Como deveria ter sido a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas?
Com a retirada de sedimentos do fundo da lagoa e a ampliação do canal que a liga ao mar.
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Edição Felipe van Deursen
Com a retirada de sedimentos do fundo da lagoa e a ampliação do canal que a liga ao mar. É o que defende Paulo Cesar Rosman, professor de Engenharia Costeira da Escola Politécnica da UFRJ. Para ele, as medidas tomadas até agora apenas evitam que o problema se agrave. Atualmente, o fundo da lagoa tem uma camada de quase 1 metro de lodo, formada pelos sedimentos trazidos pelas chuvas e pelas décadas de poluição. “Como a Rodrigo de Freitas é o ponto mais baixo da bacia hidrográfica, é natural que ela receba enormes afluxos com substâncias arrastadas pelas chuvas”, diz Rosman.
PISCINÃO DE FREITAS
Lagoas costeiras são depósitos naturais para matéria orgânica e sedimentos. A água não corre e acumula dejetos trazidos por rios ou pela ação da chuva. Por isso, o fundo da Rodrigo de Freitas é um grande estoque de gases e detritos, resultado da combinação dos dejetos trazidos pela chuva com o esgoto sem tratamento, despejado na lagoa até 2001
BURACO MAIS EMBAIXO
Esse acúmulo levou à superpopulação de microalgas, que se reproduzem descontroladamente quando uma tempestade traz uma descarga forte de substâncias. A proliferação de microalgas retira quase todo o oxigênio da água. Para piorar, ventos fortes e altas temperaturas liberam gases fatais aos peixes, pois fazem a poluição do fundo da lagoa emergir
MAS TEM SOLUÇÃO
O melhor jeito seria “trocar” continuamente a água. O engenheiro Paulo Rosman desenvolveu um projeto para construir tubulões que vão do Canal do Jardim de Alah ao mar. Assim, quando a maré subisse, a água oceânica (em equilíbrio de nutrientes) entraria na lagoa. Quando abaixasse, a água da lagoa escoaria para o mar. “Os tubos podem retirar 90% do excesso de nutrientes em 30 dias”, afirma Rosman
BAIXO NÍVEL
A lagoa fica 50 cm acima do nível do mar. Isso porque há bloqueios de areia na embocadura do canal e comportas, que ficam fechadas. Com a obra, a lagoa ficaria no mesmo nível do oceano
PROBLEMA ANTIGO
Os tupinambás, que habitavam a área antes da chegada dos europeus, conheciam o local como Sacopenapã, que significa “lagoa do peixe podre”. Desde o século 19, sabe-se que os peixes por lá morrem asfixiados e que enchentes são um problema. O canal do Jardim de Allah foi construído em 1921 justamente para escoar parte da água que inundava o entorno quando chovia
EIKE LAGOA POLUÍDA!
O outrora superpoderoso Eike Batista afirmou em 2007 que um dia nadaria na lagoa. Para isso, a EBX, uma de suas empresas, injetou cerca de R$ 23 milhões em obras de melhoria no local, entre 2008 e 2012. Em parceria com o poder público, as obras melhoraram a coleta de resíduos, sistemas de drenagem e controle de esgoto
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SE A CANOA NÃO VIRAR…
Apesar de tudo, a lagoa está nas Olimpíadas
O Comitê Olímpico Internacional (COI) aprovou a Lagoa para a realização das provas de canoagem e remo nas Olimpíadas do Rio. Porém, o assunto ainda é polêmica internacional. Para o biólogo marinho John Griffith, do Projeto de Pesquisa de Águas Costeiras do Sul da Califórnia (SCCWRP, na sigla em inglês), só quem investiu tempo para se tornar um atleta de elite e competir nas Olímpiadas pode concluir se vale a pena o risco de contrair uma infecção por isso. “Eu chegaria antes, para me expor aos micróbios e fortalecer meu sistema imunológico para a competição”, sugeriu Griffith à ME. A prefeitura do Rio nos informou que o COI aprovou as condições, e que nenhum dos esportes levará atletas ao mergulho. “A Lagoa não é para o contato humano”