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Quem foi Anna Jarvis, a mulher por trás do Dia das Mães

Ela queria criar um dia para honrar a própria mãe. Mas se arrependeu ao perceber que a celebração se tornaria uma data comercial.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 6 Maio 2022, 19h19 - Publicado em 6 Maio 2022, 18h12

Ann Reeves Jarvis teve 13 filhos, mas só quatro chegaram à idade adulta. No século 19, não era incomum que crianças e adolescentes perdessem a vida para doenças como tuberculose.

Em 1858, ela passou a se envolver em grupos de trabalho da igreja para combater a mortalidade infantil na comunidade onde morava, em Grafton, no estado de Virgínia Ocidental. O intuito desses grupos era ensinar às mães sobre higiene básica e saneamento, como a importância de ferver a água antes de beber. Eles ainda forneciam remédios e tratamento para famílias que estivessem doentes.

Ann Reeves tinha o desejo de criar uma data para honrar o trabalho das mães para a sociedade – mas morreu antes disso, em 9 de maio de 1905.

Anna Jarvis, uma das filhas de Ann Reeves, decidiu realizar o sonho dela e lutar pela criação de um “Dia da Mãe”. A ideia era que ele fosse no domingo, para que os filhos pudessem visitar e passar o dia ao lado de suas progenitoras. A opção pelo segundo domingo de maio foi óbvia: dessa fora, a celebração sempre cairia próxima ao dia da morte de Ann.

O primeiro Dia da Mãe ocorreu em 1908, na igreja metodista de Grafton onde Ann atuava. Na ocasião, Anna distribuiu cravos brancos, flor favorita da mãe, para as pessoas que compareceram. O intuito era que os filhos e filhas usassem as flores nesse dia em homenagem às próprias mães.

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A partir daí, Anna começou uma verdadeira campanha para disseminar a data, escrevendo cartas para políticos explicando os valores envolvidos na celebração. Em 1910, o Dia da Mãe virou feriado estadual de Virgínia Ocidental. Quatro anos depois, já tinha virado feriado nacional nos Estados Unidos.

Perceba que até agora usamos “Dia da Mãe” no singular. Por quê? Essa era a proposta inicial de Anna: a de que cada filho homenageasse sua mãe individualmente – o lema da data, inclusive, era “para a melhor mãe que já existiu: a sua mãe”.

Só que o feriado tomou rumos inesperados. Alguns dos responsáveis pelo sucesso do feriado foram a indústria de flores e doces, que viram uma oportunidade de lucrar com a data. O problema: Anna nunca imaginou que sua ideia se tornaria um dia comercial.

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Arrependimento e boicote

Anna Jarvis ficou furiosa com a comercialização do Dia da Mãe. Ela condenava os floristas que aumentavam o preço do cravo próximo à data – tanto é que, em 1920, ela pediu para que as pessoas não comprassem flores para a celebração. Ela descrevia os comerciantes como “charlatães, bandidos, piratas, mafiosos e sequestradores”, que haviam minado uma celebração nobre e verdadeira.

A indústria de cartões também não saiu ilesa. Para Anna, o Dia da Mãe perfeito seria visitar a mãe ou enviar uma longa carta – nada daquelas mensagens prontas. “Enviar um cartão pronto meloso e insincero só significa que você é muito preguiçoso para escrever para a mulher que fez mais por você do que qualquer outra pessoa no mundo”, ela escreveu. “Qualquer mãe preferiria uma linha do pior rabisco do seu filho do que um cartão chique.”

Segundo a historiadora Katharine Antolini, em entrevista à BBC, Anna condenava qualquer tipo de apropriação do Dia da Mãe que fosse diferente do significado que ela imaginou inicialmente. Para ela, até arrecadar dinheiro para mães pobres, como algumas instituições de caridade faziam, ia contra o ideal da data.

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“Era um dia para celebrar as mães, não de ter pena delas porque eram pobres”, contou Antolini ao jornal britânico. “Além disso, algumas instituições de caridade não estavam usando o dinheiro para mães pobres, como diziam.”

Anna chegou a reivindicar os direitos autorais da frase “Segundo domingo de maio, Dia da Mãe” (em inglês, Mother’s Day; países de língua inglesa ainda se referem à data no singular). Segundo Antolini, algumas indústrias usavam a grafia Dia das Mães (Mothers’ Day) para evitar implicações legais. Anna entrou com processos contra diversas empresas.

Quando já estava na velhice, a fundadora da data comemorativa organizou um abaixo-assinado e bateu de porta em porta pedindo o cancelamento do feriado. Essa foi uma de suas últimas aparições em público. Anna Jarvis morreu aos 84 anos, de insuficiência cardíaca. O Dia das Mães segue como um dos feriados mais lucrativos para o comércio.

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