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Política:a maldição do poder

PC Farias, Pedro Collor, Luís Eduardo Magalhães,Ulysses Guimarães, Celso Daniel... Um a um, o destino conspira para eliminar os figurões da política brasileira.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h27 - Publicado em 30 set 2005, 22h00

Maurício Oliveira

TEORIA – Querem acabar com os políticos

OBJETIVO – Alguém conspira para eliminar os que sabem demais

Basta um político morrer e pronto: está criada uma nova teoria da conspiração. Quando a morte ocorre em circunstâncias trágicas, como acidentes de carro, de avião ou violência urbana, aí é que a boataria corre solta. Dependendo da situação, nem mesmo causas naturais, como ataques cardíacos, deixam de ser objeto de especulações, por mais que ocorram aos milhares todos os dias. A recente história brasileira é recheada de episódios do gênero: Paulo César Farias, Pedro Collor, Luís Eduardo Magalhães, Ulysses Guimarães e Celso Daniel, para ficar só nos últimos 15 anos. A morte de cada um deles continua a despertar suspeitas, pelas mais diversas razões. Um sabia demais, outro pretendia denunciar esquemas de corrupção, e outro ainda foi vítima de vingança…

Um dos enredos mais conhecidos é o do “assassinato” de Luís Eduardo Magalhães, em 1998. O então presidente da Câmara dos Deputados, forte candidato para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 2002, teria sido vítima da disposição de desbaratar esquemas de corrupção quando chegasse ao poder. Ao menos essa é uma das versões que correram por Brasília à época e, vez ou outra, ressurgem nos corredores do poder.

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Como toda teoria da conspiração, essa também não se baseia em provas, apenas em indícios ou em meras ilações relatadas com muita convicção. O primeiro fator “incontestável” de que Luís Eduardo Magalhães foi eliminado é o fato de ele ter morrido no auge de sua carreira política, aos 43 anos, vítima de um infarto que parecia não combinar com seu estilo de vida saudável. Outro dado instigante para os conspirólogos é o dia da morte, 21 de abril – o mesmo de Tancredo Neves, coincidência suficiente para levar à conclusão de que ambos foram eliminados pelas mesmas pessoas e da mesma forma.

Já no caso de Ulysses Guimarães, o que suscitou comentários foi o fato de ele ter morrido em um acidente de helicóptero. O “Senhor Diretas”, um dos líderes da oposição ao governo militar e do processo de impeachment contra o presidente Fernando Collor, morreu em 1992, aos 76 anos, quando a aeronave em que viajava ao lado da mulher, Mora, caiu no mar próximo a Parati (RJ) durante uma tempestade. Concluiu-se que os cinco tripulantes morreram no acidente, embora o corpo de Ulysses jamais tenha sido encontrado. Investigações não chegaram a qualquer evidência de sabotagem no helicóptero, mas, para os mais desconfiados, sempre há uma explicação que passa pelo suborno e corrupção…

REPÚBLICA DAS ALAGOAS

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Todo o episódio em torno do impeachment de Fernando Collor está, a propósito, envolto em névoas misteriosas – embora, nesse caso, costume-se invocar mais o termo “maldição” do que propriamente conspiração. Vários personagens importantes do processo não viveram muito tempo. Naquele mesmo ano do impeachment, 1992, Ulysses morreu e a mãe de Collor, Leda, sofreu parada cardíaca, permanecendo em coma até a morte, em fevereiro de 1995.

Comenta-se que dona Leda adoeceu pelo desgosto não apenas de ver um dos filhos perdendo o cargo de presidente, envolvido em denúncias de corrupção, mas, principalmente, pelo fato de outro filho – Pedro, o caçula – ter denunciado o próprio irmão em uma entrevista-bomba à revista Veja, publicada em abril de 1992. Dois anos depois, espantosamente, era Pedro quem morria, vitimado aos 42 anos por um câncer no cérebro. Nesse mesmo ano morreu Elma Maria, a mulher de Paulo César Farias, o PC Farias, tesoureiro de Collor cujos métodos motivaram as denúncias que levaram ao impeachment. Elma, que havia declarado ter muito a contar sobre o período em que o marido permaneceu no centro das atenções do país, teve edema pulmonar como causa oficial da morte, aos 44 anos.

