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Pesca e poluição, suicídio planetário

A poluição e a pesca predatória ameaçam o muturo dos mares.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 31 mar 1992, 22h00

Spensy Pimentel

Há duzentos anos, quem olhasse para a vastidão do oceano acharia presunção imaginar que a humanidade pudesse, um dia, alterar seu equilíbrio de forma significativa. Hoje está provado: ela tem esse poder maligno e o está exercendo por meio da poluição e da pesca predatória. O mar recebe, todos os anos, milhões de toneladas de esgotos, petróleo, metais pesados, pesticidas e derivados do cloro. Como a sujeirada não circula pelo alto-mar, não pode ser diluída. Fica acumulada na zona costeira, que concentra 90% de toda a vida marinha.

A pesca predatória vem levando muitas espécies à extinção. As vítimas não são só as baleias, mas espécies comuns nas mesas do mundo inteiro, como o atum e o bacalhau. Um relatório das Nações Unidas publicado em 1997 afirmou que 70% das reservas mundiais de peixe estavam superexploradas ou totalmente esgotadas. “Os mares estão sofrendo uma crise de biodiversidade”, diz Matthew Gianni, coordenador da Campanha Oceanos, da organização ambientalista Greenpeace. Como os predadores – os peixes grandes – estão sumindo da cadeia alimentar, as águas se tornam cada vez mais povoadas por águas-vivas e animais pequenos, deprezados pela indústria pesqueira. Pior para nós.

Viagem tenebrosa

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Veja como a poluição viaja pelos mares e descubra quem paga por isso.

DESPEJO IRRESPONSÁVEL

De todos os poluentes marinhos, os mais perigosos são os chamados POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes), como o DDT e outros pesticidas. Banidos por uma lei mundial desde o começo da década de 90, eles ficam décadas na cadeia alimentar, contaminando animais e seres humanos por várias gerações. Veja o que acontece quando uma determinada quantidade desses pesticidas é lançada na costa leste dos Estados Unidos.

LIXO NO MAR

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Muito voláteis no calor, os venenos são levados pelo vento em direção ao Ártico, a mais de 3 000 quilômetros de distância. Lá, as baixas temperaturas provocam o resfriamento do ar que saiu dos trópicos e os poluentes retornam ao mar.

INTOXICAÇÃO EM CADEIA

Na fase seguinte, os POPs entram na cadeia alimentar. Primeiro contaminam o plâncton, depois os peixes que se alimentam de plâncton e assim acabam chegando aos grandes predadores, como as aves marinhas, os ursos polares e as focas. Como esses poluentes são solúveis em gordura, ficam concentrados nos tecidos gordurosos dos grandes mamíferos polares, como focas, leões-marinhos e ursos.

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NA BARRIGA DO ESQUIMÓ

Ao caçar uma foca e comer sua carne, o esquimó canadense está ingerindo o veneno. Estudos recentes mostraram uma concentração de toxofeno e clorodano – dois poluentes extremamente tóxicos – nos esquimós vinte vezes maior do que o tolerado pela Organização Mundial da Saúde. As conseqüências da intoxicação vão de falhas no sistema imunológico a infertilidade e má-formação de fetos.

Alerta vermelho

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Em 1997, vinte americanos sofreram intoxicação grave depois de comerem mariscos coletados na Baía de Cheasepeake, na Flórida. O problema foi causado pelo fenômeno da maré vermelha (foto). Trata-se da proliferação excessiva de algas tóxicas – muitas delas de cor avermelhada – que ocorre em mares do mundo inteiro. Essas algas passam a maior parte do tempo hibernando no fundo do mar, mas vêm à tona para se reproduzir. Em zonas poluídas, onde há concentração de nutrientes, elas acabam se multiplicando demais. Os mariscos, como as ostras e os mexilhões, que filtram a água para se alimentar, acumulam as toxinas das microalgas. Em seres humanos, o veneno atinge o cérebro e pode causar paralisia e morte.

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