Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

A capela católica decorada com 40 mil esqueletos humanos

O cemitério de Sedlec, bairro no subúrbio de uma cidade Tcheca, tinha ossos demais – e inspirou arquitetos a adotarem uma decoração peculiar

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 jul 2017, 19h28

Por fora, o Ossuário de Sedlec é um prédio sólido. Essa pequena capela católica, que leva o nome de um subúrbio da cidade tcheca de Kutná Hora, tem janelas no estilo gótico, grossos muros de pedra bege e três torres modestas, com as cúpulas pretas. O jardim é ocupado por um cemitério, e as lápides são ilegíveis para quem fala português.

home2
(Reprodução/Wikimedia Commons)

Depois de andar entre as árvores simpáticas na calçada, fica difícil de acreditar no que aguarda quem resolve entrar no templo: as paredes e o teto são decorados com mais de 40 mil esqueletos humanos. O maior destaque é o lustre, que, reza a lenda, contém pelo menos um exemplar de cada osso do corpo – da tíbia e o perônio, na perna, ao martelo, a bigorna e o estribo, no ouvido. Outro ponto alto da visita, também esculpido com crânios e afins, é um enorme brasão da família Schwarzenberg – uma linhagem de nobres da Idade Média que até hoje é influente na vida política da Alemanha e da região histórica da Boêmia.

home
(Reprodução/Wikimedia Commons)

Segundo a história oficial, tudo começou em 1278, quando Otacar II, rei da Boêmia, enviou o abade de Sedlec a Jerusalém. A viagem, na época, era bem mais longa e difícil do que é hoje – então o clérigo fez um city tour completo e aproveitou para passar em Gólgota, uma colina na periferia da cidade israelense que, em línguas latinas, atende por um nome familiar: Calvário. O nome significa “lugar da caveira”, e de acordo com a tradição católica, é ali que Jesus foi crucificado.

O abade não quis ir embora sem uma lembrança, então coletou uma porção de terra da colina sagrada, levou a amostra para a Boêmia em um jarro e a despejou no chão do cemitério local, instalado nos amplos jardins da abadia de Sedlec. Má ideia. De uma hora para outra, todo mundo quis ser enterrado ali. Afinal, não é todo dia que você tem uma chance de repousar eternamente no mesmo solo que Jesus.

Continua após a publicidade

No século 14, com a peste negra, o número de pessoas que queriam descansar do lado do Senhor aumentou vertiginosamente. Mais de 30 mil pessoas acabaram em uma vala comum no local. Para pôr ordem na bagunça e dar um descanso católico digno às vítimas da epidemia, em meados do século 15 o os clérigos resolveram construir, no centro do cemitério, o ossário, e em seu topo a capela – mal sabiam eles que o prédio humilde se tornaria tão famoso no futuro.

No época da construção, a aparência do interior era simples e despojada. A ornamentação feita com ossos começou a ser instalada centenas de anos depois, no século 18, pelo escultor barroco Jan Blažej Santini Aichel – que usou os restos mortais para fabricar guirlandas, cálices, candelabros e outros símbolos litúrgicos que apareciam aos montes nas igrejas da época (você não precisa ir à República Tcheca para ver o exagero do barroco de perto: basta uma visita a Ouro Preto, em Minas Gerais).

Aichel inovou, mas não foi ele o responsável pela aparência atual da capela. Mais ou menos 100 anos depois do arquiteto ítalo-boêmio terminar sua obra, a igreja católica saiu do terreno do cemitério, que foi anexado pela já mencionada família Schwarzenberg. Eles não brincam em serviço: pagaram o marceneiro e escultor František Rint para fazer uma reforma – e dar um upgrade na ideia original.

Continua após a publicidade

Ele chutou o balde: fez o famoso lustre, e o brasão para agradar seus empregadores. Também assinou o próprio nome na parede (com ossos, é claro).

Hoje a capela é um dos pontos turísticos mais visitados do país. À exemplo das igrejas mineiras, visitantes precisam pagar ingresso para acessá-la – o valor vai todo para manutenção, já que, entre outros problemas, o solo do cemitério é instável e não sustenta mais o peso do edifício. Quem quiser saber mais (e não tiver problema com legendas em inglês) pode ver um documentário sobre a lenta restauração, disponível aqui.

Quanto a aparência macabra, o site oficial garante: a capela, na verdade, transmite paz. Memento mori. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.