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Dianética e o poder da mente

Ciência, psicologia e pitadas de ficção científica são os ingredientes básicos de Dianética, livro fundador da cientologia

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 30 jun 2008, 22h00

Texto Nina Weingrill

Você já deve ter ouvido falar da cientologia, religião de Tom Cruise, John Travolta e outras celebridades de Hollywood. Nascida em 1954, nos EUA, ela promete acabar com os problemas do mundo ajudando as pessoas a se livrarem de seus traumas. A doutrina tem influências de outras religiões, como o hinduísmo e o budismo, e de ciências humanas, como a psicologia. Mas o livro que fundou toda essa história foi uma obra de auto-ajuda chamada Dianética – A Ciência Moderna da Saúde Mental.

O misto de filosofia com psicologia nasceu da cabeça de Lafayette Ronald Hubbard, um escritor de ficção com centenas de livros publicados nos anos 30 e 40. Apesar de ser um autor razoavelmente conhecido, especialmente por seus títulos de ficção científica, Hubbard não tinha retorno financeiro com seus livros, que custavam apenas alguns centavos. Então, depois de servir como oficial da Marinha americana na 2ª Guerra Mundial, ele decidiu escrever um livro diferente de tudo que tinha feito até o momento.

Dianética chega às livrarias em 1950 com a teoria central de que a fonte das doenças mentais e físicas são cicatrizes chamadas de “engramas”. Elas se fixam no subconsciente das pessoas, a “mente reativa”, e viram obstáculos para uma vida plena. Para se livrar desses traumas e aproveitar 100% da sua capacidade, as pessoas devem passar por audições, espécie de terapia regressiva, para se tornarem “limpas” – seres iluminados.

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O livro logo entrou na lista de best sellers do jornal The New York Times e acumula 20 milhões de cópias vendidas desde o lançamento. Famoso, Hubbard começou uma luta contra a psicologia e o uso de remédios para doenças mentais que, na sua opinião, eram psicossomáticas. A Associação Americana de Psicologia reagiu afirmando que o livro não tinha fundamento científico, o que derrubou as vendas. Hubbard realizou mais um ajuste de trajetória, e fez da Dianética o livro-guia da cientologia, religião da qual seria profeta e fundador.

Em 1954 ele começou a peregrinar por universidades e centros comunitários, ministrando palestras sobre a nova doutrina e reunindo seus primeiros seguidores. O movimento logo abriria igrejas na Inglaterra, Austrália e naNova Zelândia – além dos EUA. Para os seguidores se tornarem “limpos”, devem seguir as terapias, até hoje o principal ritual da cientologia, que as oferece na forma de cursos pagos. E bem pagos: custam entre US$ 750 e US$ 8 mil. Dependendo dos problemas que tem, o fiel pode demorar para chegar à iluminação, ou não alcançá-la nunca.

Àqueles que chegarem lá, todos os segredos da Igreja serão revelados – inclusive sua teoria da criação do homem. “Hubbard achou que seria importante ter uma história de como tudo começou, assim como acontece em outras religiões”, afirma Stephen Kent, professor de sociologia da Universidade de Alberta, no Canadá. A sensação de que algo na vida está errado e precisa ser consertado é o que move toda religião, e na de Hubbard isso não poderia faltar.

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Durante décadas, o mito da criação foi mantido em segredo, sendo revelado apenas aos fiéis mais graduados. Só que alguns deles resolveram falar, e o mito se tornou público em 1995. Há 75 milhões de anos, vários planetas se reuniram numa “confederação das galáxias”, governada por um líder do mal chamado Xenu. Como os planetas estavam com problemas de superpopulação, Xenu mandou bilhões de seus habitantes para a Terra, onde foram mortos com bombas de hidrogênio. Seus espíritos – chamados de “thetans” – continuaram por aqui, reencarnando justamente em nós, seres humanos.

A história incrível, digna da carreira de ficção científica de Hubbard, não atrapalhou a difusão da religião, que desde o princípio buscou fiéis entre as celebridades, que a colocam nas manchetes dos tablóides. Uma de suas estratégias pioneiras de promoção foi o Projeto Celebridade, lançado em 1955 para estimular a adesão de famosos do cinema, do esporte e da política com descontos no preço dos cursos. Uma vez cooptadas, as celebridades tornavam-se divulgadores espontâneos da Igreja, como é Tom Cruise hoje em dia.

A tática tem dado bastante certo, a julgar pelo meio milhão de adeptos que a religião contabiliza em 156 países, inclusive o Brasil. Mas, para Kent, esse não é o principal apelo da religião. “A fórmula do sucesso deles é a adequação à necessidade de cada um. A cientologia promete às pessoas remover seus bloqueios e realizar um potencial que elas não conhecem. Se isso funciona por causa da religião ou não é um longo debate”, diz.

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