Cientistas descobrem que ave mumificada há 1,5 mil anos é um íbis-sagrado
Embrulho guardado em universidade americana não era o que se pensava; pesquisadores espiaram o interior da múmia misteriosa sem danificá-la. Confira.
Há mais de 200 anos, múmias de todo tipo chegam à Universidade Cornell (Estados Unidos) para integrar coleções de antropologia – mas nem todos os artefatos são imediatamente estudados. É o caso de um embrulho de linho armazenado dentro de uma caixa com o rótulo “múmia de falcão”.
A indicação está errada, e a múmia é, na verdade, um íbis sagrado. Foi o que descobriu Carol Anne Barsody, pesquisadora da universidade que recentemente começou a investigar o pacote misterioso usando várias tecnologias para espiar o que há por baixo dos panos sem danificar a múmia.
“Grande parte da arqueologia é destrutiva”, afirma Frederic Gleach, professor que ajudou Barsody em seu estudo. “Uma vez que você escavou algo, não há como ‘desescavar’. Depois de desembrulhar uma múmia, não há como montá-la novamente.”
Os dois pesquisadores começaram fazendo radiografias e uma tomografia computadorizada do embrulho egípcio. Os exames mostraram que alguns tecidos moles e penas da ave ainda estavam preservados. A perna do animal foi fraturada antes da mumificação, e o bico parece ter quebrado posteriormente.
Essa primeira etapa foi importante, em primeiro lugar, para confirmar que ali existia, de fato, uma ave – existem múmias que são restos mortais parciais ou só um punhado de tecido. Pesquisadores já descobriram, por exemplo, que um terço das múmias do Museu de Manchester (Reino Unido) estão vazias.
Múmias de animais como gatos, raposas, macacos e até crocodilos eram enterradas junto a pessoas como oferendas ou como uma possível companhia no pós-morte. Historiadores acreditam que os embrulhos vazios (ou quase vazios) surgiram de um aumento de demanda.
“Houve uma espécie de processo inflacionário. Não bastava ter um [animal mumificado] com você [na sua tumba], você tinha que ter tantos quanto pudesse pagar”, explica Gleach. Então, talvez os fabricantes de múmias recorressem a métodos alternativos de vez em quando – usando pedaços de animais, ninhos ou cascas de ovos, por exemplo. Ainda seriam itens especiais, mesmo que não fossem os animais em si.
Após descobrir que o embrulho guardado na Universidade Cornell continha mesmo uma ave, os pesquisadores analisaram os exames e estudaram coleções de peles e esqueletos para identificar o animal. Assim, descobriram que se tratava de um íbis-sagrado, ave que você vê na imagem abaixo.
Essa ave era associada à morte e a Thoth, deus egípcio da sabedoria e da magia. Ela era bastante popular no Antigo Egito, e às vezes era criada com o único propósito de virar múmia. Na necrópole Tuna el-Gebel, por exemplo, arqueólogos já encontraram quatro milhões de íbis nas catacumbas.
O íbis da Universidade Cornell é de origem desconhecida e tem de 1,5 mil a 2 mil anos de idade. A ideia de Barsody é extrair material genético da múmia e comparar a amostra a um banco de dados de íbis sagrados mumificados para descobrir em que local o artefato foi enterrado.