Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Oficina de agulhas de 4 mil anos mostra os primórdios da produção industrial na China

Quase 19 mil instrumentos de ossos foram encontrados no local, o primeiro dedicado à manufatura especializada e em grande escala do país.

Por Bruno Carbinatto
10 ago 2024, 18h00

Arqueólogos descobriram na China um local que servia como uma espécie de “oficina” para a produção de agulhas há quatro mil anos. Mais de 18 mil itens foram encontrados na escavação, revelando detalhes sobre os primórdios de uma produção especializada e em larga escala, uma  espécie de prelúdio ao modelo industrial que se desenvolveu no país nos séculos posteriores.

A construção faz parte do sítio arqueológico de Shimao, no interior do país, que data de 2.000 a.C – justamente na transição entre o período Neolítico para a Idade do Bronze na China. O local, um dos mais antigas proto-cidades de pedra da China, foi escavado pela primeira vez em 2016 e vem sendo estudado desde então. Shimao era importante porque era uma espécie de centro urbano primitivo, bem na zona de contato entre os povos agropastoris do Planalto de Loess e os povos pastores-caçadores do Planalto Mongol.

No centro de Shimao está uma região conhecida como “monte do terraço real”, localizada em cima de uma colina natural e com paredes de pedra ao seu redor. Nessa região ficavam casas de pessoas da elite, templos, esculturas de pedras e gravuras em pedras. E, agora, sabemos que uma oficina de agulhas também existia por lá.

Quase 19 mil instrumentos feitos de pedaços de ossos foram encontrados, incluindo artefatos completos e outros ainda não finalizados. Desses, a enorme maioria – mais de 16 mil – eram agulhas de osso. Outros instrumentos incluíam coisas como pontas de flechas, colheres e objetos perfurantes.

A maioria desses itens era feita de ossos vindos de caprinos – grupo que inclui ovelhas e cabras, que eram abundantes naquela região. Por terem ossos longos e retinhos, esses bichos eram ideais para as ferramentas. Antes disso, é claro, os animais serviam como comida daquele povo, e possivelmente usados também em sacrifícios de rituais religiosos. Ou seja, eram aproveitados por completo.

Continua após a publicidade

Os pesquisadores acreditam que as agulhas eram utilizadas para a produção de vestimentas. Não havia um padrão específico de tamanho ou formato das ferramentas, o que, segundo a equipe, indica que elas podiam ser aplicadas em etapas diferentes da confecção de roupas, e/ou para tecidos e materiais distintos (como seda ou couro).

A prática de fabricar agulhas feitas de osso ou de pedra é bem mais antiga – as mais velhas já identificadas têm 9 mil anos e foram encontradas no Tibete, também na China. Mas, no Neolítico, essa produção era feita em pequena escala, conforme a necessidade, e não havia locais onde se concentrava todo o trabalho (como oficinas).

Já na Idade do Bronze, que começa por volta de 2 mil a.C na China, sabe-se que várias cidades asiáticas já tinham uma economia mais complexa, envolvendo a produção em grande escala de produtos e o comércio deles, incluindo em sítios arqueológicos como os de Zhengzhou, Anyang e Zhouyuan.

A peça que ficava faltando nessa história era justamente o ponto de virada: quando os chineses começaram essa produção em grande escala? E a nova oficina descoberta traz exatamente essa resposta, já que data justamente da transição entre o Neolítico e a Idade do Bronze, e é o mais antigo local de produção em massa de objetos de osso já encontrado no país asiático.

Continua após a publicidade

Prova disso é que Shimao possui características de ambas as eras. No Neolítico, as ferramentas eram produzidas com ossos de vários animais diferentes e não possuíam um padrão específico. Na Idade do Bronze, as agulhas costumavam ter um tamanho e formato padronizados e eram feitas a partir de uma mesma espécie animal. Na oficina descoberta, não havia um modelo, mas a matéria prima vinha de um só grupo de bicho (ovelhas e cabras).

Além da idade, o sítio arqueológico também impressiona pela grande quantidade de artefatos, indicando que a labuta ali concentrada era intensa. Provavelmente, muitos artesãos em tempo integral trabalhavam na oficina.

O fato de que a oficina ficava na região central, conhecida como “terraço real”, também intrigou cientistas. Esse local, no topo de um monte, era relacionado à elite da proto-cidade e à religião, com templos e pinturas ancestrais indicando possíveis rituais. Além disso, é possível que um palácio da nobreza também existisse por lá.

“Acredito que Shimao era um centro de peregrinação”, opina Li Min, arqueólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles e um dos autores do estudo. “As vestes de seda, cânhamo e pele de carneiro produzidas no monte central eram provavelmente trajes xamânicos, adornados com conchas, botões de turquesa e pequenos acessórios de cobre.” 

Continua após a publicidade

O estudo descrevendo a descoberta foi publicado no Journal of Anthropological Archaeology

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.