tratados por elas, eles se tornam pupas em até quatro semanas, dependendo da espécie. As pupas não comem nem se movem, apenas aguardam: em três semanas, estarão adultas e aptas ao trabalho
LABIRINTO DE CUSPE
Responsáveis pelos túneis e câmaras, as operárias erguem o formigueiro endurecendo suas paredes com a saliva. Não bastasse a trabalheira, alguns ninhos possuem ainda túneis falsos, que não levam a lugar nenhum. O objetivo é ganhar tempo no caso de um ataque, fazendo a colônia rival se perder na armadilha
A profundidade varia entre espécies. O gênero Cyphomyrmex tem ninhos com entre 3 e 5 cm. Já os de saúvas chegam a 20 m abaixo da superfície
Há também colônias em partes ocas de árvores, prática comum entre as espécies que se alimentam de sementes
Formigas que não constroem câmaras específicas depositam o excesso fora do ninho
Hierarquia social
Membros do grupo se dividem em castas com funções definidas
RAINHAS
Maiores e aladas, dão origem ao ninho e são as únicas reprodutoras
MACHOS
Nascem de ovos não fertilizados e servem apenas para o acasalamento
OPERÁRIAS GENERALISTAS
Cuidam dos ovos, da rainha e do ninho
JARDINEIRAS
Cuidam do jardim de fungos
ESCAVADORAS
Responsáveis por trazer comida para dentro do ninho
Diferenciam-se pela cabeça avantajada e defendem a colônia
Infiltradas Insetos aprenderam a viver nas cidades
Tem formigas pela casa? É normal: os animais se adaptaram ao ambiente urbano. Frestas, vãos entre o reboco e o azulejo e até aparelhos eletrônicos podem estar infestados delas, que saem apenas de vez em quando para buscar alimento. E, sim, as populações também chegam aos milhões
Consultoria Ana Eugênia de Carvalho, bióloga do Instituto Biológico de São Paulo, Emília Zoppa, pesquisadora do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e Terezinha Della Lucia, professora do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Leia também:
– Como é a vida dentro de um formigueiro?
– De que altura uma formiga pode cair sem se machucar?