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Islamismo – Alá, infinito e eterno

Ele não nasceu, não envelhece e não morrerá, dizem os islâmicos. É inútil tentar entendê-lo. Deve-se apenas aceitá-lo

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Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00
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    Texto Michelle Veronese

    Foi em uma caverna no monte Hira, perto de Meca, na Arábia, que Maomé teve a primeira de várias revelações que mudariam sua vida. Ele havia se isolado naquele lugar para meditar. Mas um anjo chamado Gabriel apareceu, ordenando que o homem recitasse uma mensagem divina. “Não me acho digno de tal tarefa”, ouviu como resposta. Mas o mensageiro insistiu. Maomé, enfim, acabou por ebedecê-lo, repetindo em voz alta as palavras de Deus – ou melhor, de Alá – transmitidas pelo anjo. A revelação continuou em outras ocasiões, durante aproximadamente 23 anos. Até a morte de Maomé, em 632. Cada palavra revelada a ele nesse período, mais tarde, seria devidamente registrada em um livro: o Alcorão.

    As Escrituras do islã são um conjunto de ensinamentos, orações, reflexões e regras de Deus para os homens. Tudo isso foi dividido em 114 suratas, como são chamados os capítulos que compõem o livro sagrado. Com base nessa mensagem, Maomé passou a pregar em Meca e a combater o culto a várias divindades, muito comum na época em que viveu. Foi assim que ele fundou a3ª religião monoteísta da história, o islamismo. Os muçulmanos – como são chamados os seguidores dessa fé – defendem a crença em um único Deus, benevolente e misericordioso. E acreditam que Maomé, um exmplo para a humanidade, foi seu último profeta.

    RELÓGIO E RELOJOEIRO

    A linguagem humana, segundo os islâmicos, é considerada restrita demais para descrever o Todo-Poderoso. O cérebro, embora dotado de inteligência, jamais seria capaz de entendê-Lo. Os sentidos também de nada servem, já que olhos e ouvidos não conseguem percebê-Lo. “Somos limitados e não podemos explicá-Lo tomando a nós mesmos como referência”, diz o xeque Jihad Hassan, vice-presidente da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina. Os fiéis, contudo, não se preocupam – ou pelo menos não deveriam se preocupar – com explicações. Acreditam que podem descobrir o que realmente interessa sobre Alá observando a natureza (sua criação) e lendo as Escrituras Sagradas (sua revelação).

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    “Pense na história do relógio e do relojoeiro, ou na do barco e do barqueiro”, convida Hassan. Se há um relógio ou um barco, continua o xeque, há um exímio artesão por trás do invento – o Criador. Para entender seu talento, basta estudar sua obra. Simples assim também é o caminho para quem deseja enxergar os sinais da existência de Deus. Árvores, animais, nuvens, montanhas… O dia que sucede a noite, o ritmo das estações… A complexidade do corpo humano… Para os muçulmanos, essas são apenas algumas das infinitas provas de que há um Todo-Poderoso e de que Ele é perfeito. “O maior sinal de fé é acreditar na existência Dele sem nunca precisar vê-Lo, apenas observando seus sinais.”


    UMA SÓ VERDADE

    O outro caminho para aprender sobre Deus requer a leitura do Alcorão. É ali que Ele, entre um ensinamento e outro, apresenta Suas principais características. O livro diz que Alá é infinito. “Isso significa que não tem começo nem fim, não é sujeito ao tempo, não nasceu, não envelhece nem morrerá”, diz o xeque Muhammad Ragip, que coordena a Ordem Sufi Halveti Jerrahi no Brasil, um ramo mais místico do islamismo. Segundo Ragip, Alá também é justo e misericordioso, portador de uma mensagem à prova de falhas ou contradições. “Sua capacidade de perdoar é infinita para aqueles que vivem em harmonia com as leis divinas. E Sua bondade é superlativa, pois se estende a todos os seres humanos.”

    Nenhuma passagem do Alcorão, entretanto, apresenta Alá como um Deus triuno (3 pessoas e 1 unidade, como no cristianismo) ou como um guerreiro que luta por seu povo nas frentes de batalha (a exemplo da Bíblia Hebraica). Mesmo assim, os muçulmanos acreditam que o Deus das 3 tradições monoteístas é um só – e revelou a mesma mensagem, tratando apenas de atualizá-la em cada época. “Costumamos dizer que não são 3 religiões, mas diferentes denominações de uma só verdade”, afirma Jihad Hassan. O islamismo reconhece vários personagens bíblicos como profetas, entre eles Jesus, Moisés, Noé e Abraão. Mas a mensagem divina, segundo a tradição islâmica, só foi revelada de forma completa com Maomé e por meio do Alcorão.

