Madeira , consumo responsável
Com o incentivo à oferta e ao consumo de produtos florestais certificados, em especial a madeira, a ONG Amigos da Terra consegue estimular também a conservação da flora brasileira.
Maria Fernanda Vomero, de São Paulo, SP
Um estudo realizado em 1999 pela Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, junto com outra ONGs, revelou um dado inesperado. Ao contrário do que se imaginava, 86% da madeira retirada da Amazônia – de maneira legal ou ilegal – era consumida no próprio país, especialmente nas regiões Sudeste e Sul. Segundo o estudo, de cada cinco árvores cortadas na floresta, uma era destinada ao mercado paulista. “O Brasil é o maior consumidor de madeira tropical do mundo”, diz o engenheiro André Carvalho, da Amigos da Terra. Ou seja, aquele papo de que são os países ricos que estão derrubando a Amazônia não passa disso mesmo: papo.
A constatação fez com que, em 2000, fosse criado o grupo Compradores de Produtos Florestais Certificados, que reúne hoje 65 empresas, com representantes da indústria madeireira, do setor produtivo e das redes varejistas, além dos governos do Acre e do Amapá e da prefeitura do município do Guarujá. Todos firmaram um compromisso com a ONG Amigos da Terra de comercializar ou consumir preferencialmente produtos certificados pelo selo internacional do Conselho de Manejo Florestal, o FSC, na sigla em inglês. Isso garante que a madeira e outros produtos da floresta, como o palmito, o óleo e o papel, são extraídos num ritmo que dá tempo à floresta de crescer de novo, sem a exploração indiscriminada ou a utilização de trabalho infantil ou escravo, por exemplo.
Uma das empresas do grupo é a Orro & Christensen, dona de uma fábrica de móveis e da loja OC Design. A Orro comprometeu-se a começar, em 2001, a consumir madeira certificada da Amazônia. O plano é chegar a 20% do fornecimento com madeira certificada em 2003, 50% em 2005 e, em seguida, passar a comprar só madeira com o FSC. A rede Tok & Stok, outra loja de móveis que fabrica parte de seus produtos, tem um acordo parecido com a Amigos da Terra, com a diferença de que não há metas tão claras, já que sua produção é bem maior e não é fácil encontrar madeira certificada em quantidade. Já o governo do Acre prometeu incluir nas leis de licitação um instrumento legal que dê preferência de compra aos produtos certificados. E a Cikel Brasil Verde, uma madeireira da Amazônia, comprometeu-se a fornecer madeiras com o selo verde.
“O mercado brasileiro ainda é irresponsável. Mas já existem exemplos de empresas que mantêm um compromisso com a origem da matéria-prima”, diz Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra, única instituição a levar dois Prêmios Super Ecologia (veja na página 12). Depois de trabalhar a oferta de produtos certificados e a demanda por eles, o passo seguinte será o mercado consumidor. Sim, caro leitor, é a sua vez de ajudar a conservar a floresta – compre madeira, palmito, óleo e até polpa de fruta certificados.
Os finalistas
A Fundação Bradesco disputuva o prêmio da categoria com um belo trabalho de educação ambiental que envolveu mais de 100 000 estudantes em 2001. Como parte das atividades curriculares, os alunos das escolas mantidas pela Fundação trabalharam na recuperação da cobertura vegetal de um riacho em Paranavaí, no Paraná. O outro finalista foi a Associação de Proteção a Ecossistemas Costeiros, que está trabalhando no reflorestamento dos manguezais da baía da Guanabara, em Niterói.