Em 23 de junho de 1996, a seqüência macabra se completou com o assassinato do próprio PC Farias, encontrado ao lado da namorada, Suzana Marcolino, ambos com tiros, na casa de praia de PC em Maceió. A versão oficial foi a de crime passional: Suzana não teria se conformado com a intenção de PC de romper o namoro e o teria matado, para tirar a própria vida em seguida. Muita gente, contudo, não se convenceu com essa versão (até porque PC não parecia ser um homem assim tão arrebatador). Há quem aposte todas as fichas na hipótese mais conspiratória de queima de arquivo.

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ERRO DE COMUNICAÇÃO?

O mais recente capítulo das conspirações no universo político brasileiro foi o assassinato do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, em janeiro de 2002. As primeiras investigações levaram a uma quadrilha que teria seqüestrado o prefeito de “improviso”, atraída pelo luxuoso carro em que ele estava, uma Pajero. Celso Daniel foi levado para o cativeiro, um sítio na região metropolitana de São Paulo. Quando os bandidos se deram conta de que haviam seqüestrado alguém importante, tiveram receio de uma ação policial ostensiva e resolveram se livrar do “problema”. O chefe do bando teria dito a seus comparsas para “dispensar” o seqüestrado. O jargão tem significado de “libertar”, mas um novato o teria interpretado como “eliminar”. E deu no que deu. Mas há quem aposte também na tese de que Celso Daniel foi eliminado porque tinha conhecimento de um suposto esquema de corrupção. O tempo dirá qual é a verdade. Ou não.

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Quem matou o presidente?

De JK a Tancredo, a história do Brasil registra mortes misteriosas que instigam o imaginário popular

O folclore político brasileiro acumula algumas histórias clássicas de conspiração. Basta lembrar de tudo o que já se falou, e se fala até hoje, sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976. Depois de ter os direitos políticos cassados pelo golpe militar de 1964, JK despontava como um nome quase imbatível para voltar ao poder. Até que aconteceu o estranho acidente automobilístico na Via Dutra, nas proximidades de Resende (RJ). A versão oficial é a de que o motorista Geraldo Ribeiro perdeu o controle do Opala ao ser atingido na traseira por um ônibus da Viação Cometa. O carro atravessou a pista e bateu de frente em uma carreta Scania que vinha em direção oposta. O ex-presidente e o motorista morreram na hora. Muita gente aposta que não apenas a morte de JK tenha sido provocada, mas também as de dois outros candidatos em potencial para a Presidência, ambos inimigos dos militares no poder: João Goulart, que já ocupara o cargo e fora deposto justamente pelo golpe militar, e Carlos Lacerda, um dos mais polêmicos políticos que o país já produziu. O incrível é que as mortes das três figuras do primeiro escalão da política brasileira ocorreram em um período de apenas nove meses. Exilado no Uruguai desde que fora deposto, João Goulart teve um ataque cardíaco fulminante em dezembro de 1976, quatro meses depois da morte de JK. Há quem acredite que Jango tenha sido envenenado para evitar que reaparecesse de surpresa no Brasil e causasse embaraço aos militares. Mais cinco meses e chegou a hora do ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda. Causa oficial de sua morte: infecção generalizada, da qual jamais se descobriu a origem. Há quem afirme com todas as letras, ainda, que a agonia de Tancredo Neves, acompanhada com grande comoção por um país ansioso pela volta ao regime democrático, foi causada por envenenamento, e não pela diverticulite que o fez ser internado às pressas horas antes da posse como presidente, marcada para 15 de março de 1985. Tancredo viria a morrer no dia 21 de abril. Seria uma conspiração do destino para que o bigode de José Sarney, o até então discreto vice-presidente eleito, fosse eternizado como símbolo de uma época?

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