Coisas úteis que aprendemos com o Manual do Escoteiro Mirim
Em tempos pré-google, esse livro ensinava as crianças a atar nós, decifrar código morse, identificar pegadas, entender as regras do futebol e até a preparar um bom coquetel de conhaque (hic).
 
							
Esta semana a Editora Abril (que publica a SUPER) está lançando seu clássico Manual do Escoteiro Mirim, da Disney, gerando frisson nas redes sociais entre os velhinhos, que passaram a infância acreditando que aquele livro quase mágico trazia todos os ensinamentos fundamentais para sobreviver neste mundão selvagem: de armar barracas a acender fogueiras, de consertar pneu usando uma folha de papel a contar até 10 como os antigos egípcios, babilônios e maias. O livro se vendia como uma espécie de google antes do google: o portador de todas as respostas. E, em 1971, ainda havia gente que acreditava que um livro pudesse ser tudo isso.


LEIA: Walt Disney tentou lavar nossos cérebros?
Antes de relançar o livro, o time da Abril Jovem teve que encontrá-lo: afinal, nos anos 1970, publicações ainda não eram feitas com computadores e a obra não existe em formato digital. A Abril possuia apenas um exemplar, que pertencia à coleção pessoal do dono da empresa, Roberto Civita, falecido em 2013, hoje está guardada a sete chaves na Memória Abril, o departamento que preserva todas as publicações da história da empresa. Fui visitar a Memória Abril para matar as saudades do velho Manual.

LEIA: Disney constroi robô que sobe pelas paredes.
O livro, antes de existir de verdade, surgiu na ficção: era presença constante nas historinhas dos Junior Woodchucks, criadas por Carl Barks nos anos 1950 nos EUA e traduzidas no Brasil com o título de “Os Escoteiros Mirins” (a Abril também está lançando uma coletânea das histórias clássicas dos personagens). Os três patos escoteiros, Huey, Dewey e Louie (por aqui Huguinho, Zezinho e Luizinho), abriam o livro fantástico sempre que estavam em apuros, fosse por causa de um ataque de urso, de um terremoto ou de um avião em queda sem paraquedas. A resposta para a aflição estava sempre no Manual. Em 1969, a editora italiana Mondadori lançou uma versão real do livro, Il Manuale delle Giovani Marmotte, que foi traduzida e adaptada para ser lançada no Brasil em 1971. Fez tanto sucesso que foi reeditada várias vezes, e depois ampliada em obras maiores como o Supermanual do Escoteiro-Mirim (que podia ser fechado a chave, o que complicava um pouco a vida em caso de ataque de urso ou avião em queda) e a Biblioteca do Escoteiro-Mirim, com 20 volumes.

LEIA: O brasileiro mais famoso da Disney.
O livro, de 250 páginas, traz pequenos textos nos quais os três patinhos e seu atrapalhado tio, Donald, dão dicas básicas de acampamento, sobrevivência na selva e outros conhecimentos práticos. O jovem leitor aprendia a identificar as constelações no céu, os símbolos nos escudos heráldicos, as placas de trânsito, o simbolismo da bandeira nacional e as regras do futebol. Algumas páginas são lindas:



LEIA: 11 desenhos da sua infância que não são da Disney.
Outras coisas ficaram datadas, claro. As lições de obediência, os patinhos batendo continência na capa e as páginas ensinando a compreender as patentes dos uniformes militares fazem lembrar que o livro foi lançado no auge da ditadura militar.

LEIA: De volta a 1964 – sua vida em tempos de ditadura.
Já as lições ensinando a tirar manchas usando água morna, sumo de limão, vinagre branco e sal de cozinha remetem a um passado em que, além de não haver Google, não havia Vanish. E as manchas não saíam.

LEIA: 6 vezes em que os desenhos da Disney esconderam imagens desconcertantes.
Mas o mais deliciosamente anacrônico dos textos é um que ensina a preparar o “coquetel dos escoteiros mirins”, um drinque feito de açúcar, pó para pudim, leite e… meio litro de conhaque. O único cuidado do texto é recomendar ao barman júnior que não beba enquanto prepara o coquetel – espere ao menos que ele fique pronto. Aqueles que não conseguirem resistir à tentação de encher a cara de conhaque antes da hora “não serão Escoteiros-Mirins cem por cento… hic!”, avisa o Manual. (Na nova versão, relançada em 2016, o conhaque foi substituído por leite de coco, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente.)

LEIA: Beber até morrer.
Encontrei também no velho Manual um guia para ajudar as crianças a escolherem suas profissões. Será que foi tudo culpa dele?

LEIA: Supermanual – como aumentar seu QI?
Hoje a maioria de nós carrega no bolso um smartphone, com respostas quase imediatas a qualquer pergunta imaginável. Ano retrasado, a Disney anunciou que não patrocinaria mais a Boy Scouts of America, organização que congrega todos os grupos de escoteiros dos EUA, por discordar de sua política oficial de proibir líderes gays. Os tempos são outros. E às vezes dá saudades.
LEIA TAMBÉM: Os truques matemáticos dos sobrinhos do Pato Donald.
 Golfinhos de Noronha têm linguagem própria. Conheça o significado das acrobacias
Golfinhos de Noronha têm linguagem própria. Conheça o significado das acrobacias Letterboxd do Papa: os filmes favoritos do cinéfilo Francisco
Letterboxd do Papa: os filmes favoritos do cinéfilo Francisco Análise genômica sugere que todas as rosas foram um dia amarelas
Análise genômica sugere que todas as rosas foram um dia amarelas Os últimos povos isolados: como vivem os humanos não contatados
Os últimos povos isolados: como vivem os humanos não contatados Em Marte, robô Curiosity encontra primeiro sinal de ciclo de carbono
Em Marte, robô Curiosity encontra primeiro sinal de ciclo de carbono 
                             
                
 
							 
							 
							 
							 
							 
							

 ACESSO LIVRE COM VIVO FIBRA
ACESSO LIVRE COM VIVO FIBRA