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Quem foi Mary Jackson, a cientista negra cujo nome batizará a sede da Nasa

A trajetória da primeira mulher negra a ter se tornado engenheira da agência espacial americana.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 jun 2020, 03h45 - Publicado em 26 jun 2020, 20h35

Mary Jackson nasceu em Hampton, uma cidade no Estado da Virgínia, a 300 km de Washington, DC. Hampton é uma cidade de maioria negra (51% da população), e abriga uma instituição de ensino superior voltada à inclusão racial. É a Hampton University, fundada em 1868 por ativistas negros e brancos, logo após a Guerra Civil Americana, com a ideia de prover educação de primeira linha a quem tinha nascido como escravo. Uma das alunas ali foi Alberta Williams King, mãe de Martin Luther King, que estudou magistério lá no início do século 20.

Mary Jackson formou-se em 1942. Trabalhou por décadas como engenheira na Nasa. E agora, 80 anos depois, a agência espacial irá rebatizar sua sede, em Washington, com o nome dela. 

Não foi uma trajetória simples. Os EUA dos anos 1940 viviam num sistema de apartheid. Em boa parte dos Estados, brancos e negros não podiam estudar nas mesmas escolas, nem usar os mesmos banheiros, e o “casamento interracial” era crime. No mercado de trabalho, então, era como se a escravidão não tivesse terminado – uma ferida que ainda está longe de fechar, seja nos EUA, seja aqui.

Jackson formou-se em matemática e em física. Em 1942, sem encontrar oportunidades mais interessantes, aceitou um convite para dar aulas numa escola (exclusiva para negros), em outra cidade, ali perto. Um ano depois, voltou para Hampton. Virou recepcionista. Depois trabalhou como bibliotecária e secretária. Até que, em 1951, aos 30 anos, conseguiu um vaga na Nasa. Mais especificamente, no Langley Research Center, que fica em Hampton mesmo. 

Ela foi trabalhar como “computadora”. Era uma época em que os cálculos de engenharia aeronáutica feitos por computador hoje eram realizados no braço, por mentes humanas. A Nasa preferia contratar mulheres para a tarefa. Na época em que Jackson entrou para a agência, havia outras 400 mulheres nesse ofício lá.

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Não que a Nasa fosse um oásis da inclusão. Jackson e suas colegas trabalhavam em uma área segregada, só com mulheres negras, a West Area Computing Section. 

Mesmo assim, ela conseguiu mostrar que tinha uma competência fora da curva. Dois anos depois de ter entrado, foi convidada para trabalhar com os engenheiros do túnel de vento de Langley – onde testavam fuselagens fuselagens de futuros aviões e foguetes sob ventos de até duas vezes a velocidade do som. Engenharia para valer.

Para se tornar uma engenheira efetiva ali, Jackson tinha de fazer certos cursos complementares à noite. Precisou de uma autorização especial para frequentar aulas com colegas brancos.    

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E em 1958 ela se tornaria a primeira mulher negra com um cargo de engenheira na Nasa. Passou as duas décadas seguintes desenvolvendo estudos sobre aerodinâmica de foguetes. 

Nesse meio tempo, o apartheid oficial deixou de existir. Não que tenha sido um processo rápido: os casamentos entre negros e brancos só deixou de ser crime em 1967.   

Em 1979, perto de completar 60 anos, Mary Jackson deixou a engenharia e passou a trabalhar para o Federal Women’s Program. Trata-se de uma iniciativa gavernamental que promove a inclusão de mulheres no mercado de trabalho, e que mantém um escritório na Nasa até hoje. Lá, Jackson passou a trabalhar para promover a ascensão profissional de outras mulheres negras. Aposentou-se em 1985. 

Mary Jackson, engenheira aeroespacial, morreu em 2005, aos 84 anos. Em 2017, teve parte de sua história contada no filme Estrelas Além do Tempo (2017), que fala sobre ela e suas colegas da West Area Computing Section. E agora seu nome fica eternizado na sede da Nasa, numa amostra de como o poder de superação de cada pessoa é capaz de mudar a história. 

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