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Meninas também são vítimas de padres pedófilos

Como apenas os casos envolvendo garotos viram notícia, tem-se a falsa impressão de que só meninos são abusados sexualmente

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 6 abr 2012, 22h00

Texto Eduardo Szklarz

Para a americana Ann Jyono, o padre Oliver O’Grady era quase da família. Ele havia imigrado da Irlanda para os EUA do mesmo jeito que a mãe dela, e por isso seu sotaque a fazia se sentir segura. Os pais de Ann confiavam tanto em O’Grady que, às vezes, cediam-lhe um quarto para passar a noite. Só não sabiam que o religioso abusava sexualmente da menina. Os abusos começaram em 1976, quando ela tinha 5 anos, e continuaram até 1983. Com medo da reação do pai, Ann só revelou que era abusada no início dos anos 90, quando os jornais começaram a estampar várias denúncias contra o padre.

Segundo o documentário Deliver Us From Evil (“Livrai-nos do Mal”), dirigido pela jornalista americana Amy Berg e indicado ao Oscar de 2007, as autoridades da Igreja sabiam dos crimes, mas fizeram de tudo para acobertar O’Grady. À medida que surgiam novas denúncias, um superior hierárquico do padre – bispo Roger Mahoney – o transferia para outras paróquias da Califórnia. Primeiro, ele foi enviado a Stockton. Depois, para Turlock, San Andreas e Hughson. Abusou de crianças em todas essas cidades. Até que, em 1993, acabou condenado a 14 anos de cadeia por molestar dois irmãos, John e James Howard. O’Grady cumpriu metade da pena e foi deportado para a Irlanda em 2000. Desde então, vive em liberdade – e seu paradeiro é desconhecido.

A terrível história de Ann Jyono revela que meninas também são vítimas de padres pedófilos. A diferença é que elas costumam guardar segredo. Como apenas os casos envolvendo garotos acabam virando notícia, cria-se a falsa sensação de que só meninos são abusados. Mas alguns números demonstram o contrário. Nos EUA, por exemplo, meninas e mulheres adultas correspondem a metade de todas as vítimas que se tornam membros da Snap – sigla em inglês para Rede de Sobreviventes de Abusos por Padres. O psicólogo e ex-sacerdote americano Richard Sipe, especialista em abusos do clero, estima que a chance de um menino cair nas garras de um padre pedófilo é duas vezes maior que a de uma menina até o final da adolescência. Daí em diante, a situação se inverte: as mulheres passam a ser 4 vezes mais abusadas que os homens.

Ainda segundo o documentário da jornalista Amy Berg, as autoridades da Igreja sempre agem de forma a coibir que garotas abusadas sexualmente digam a verdade sobre o ocorrido. Foi assim com Nancy Sloan, outra vítima de O’Grady entrevistada por Amy. Em 1986, depois de muitas tentativas, Nancy finalmente conseguiu uma audiência com o monsenhor Cain, da Califórnia. Perguntou por que ele não impediu que o padre a molestasse nos anos anteriores. A resposta do monsenhor, segundo Nancy, teria sido a seguinte: “Sabíamos dos abusos, mas você é uma menina, foi uma curiosidade normal [de O’Grady]. Se você fosse um menino, aí, sim, pensaríamos que algo estava errado.”

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A Igreja parece considerar, portanto, que o verdadeiro problema não são os padres pedófilos, mas a homossexualidade. “Muitos psicólogos e psiquiatras já demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas que há entre homossexualidade e pedofilia”, declarou em abril de 2010, no Chile, o cardeal Tarcisio Bertone – secretário de Estado do Vaticano e segundo homem na hierarquia da Igreja. A reação foi imediata e furiosa. “Nem Bertone nem o Vaticano têm autoridade moral para dar lições de sexualidade”, disse Rolando Jimenez, presidente do Movimento de Integração e Libertação Homossexual chileno, à agência de notícias Associated Press. “Fazer essa conexão [entre homossexualidade e pedofilia] é uma estratégia perversa de quem quer se esquivar das responsabilidades”.

 

FREIRAS NA MIRA

Em março de 2001, o Vaticano admitiu que freiras também têm sido molestadas por padres em pelo menos 23 países. A maioria dos crimes ocorre na África, onde padres que antes buscavam prostitutas agora abusam de freiras para evitar contrair aids. A Santa Sé reconheceu o problema depois de uma investigação publicada pela revista National Catholic Reporter, dos EUA. Segundo o semanário, sacerdotes se aproveitam da posição financeira e espiritual para obter favores de freiras de países pobres – onde a cultura de subserviência aos homens é mais forte.

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Crimes e castigos
A Igreja paga indenizações, mas poucos padres são presos


De 1950 para cá, os abusos sexuais já custaram à Igreja mais de 1 bilhão de dólares em acordos legais e gastos com a Justiça.

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Nos EUA, as vítimas de abusos cometidos por integrantes do clero são mais de 100 mil vítimas. Os especialistas calculam, porém, que pelo menos 80% das crianças abusadas nunca revelam o ocorrido.

Apenas 2% dos padres pedófilos são presos. Com frequência, eles retornam às posições que ocupavam antes de serem acusados.

Fontes: Rede de Sobreviventes de Abusos por Padres (Snap), Amy Berg e National Catholic Reporter.

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