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Por que a transposição do rio São Francisco é tão polêmica?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 6 dez 2005, 22h00

Viviane Palladino

Porque, apesar de estar sendo discutida há mais de 150 anos (a primeira vez que alguém teve a idéia de transpor o terceiro maior rio do país foi em 1847, no governo de dom Pedro 2º), não há consenso sobre se ela é a melhor maneira de acabar com a seca no Nordeste. De um lado, defensores lembram que a quantidade de água disponível por habitante no semi-árido nordestino é menos da metade do que a ONU estabelece como mínima para a vida humana. Além disso, a escassez já ameaça cidades de médio e grande porte (estima-se que, se nenhuma medida for tomada, Fortaleza entrará em colapso hídrico – uma espécie de apagão de águas – daqui a 20 anos). Já os críticos acham que o maior problema da região é o mau uso da água existente e apontam diversos erros no projeto proposto. Conheça os principais pontos de discordância entre defensores e críticos da transposição.

Energia

95% da energia do Nordeste é gerada pelas hidrelétricas localizadas no São Francisco. Qualquer retirada de água causa queda nessa produção.

A defesa: A queda é irrelevante já que o que sairá diariamente equivale ao volume que evapora na represa de Itaparica a cada 10 horas, em períodos de cheia. Também há épocas em que é preciso abrir as comportas das usinas, desperdiçando água.

A crítica: Ao propor a retirada de uma porcentagem da vazão média, o governo ignora as peculiaridades do rio que, na seca, tem vazão bem menor. Nesses períodos, a retirada de 1,4% pode equivaler a quase toda a água do rio.

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Meio ambiente

O rio sofre degradação ambiental há 500 anos e a água está poluída em diversos trechos.

A defesa: Os pontos de captação foram avaliados e têm água de excelente qualidade. Para o Ibama, os benefícios do empreendimento superam os impactos negativos na natureza. Além disso, está trabalhando na revitalização dos trechos poluídos.

A crítica: Águas poluídas serão levadas aos açudes. Além disso, há risco de salinização e erosão dos rios receptores e também de interferência nos ecossistemas aquáticos e terrestres.

Agua existente

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A maioria dos açudes da região é subutilizada porque a população teme a escassez nos períodos de seca. A água parada faz com que a evaporação seja maior. Outros, que abastecem cidades de médio porte (como Campina Grande), estão trabalhando acima do limite que garante a oferta constante de água.

A defesa: Os açudes ficarão sempre cheios atendendo à demanda e acabando com o medo.

A crítica: Usada de forma correta, a quantidade de água de todos os açudes atenderia à demanda na região até 2012.

Uso da agua

Cerca de 80% das águas da região vão para a agricultura – e não para o consumo humano, como diz a lei.

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A defesa: Só a água excedente – que sobrar após o abastecimento humano e de animais – será aplicada na irrigação, agricultura ou indústria.

A crítica: Como o uso comercial da água dá mais retorno financeiro, a situação atual não deve mudar. Pequenas localidades, em situação crítica, correm o risco de continuar sem água, já que têm pouco dinheiro e poder político.

Agua nas cidades

O projeto vai viabilizar o fornecimento constante de água bruta (sem tratamento). Os estados serão responsáveis pelo tratamento e distribuição.

A defesa: Os estados se comprometeram a pagar pelo fornecimento de água às cidades. Até 2025, 12 milhões de pessoas em 390 municípios de 4 estados estarão sendo beneficiadas.

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A crítica: Os governos estaduais não têm um planejamento real de como será o tratamento e o transporte da água.

Custos

Fato: Fazer a transposição e manter a estrutura funcionando têm custos altos. Isso encarecerá a água para o consumidor.

A defesa: O custo final da água será R$ 0,13 por 1000 litros (m3). Isso significa um aumento de 5% a 7% na conta (o que seria pouco, comparado ao que se paga hoje nos períodos de seca, quando o preço do m3 no carro-pipa chega a 7 reais).

A crítica: O aumento na conta será maior do que o previsto – pode chegar a US$ 0,30 por m3. Também há risco de inadimplência, já que boa parte da população da região vive na miséria.

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Para cima, ninguém ajuda

Levar a água do rio São Francisco para o Nordeste não é fácil. A água tem que vencer 722 km de terreno árido e íngreme e ser elevada a cerca de 300 metros de altura (no Eixo Leste) e 180 metros (no Norte). Para isso serão usadas, ao todo, 8 estações de bombeamento, 591 km de canais e 12 túneis.

Os canais suportam até 127 m3/s de água, mas o governo garante que só serão retirados 26,4 m3/s do rio (1,4% da vazão média).

As usinas de Jati e Atalho servem para recuperar dois terços da energia gasta nas estações de bombeamento.

Entenda o projeto

Para tirar 1,4% de água da vazão média do rio São Francisco e levar aos rios temporários (que ficam secos por até 9 meses no ano) de 4 estados do semi-árido nordestino, serão construídos dois eixos: o norte, que abastece Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará; e o leste, que chega a Paraíba e Pernambuco. O governo prevê gasto de bilhões de reais e dois anos de trabalho.

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