O horror do Holocausto revela a psicopatia por trás da política nazista.
Texto: Alexandre Carvalho | Design: Andy Faria | Imagens: Divulgação
Texto: Alexandre Carvalho | Design: Andy Faria | Imagens: Divulgação
O capitão da SS Amon Göth (Ralph Fiennes) só aparece após 52 minutos. É quando o espectador é apresentado a um dos maiores vilões do cinema. Seria um personagem fruto de um roteiro genial, se não fosse um porém: ele existiu de verdade. Administrador de um campo de trabalhos forçados na Cracóvia (Polônia), Amon Göth gostava de assassinar pessoalmente seus “hóspedes” judeus. E vivia inventando motivo. Chegou a matar o cozinheiro porque uma sopa estaria quente demais. Ficava na sacada do escritório com um rifle, atirando em quem ele achasse que estava fazendo corpo mole.
Se Göth é a personificação da monstruosidade nazista, o industrial Oskar Schindler é quase um contraponto. Quase porque, de início, fez o que todo grande empresário alemão fazia na época: aproveitou-se da mão de obra barata (escrava) dos judeus para lucrar. Mas, em algum ponto da 2ª Guerra, Schindler desenvolveu um sentimento raro – e até contraditório – para um membro do Partido Nazista como ele: sofreu com o sofrimento dos judeus. E passou a protegê-los. Conseguiu convencer seu amigo Göth de que precisava dos prisioneiros vivos para continuar lucrando – quando na verdade estava falindo. E escreveu a lista com os 1.200 nomes daqueles que escapariam do Holocausto para fingir que trabalhavam em sua fábrica.
Projeto pessoal de Steven Spielberg, A Lista de Schindler é um dos filmes mais inspiradores de todos os tempos. E seu protagonista é um herói – o único nazista sepultado com honras no Monte Sião, em Jerusalém.
Para descobrir se “chorar faz bem”, pesquisadores da Universidade de Tilburg, na Holanda, conduziram um estudo que colocou voluntários para ver um filme triste. E que filme com maior potencial lacrimoso que esta produção de Roberto Benigni, vencedora do Oscar?
Um livreiro judeu, Guido (Benigni), é aprisionado com seu filhinho em um campo de concentração quando a Itália é ocupada pelos alemães. Para que o menino não sofra com os horrores do lugar, Guido o convence de que o Holocausto não passa de um jogo, e que o vencedor vai levar um tanque de prêmio. As providências desse pai – ora engraçadas, ora de cortar o coração – para manter a fantasia passam por mascarar o próprio medo e exaustão. E são a essência de uma obra agridoce, na qual o amor paterno está em primeiro plano.
A propósito: chorar faz bem, sim. Entre os voluntários que não se contiveram diante de A Vida é Bela, um sentimento de felicidade surgiu 90 minutos depois. Sensação não experimentada por aqueles que não caíram no choro.
Prepare-se para um filme de terror. Só que é um documentário: um dos registros mais impactantes da história da humanidade. O diretor Alain Resnais montou seu filme dez anos após o cessar-fogo, por encomenda do Comitê de História da 2ª Guerra, uma entidade francesa. Para quê?
Não deixar toda a loucura do Holocausto passar em branco. Então alternou material de arquivo dos campos de concentração e suas vítimas com imagens dos mesmos lugares já em 1955, filmadas por ele mesmo. O resultado foi a primeira grande obra a mostrar a crueza do Holocausto no cinema: os prisioneiros nus e desnutridos, famintos, os chuveiros falsos das câmaras de gás, as clínicas que faziam amputações e cirurgias experimentais. E sem nenhum efeito especial ou maquiagem. A narração, quase fantasmagórica, foi escrita pelo poeta Jean Cayrol, um sobrevivente dos campos de concentração.
Ao mostrar, sem filtros, todo o horror do maior crime contra a humanidade do século 20, Resnais enfiou uma faca no coração dos revisionistas – e despertou quem não acreditava que os alemães seriam capazes de chegar àquele ponto. Depois de Noite e Neblina, colocar o Holocausto em dúvida virou atestado de insanidade – ou de antissemitismo.
Antes de assumir ele próprio o filme, Spielberg ofereceu a direção de A Lista de Schindler ao polonês Roman Polanski – que a recusou. O tema mexia com um passado que ele não queria reviver: o diretor passou a infância no gueto da Cracóvia, e sua mãe morreu em Auschwitz.
Com o tempo, mudou de ideia e criou seu próprio registro sombrio daqueles tempos. A incrível história do pianista (Adrien Brody) que escapa do Holocausto se escondendo entre as ruínas de Varsóvia deu-lhe a Palma de Ouro em Cannes.
Este longa-metragem trata de um dos acontecimentos mais extraordinários da 2ª Guerra Mundial: a fuga em massa, bem-sucedida, dos prisioneiros judeus de um campo de extermínio. No caso, do campo de Sobibor, na Polônia. Impressiona também que o plano de escapar não contemplasse um grupo de 20 ou 30. Todos os 600 presos que estavam lá – trabalhando como escravos e testemunhando a matança nas câmaras de gás – deveriam fugir. Foi a única revolta desse tipo que deu certo, o que envergonhou os alemães a ponto de fecharem o campo imediatamente e plantarem uma floresta de pinheiros no lugar. Dos 600 fugitivos, no entanto, 300 foram mortos na tentativa e só 50 sobreviveram à guerra.
Fuga de Sobibor conta os detalhes dessa ação histórica. Leon (Alan Arkin) é uma liderança entre os presos e, diante dos fuzilamentos aleatórios, dos espancamentos e humilhações diárias, compreende que é só questão de sorte estar vivo. Ele então começa a arquitetar um plano de fuga, mas o projeto só pega no tranco quando chega um soldado russo (Rutger Hauer). É o militar quem convence os pacatos judeus de uma verdade inconveniente: não há saída possível sem assassinar os oficiais da SS que comandam o campo.
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