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Pintura em caverna dos EUA indica que povos nativos usavam alucinógenos

O formato em cata-vento provavelmente representa uma flor do gênero Datura, conhecida por suas propriedades psicoativas e utilizada em rituais religiosos.

Por Bruno Carbinatto
24 nov 2020, 19h51

A Caverna Pinwheel, localizada no sul da Califórnia, Estados Unidos, tem um nome curioso: pinwheel significa cata-vento em inglês. A nomenclatura é referência a uma pintura de pigmentos de argila no topo da caverna em formato de cata-vento, feita pelos povos que habitavam a região antes da invasão americana. E, segundo um novo estudo, essa mesma figura indica que o local era usado por esses nativos para cerimônias religiosas em que se usava substâncias alucinógenas.

Pesquisadores americanos acreditam que o tal “cata-vento”, na verdade, seja uma representação da flor Datura wrightii, que pertence a um gênero de plantas conhecido por suas propriedades psicoativas e alucinógenas e utilizado por diversos povos em cerimônias místicas e religiosas ao longo da história. Algumas espécies podem apresentar flores em formato de cata-vento, especialmente quando o tempo está seco ou quando ainda estão desabrochando. Você pode ver um exemplo abaixo.

Pintura em caverna da Califórnia indica uso de alucinógenos
Datura stramonium (Wikimedia Commons/Reprodução)

Em escavações de 2007, pesquisadores já haviam encontrados restos de sementes e outras partes de plantas mastigadas enfiadas em frestas no topo da caverna, provavelmente pelos habitantes da região há muito séculos – o povo indígena Chumash. Mas, na época, não foi possível analisar o DNA das amostras para saber qual planta era aquela.

Agora, um novo estudo encontrou os indícios que faltavam: análises bioquímicas encontraram traços de escopolamina e atropina nos restos mastigados de planta, dois alcalóides alucinógenos encontradas em plantas do gênero Datura. Isso mostra que, de fato, a caverna era local de consumo de enteógenos – como são chamadas as substâncias que alteram a consciência do usuário e induzem a um estado de transcendência, muito comum em rituais religiosos ou místicos.

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Datações por radiocarbono indicam que as amostras dos restos de plantas mastigados têm mais de 400 anos, tornando essa a evidência mais antiga que se têm conhecimento de povos nativos americanos utilizando alucinógenos. O fato dos Chumash utilizarem plantas do gênero Datura em seus rituais não é exatamente uma novidade – relatos antropológicos e de missionários americanos na região já atestavam esse fato –, mas é a primeira vez que se prova a relação do hábito com as pinturas da região.

Anteriormente, pesquisadores suspeitavam que o cata-vento poderia ter sido pintado por um xamã (uma autoridade espiritual) solitário durante um episódio de alucinação por consumo da substância. Essa ideia, porém, é descartada pelos pesquisadores do novo estudo. Segundo eles, dificilmente alguma pessoa sob o efeito do alucinógeno conseguiria fazer a obra de arte; além disso, a ideia de que só as autoridades religiosas dos Chumash consumiam a planta é errada. As várias amostras de Datura mastigadas encontradas na caverna indicam que o local era utilizado para rituais religiosos pelo povo, e que a pintura foi feita por alguém sóbrio para marcar o local e ressaltar a importância da planta para o povo.

Os arqueólogos também encontraram pontas de projéteis – indicando que a caverna pode ter servido para além de fins religiosos, provavelmente para preparação de armas e ferramentas. Da mesma forma, sementes moídas e restos de animais sugerem que os nativos preparavam alimentos ali. Além disso, uma segunda pintura, próxima ao cata-vento, pode indicar uma espécie de mariposa (Hyles lineata) que é polinizadora das plantas Datura.

Vários outros povos indígenas pelo mundo, incluindo culturas da Sibéria, América do Norte, América do Sul e sudeste asiático, são conhecidos por tomarem substâncias que alteram o estado de consciência. No entanto, encontrar provas tão concretas desses rituais como sementes mastigadas é algo raro – o que torna o estudo especial, segundo os seus autores.

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