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Homens ao mar

Depois que os alemães afundaram 4 navios mercantes brasileiros, saímos pelo Atlântico caçando submarinos. Mas perdemos a guerra para o vírus da gripe espanhola

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 30 abr 2008, 22h00

Texto Gabriel Mitani

O calendário pulava de 1916 para 1917, e a 1a Guerra Mundial já tinha se transformado numa carnificina sem igual. Mas o Brasil seguia assistindo à tragédia de camarote, relativamente confortável na posição de país neutro, distante das principais frentes de batalha. Não demoraria, porém, até que o governo brasileiro fosse arrastado para o conflito. Em abril daquele ano, um submarino alemão torpedeou o navio mercante Paraná, quando ele começava a se aproximar do porto francês de Le Havre carregado com sacas de café. Três tripulantes morreram. E o Brasil rompeu relações com a Alemanha.

A séria crise diplomática não inibiu novas investidas de U-boats contra embarcações brasileiras. No mês seguinte, as vítimas foram os cargueiros Tijuca e Lapa. Até que a maré virou de vez quando o vapor Macau foi torpedeado na costa da Espanha e seu comandante acabou sendo feito prisioneiro (leia mais na página ao lado). Três dias mais tarde, 26 de outubro de 1917, o presidente do Brasil, Wenceslau Braz, decidiu declarar guerra à Alemanha.

Torpedear navios mercantes com destino à Grã-Bretanha ou à França era o “passatempo” predileto dos submarinos alemães àquela altura do conflito. A Alemanha queria isolar seus inimigos do resto do mundo, privando-os das linhas de abastecimento que cruzavam o Atlântico. Comida, combustíveis, matérias-primas, medicamentos, armas… Tudo isso seguia das Américas para a Europa em cargueiros inofensivos, tripulados por civis que nada tinham a ver com a guerra.

Por aqui, os ataques a navios de bandeira brasileira foram vistos como agressões gratuitas e covardes. A opinião pública rapidamente passou a defender a entrada do país na 1a Guerra Mundial como uma questão de honra. Mas, por trás dessa irresistível onda patriótica, escondiam-se interesses políticos e econômicos.

Naquele mesmo ano de 1917, os EUA também haviam abandonado sua posição de neutralidade, embarcando na guerra ao lado de franceses e britânicos. E o Brasil, que dependia da exportação de café e da importação de manufaturas, tinha o maior interesse em estreitar relações comerciais com os americanos. “Era muito grande a pressão exercida pela elite, representada por cafeicultores, grandes comerciantes e pela imprensa”, diz Vagner Camilo, professor de ciências políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Todos queriam se alinhar à política dos EUA, que prometiam se transformar no maior mercado consumidor do mundo.” Declarar guerra à Alemanha até que foi fácil, uma simples canetada. Difícil era encarar o inimigo de igual para igual. “O Brasil não tinha condições econômicas e militares para se envolver intensamente no conflito”, afirma Salvador Raz-za, professor de assuntos de segurança nacional da National Defense University, em Washington, nos EUA.

Além do envio de uma missão médica e de um contingente de oficiais aviadores para a Europa, foi criada a Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), uma esquadra composta de 3 cruzadores, 3 contratorpedeiros, 1 navio auxiliar e 1 rebocador. Sua missão: patrulhar o Atlântico. No dia 1o de agosto de 1918, a força-tarefa partiu de Fernando de Noronha com destino a Gibraltar, na Espanha. No caminho, varreria o oceano em busca de submarinos inimigos. Mas tudo deu errado para os marinheiros brasileiros. Numa escala para reabastecimento em Dacar, então capital da África Ocidental Francesa, boa parte dos 2 mil homens já estava fora de combate – não por causa de um ataque alemão, mas devido a um surto de gripe espanhola que matou 464 tripulantes.

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O mais perto que a força-tarefa chegou de um U-boat foi na noite de 25 para 26 de agosto, pouco antes da chegada a Dacar. Torpedos inimigos passaram bem no meio da esquadra brasileira, sem atingir nenhuma das embarcações. Bombas de profundidade foram imediatamente lançadas contra o submarino agressor, avistado enquanto ainda tentava submergir. Sua destruição, no entanto, jamais foi confirmada. Em 10 de novembro de 1918, a DNOG finalmente aportou em Gibraltar – um dia antes da assinatura do armistício que pôs fim à 1a Guerra Mundial.

Tiro ao alvo

Cinco cargueiros de bandeira brasileira foram levados a pique em 1917
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PARANÁ

Ataque: 3 de abril de 1917.

Onde: canal da Mancha, a proximadamente 10 milhas da cidade de Barfleur, na França.

Agressor: submarino alemão não identificado.

TIJUCA

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Ataque: 20 de maio de 1917.

Onde: oceano Atlântico, a 5 milhas de Brest, França.

Agressor: submarino alemão não identificado.

LAPA

Ataque: 22 de maio de 1917.

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Onde: oceano Atlântico, a aproximadamente 140 milhas da cidade de Trafalgar, na Espanha.

Agressor: submarino alemão não identificado.

MACAU

Ataque: 23 de outubro de 1917.

Onde: oceano Atlântico, a aproximadamente 200 milhas de cabo Finisterra, na Espanha.

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Agressor: submarino alemão U-93.

GUAHYBA

Ataque: 4 de novembro de 1917.

Onde: na saída do Porto de São Vicente, arquipélago de Cabo Verde.

Agressor: submarino alemão U-151.

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