Patrícia Logulo
Bem na pele do mar existe um caldo de minúsculos organismos. É uma rica e ativa comunidade formada por algas, bactérias, filhotes de peixes e larvas de crustáceos e moluscos, que não afundam mais do que 10 centímetros. Aproveitando a luz solar, eles sobrevivem a tempesdades, a variações de temperatura e ao constante bombardeio de raios ultravioleta. A turma da cobertura é peça fundamental na cadeia alimentar oceânica, inclusive para os animais das profundezas. Ela também ajuda a controlar a poluição.
À flor d·água
Na fina lâmina superficial concentra-se uma enorme variedade de espécies. Conheça algumas delas.
Até 200 metros
Dois terços das reações de fotossíntese do planeta acontecem na primeira camada abaixo da superfície do mar, onde o Sol providencia alimento para vários cardumes, como sardinhas, arenques, golfinhos e baleias.
Até 1 000 metros
Em quase penumbra, essa camada intermediária é mais pobre em alimento. Por isso, algumas espécies de peixes que aqui vivem sobem à superfície à noite para se alimentar. De dia, mergulham de novo.
Abaixo de 1 000 metros
A escuridão é total e a pressão centenas de vezes maior do que na superfície. Peixes de carapaça e carregando estranho faróis dividem o espaço com esponjas e estrelas-do-mar.
Moradores permanentes
Insetos que surfam e gelatinas venenosas são habitantes fixos da superfície
Embarcação perigosa
A caravela portuguesa é uma colônia de bichinhos, cada um com uma função específica, como caçar, comer e se reproduzir. Os tentáculos, armados com miniarpões queimantes, chegam a ter 12 metros de comprimento.
Marido anão
O molusco argonauta é parente do polvo. A fêmea pode crescer bastante e construir conchas de até 20 centímetros para abrigar os filhotes. Mas os machos não passam de algums milímetros de comprimento.
Superpopulação
O microcrustáceo copépode tem menos de 2 milímetros de comprimento. É um dos pratos principais para animais como a baleia azul, que vai até a superfície para saboreá-lo.
Prancha no pé
O inseto halobates surfa sobre a lâmina d’água graças a sua leveza e às longas patas. “Ele se alimenta de organismos existentes no filme milimétrico entre a água e o ar”, diz a oceanógrafa Luz Amélia Vega Perez, da Universidade de São Paulo.
Berçário provisório
Calcula-se que 99% dos peixes passem a primeira infância no topo, para só depois descer.
Pouca prática
A lula aduta nada em qualquer profundidade. Mas os bebês, de menos de 1 centímetro, precisam do abundante alimento das partes mais altas.
Tábua salvadora
A cria da lagosta leva vantagem por sua forma delgada. Como uma folha de papel, ela bóia ao sabor das correntes.
Isca infantil
O crustáceo corrupto, depois usado como isca pelos pescadores, também cresce no alto. Mai tarde, volta a se enterrar no fundo arenoso, onde passará a fase adulta.
Assalto noturno
O peixe-galo nada a cerca de 20 metros de profundidade. O filhote, com cerca de 4 milímetros, visita a superfície à noite para comer.
Presença invisível
As microscópicas algas que habitam o alto são cheias de particularidades curiosas.
Maré tóxica
As dinoflageladas têm “perninhas” para flutuar. Alguns tipos causam a maré vermelha: uma inundação de toxinas produzida pelo crescimento das colônias.
Escudo decorado
As diatomáceas possuem uma carapaça de sílica com desenhos sofisticados.
Brilho próprio
A noctiluca se acende à noite. As marolas detonam reações químicas que a fazem brilhar.
Auxílio providencial
As cianofícias são muito ricas em clorofila, que ajuda na fotossíntese.
Bactérias faxineiras
A Pseudomonas aeruginosa (veja acima) é uma das mais ativas participantes da comunidade de elite que habita o andar de cima dos oceanos. Ela é uma bactéria capaz de degradar o perigoso óleo despejado no mar. Os hidrocarbonetos, moléculas de hidrogênio e carbono que constituem o petróleo, vedam a superfície marinha, impedindo a oxigenação das águas. Além disso, a cortina pegajosa fecha a entrada de luz do Sol, o que reduz a fotossíntese realizada pelas algas. Com isso a cadeia alimentar sofre um golpe na sua raiz. A pseudomonas ataca as gotas oleosas, quebrando-as em partículas cada vez menores. Não dá, porém, para deixar toda a faxina por conta delas. O processo, lento, não é totalmente eficaz no combate aos efeitos de desastres ecológicos. Os cientistas estão tentando estimular esses microorganismos a trabalhar mais rápido, dando-lhes para comer nitrogênio e fósforo, seus alimentos preferidos.