David Shepherd, engenheiro de software da empresa suíça Asia Brown Boveri (ABB), percebeu que seus funcionários não conseguiam escrever duas linhas de código sem serem interrompidos pelos colegas – o que pode ser fatal para quem depende de concentração (e um surto de inspiração aqui e ali) para trabalhar.
Para evitar o incômodo – que qualquer pessoa que já trabalhou em um escritório é capaz de entender –, inventou um semáforo de mesa chamado flowlight (em tradução livre, “luz de fluxo”). A luzinha inteligente mede a frequência e intensidade com que você está digitando e clicando. E se perceber que você está pegando firme naquela hora, fica vermelha para avisar os outros que é uma péssima ideia te interromper naquele momento.
É claro que ninguém passa o dia todo em um surto de inspiração, e a comunicação entre os funcionários é importante – caso contrário não existiriam escritórios. Por isso, um mecanismo limita o período do dia em que a luz pode ficar vermelha a 13% do expediente. Em outras palavras, o artifício não ajuda chatos crônicos a se isolar de vez do mundo – só evita que os mais criativos percam um fio de meada potencialmente importante.
Shepard, com a ajuda de Thomas Fritz, neurocientista da Universidade de Zurique, transformou o protótipo em realidade e instalou 449 semáforos de mesa em escritórios da ABB de 12 países. Um artigo científico relata a experiência. O número de interrupções inadequadas caiu 46%, e os funcionários que experimentaram a ferramenta querem adotá-la de vez.
É claro que digitar rápido nem sempre é sinal de que você está inspirado – o semáforo de mesa não sabe apontar a diferença entre os padrões de digitação de alguém conversando com o filho no Whatsapp e de Margaret Hamilton escrevendo o código que levou a Apollo 11 à Lua. Por isso, críticos do projeto propõem que a luz inteligente se baseie em indicadores de concentração mais confiáveis.
Um deles pode ser a dilatação das pupilas – elas tendem a ficar maiores em pessoas que estão colocando uma boa ideia no papel. Seria o ideal, mas instalar o equipamento necessário para detectar alterações sutis nos olhos de milhares de empregados está além do orçamento de qualquer empresa. Uma opção mais barata é analisar a frequência dos batimentos cardíacos – pode ter certeza que o coração de Einstein saiu pela boca quando ele se deu conta de que a velocidade da luz era fixa, e não relativa.
A flowlight, infelizmente, não está a venda. Mas não custa dar a ideia a seu chefe – só veja se você não o está interrompendo em um momento importante, é claro.