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Raio-X revela conteúdo de cartas lacradas por 300 anos

No passado, não havia envelopes e os remetentes usavam técnicas de dobradura de papel para esconder suas mensagens de bisbilhoteiros – agora, pesquisadores desenvolveram um método para ler o conteúdo sem estragar o documento.

Por Carolina Fioratti
3 mar 2021, 16h30

Se você usa e-mail ou WhatsApp e nunca teve conversas vazadas por terceiros, pode agradecer à criptografia. Essa técnica codifica e decodifica mensagens de maneira que só as pessoas envolvidas na conversa consigam ler. No passado, quando o envio de cartas era mais comum, esse era o papel do envelope – se ele estivesse lacrado, sua correspondência estava em segurança. 

Mas o próprio envelope só começou a se disseminar em 1830. Até então, os remetentes usavam para proteger as informações de bisbilhoteiros uma técnica chamada letterlocking (bloqueio de cartas), que consistia na dobradura do papel em padrões específicos. Essa “criptografia” rudimentar é um grande empecilho para historiadores, já que dificulta o estudo de cartas que nunca foram abertas – o papel fica frágil com o passar dos anos, sendo necessário danificar o documento para ter acesso ao seu conteúdo. 

Mas isso mudou. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveram uma técnica capaz de revelar o conteúdo das cartas sem danificá-las. Os cientistas têm como objeto de estudo a Coleção Brienne, um baú repleto de documentos encontrado em Haia, nos Países Baixos. Nele há cerca de 3.148 cartas, incluindo 577 que nunca foram abertas. Por enquanto, os pesquisadores conseguiram decodificar parcial ou totalmente quatro cartas misteriosas escritas entre 1680 e 1706. 

A carta que teve seu conteúdo revelado na íntegra foi escrita em 31 de julho de 1697. Ela foi escrita por um homem chamado Jacques Sennacques, que pedia a certidão de óbito oficial de um parente ao seu primo Pierre Le Pers, morador de Haia. Depois da solicitação, Sennacques segue o texto com algumas convenções, perguntando, por exemplo, por notícias da família. Não se sabe explicar o porquê da mensagem nunca ter sido entregue ao destinatário, mas os pesquisadores sugerem que Le Pers, que era comerciante, pode ter partido da cidade antes de receber a carta. 

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A técnica aplicada pelos cientistas do MIT funciona assim: primeiro, os pesquisadores utilizam uma máquina de raio-X avançada capaz de revelar a configuração interna da carta. Como você deve estar imaginando, as letras surgem todas misturadas, já que o documento está todo dobrado. Para resolver o problema, a imagem é submetida a um algoritmo, que resolve o quebra-cabeça e torna nítido o conteúdo do documento. 

Técnicas semelhantes já haviam sido aplicadas em documentos históricos com uma ou duas dobras, mas nunca em dobraduras tão complexas como as das cartas encontradas na Coleção Brienne. Agora, historiadores poderão utilizar o método para revelar uma série de documentos espalhados por arquivos do mundo inteiro, trazendo novas informações sobre a política, religião e até mesmo padrões migratórios do passado. 

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