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    No livro sagrado do islã, o patriarca Abraão é mostrado como um dos primeiros homens a defender a fé em um Deus único. A surata 21 conta que ele chegou a destruir imagens das várias divindades adoradas pelo povo. Mais tarde, Deus recompensou-o por sua devoção, conduzindo-o à Terra Prometida. Noé, que viveu anos antes de Abraão, também provou sua fé. Em obediência a Alá, construiu uma arca gigantesca para salvar do dilúvio sua família e várias espécies de animais. E Jesus, embora não seja considerado um Messias ou um Deus encarnado, aparece no Alcorão como um homem de conduta exemplar e escolhido para transmitir as mensagens divinas. “Todos esses personagens são vistos como professores, que vieram ao mundo anunciar a verdade sobre Deus”, diz Hassan. Maomé é um deles – o último e mais exemplar de todos.

    Não foi à toa que Alá escolheu Maomé para revelar Sua mensagem. O profeta do islã era considerado um homem sério, justo, trabalhador. Sua conduta sempre foi tida como exemplar e sua fé como inabalável. Por isso, tornou-se uma referência para os muçulmanos. Tanto os ensinamentos do Alcorão quanto o exemplo de Maomé deixam claro o que Deus deseja para a humanidade. “Ele criou o seres humanos para servi-Lo”, diz Muhammad Ragip. E há inúmeras maneiras de cumprir essa missão, completa o xeque. “É possível servir a Deus, por exemplo, realizando o conhecimento do divino em si mesmo, buscando o crescimento interior na relação com Ele.”


    ÉTICA RELIGIOSA

    O Alcorão também reúne ensinamentos éticos: não matar, não roubar, buscar a justiça e a sabedoria… Até cuidar do próprio corpo, consumindo alimentos saudáveis e renunciando aos vícios. E ainda contém os chamados 5 pilares do islã – deveres básicos de todo muçulmano. O primeiro é testemunhar que não há outro Deus senão Alá e que Maomé é Seu profeta. Os demais são: fazer 5 orações diárias em horários específicos; jejuar no ramadã (o 9º mês do calendário lunar muçulmano); dar esmola aos pobres (uma prática chamada zakat, ou purificação); e fazer a peregrinação até Meca pelo menos uma vez na vida. Os sufis, que representam a ala mística do islamismo, também seguem essas regras, mas almejam um contato “mais íntimo” com Deus. “Com devoções, práticas meditativas e espirituais, buscamos entrar em contato com Ele, mergulhando no universo superior, no significado mais profundo da existência”, diz o sufi Ragip.

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    Seguir os ensinamentos divinos tal como foram ensinados, no entanto, é algo que cabe unicamente aos fiéis. De acordo com a tradição, Alá deu aos homens o livre-arbítrio e as orientações para que cada um faça a escolha certa. “O mundo é um lugar de testes, por isso há o bem e o mal, ambos criados por Ele”, afirma Jihad Hassan. Mas o devoto nunca está sozinho em sua jornada. Ele tem o livro sagrado, o exemplo do profeta e a orientação dos líderes religiosos. Sem contar a oração, é claro. “Quando oramos, falamos com Deus”, diz Hassan. “E quando lemos o Alcorão, Ele fala conosco.”

     

     

    O paraíso islâmico
    Lugar de recompensas, onde não há dor nem doenças, muito menos necessidades

    Assim como cristãos e judeus, os muçulmanos acreditam que, no futuro, todos os seres humanos serão julgados por Deus. Depois de avaliar a conduta em vida de cada um, Ele determinará quem vai para o paraíso e a quem caberá o inferno. O primeiro – um lugar maravilhoso, onde não há necessidades, dor ou doença – está reservado aos bons e fiéis. “É um lugar de recompensas, e cada um terá aquela que quiser”, diz o xeque Jihad Hassan, vice-presidente da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina.

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    Para saber mais

    • As Religiões do Mundo
    Huston Smith, Cultrix, 2001.

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