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Olympio Mourão Filho: Um general bem trapalhão

Mourão se considerava democrata. Mas foi o estopim do Golpe de 64

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 nov 2016, 16h22 - Publicado em 31 mar 2004, 22h00

Imagine um daqueles personagens de cinema que tentam fazer tudo certinho, mas metem os pés pelas mãos. Acrescente um leve sotaque mineiro e a imortal esperança por um Brasil melhor. Enfeite com um capacete de general, um cachimbo e um pijama vermelho. O resultado será um herói torto, que se considerava democrata mas desencadeou duas sangrentas ditaduras, um dos homens mais bem intencionados, porém desastrosos, da história do Brasil: o general Olympio Mourão Filho (1900-1972).

Mourão amava a democracia. Em São Paulo, participava de reuniões políticas em frente à praça da Sé só para ouvir a voz do povo. Passava madrugadas anotando em seu diário os direitos que todo governo deveria promover. Aliás, foi por amor à democracia – ele temia que o presidente João Goulart desse origem a uma ditadura de esquerda com um autogolpe de Estado –, que Mourão decidiu que evitaria a “escravização do Brasil”. No começo de 1964, todas as frentes políticas namoravam o golpe, mas ninguém queria iniciá-lo. O general Mourão, chefe da 4a Região Militar em Minas Gerais, resolveu o problema – até porque no dia 9 de maio ele se aposentaria.

Na manhã do dia 31 de março, assim como no filme Doutor Fantástico, de Stanley Kubrick – história lançada justamente em 1964 sobre um general americano que joga bombas nucleares na União Soviética e acaba desencadeando o fim do mundo –, Mourão disparou telefonemas para todo o Brasil, dizendo: “Minhas tropas estão na rua!”

“Eu estava de pijama e roupão vermelho. Posso dizer com orgulho de originalidade: creio ter sido o único homem no mundo (pelo menos, no Brasil) que desencadeou uma revolução de pijama”, escreveu Mourão no diário. Suas ações atingiram de surpresa a cúpula militar. O próprio Castello Branco, futuro presidente, daria três telefonemas para que alguém tentasse dissuadir o general . Ou seja: não fosse a pressa do quase aposentado Mourão, o golpe poderia nem ter ocorrido.

Para derrubar o presidente, o general planejou a “Operação Popeye”, em referência ao seu inseparável cachimbo. Com uma pequena tropa, tomaria de assalto o Ministério da Guerra, derrubaria o presidente e anunciaria novas eleições. Ele teve sucesso – mas apenas nas duas primeira ações. A terceira – a convocação das eleições diretas – teria que esperar 35 anos. Ele passaria o resto da vida reclamando da falta de democracia.

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Mourão foi uma espécie de Forrest Gump brasileiro. Participou, sem fazer grande diferença, dos principais eventos militares do século 20. Lutou contra a Revolução Constitucionalista de 32 e, quando o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial, lá estava ele, em combate.

O episódio do pijama foi a segunda vez em que Mourão, sem querer, desencadeou uma ditadura. Em 1937, quando era do Serviço Secreto da Ação Integralista e aluno do curso do Estado-Maior, recebeu a tarefa de simular uma revolta comunista no Brasil. De tão bem feito, o Plano Cohen acabou passando por um esquema comunista verdadeiro, servindo de mote para Getúlio Vargas fechar o Congresso e implantar o Estado Novo. Mourão lutaria décadas para limpar a mancha pela autoria do embuste.

Em 1964, conseguiu, à custa de uma mancha ainda maior. Vale registrar sua autodefinição, dita a um jornal um mês depois do golpe: “Em matéria de política, não entendo nada. Sou uma vaca fardada”.

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