Uma enxaqueca de Zeus dá à luz essa divindade que equilibra o conhecimento de Apolo com a estratégia para a batalha. Apesar de virgem guerreira, é conhecida também como a deusa da civilização e das artes.
Texto: Maurício Horta | Edição de Arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria |
Imagens: Adobe Stock e Getty Images
NOME ROMANO – MINERVA • DIVINDADE – DEUSA DA GUERRA E DA SABEDORIA
Desde quando Zeus engoliu Métis para adquirir sua astúcia e impedir que, além da filha que já carregava na barriga, tivesse um filho homem que o sucedesse, o rei dos deuses continuou a ter casos com deusas e mortais. Mas é quando ele já está casado com Hera, a última deusa com quem copulou e que se tornou sua legítima esposa, que é atingido por uma dor de cabeça crescente. Certa manhã, quando o deus solar Hélio já fustiga seus cavalos brancos para fazer emergir do mar sua carruagem de fogo, e a deusa lunar Selene começa a afundar-se na água, sua enxaqueca é insuportável. Tanto que pede ao enteado Hefesto, o filho de Hera gerado por partenogênese, que lhe quebre a cabeça imortal com uma machadada.
Qual não é sua surpresa ao ver que de seu cérebro pula uma figura já adulta, dotada de olhos brilhantes, mente rápida e coração inflexível, vestida para a batalha, urrando um ensurdecedor grito de guerra. Nesse instante, o panteão olímpico inteiro treme, a Terra grita horrivelmente por toda sua extensão, os mares são revoltos por ondas escuras, cujas espumas se espalham pelo mundo.
A filha coloca-se frente a frente com o pai, apontando-lhe sua lança brilhante. Mas basta ela tirar a armadura de seu ombro em sinal de paz para que o mar de repente volte à calmaria. Zeus é então tomado de alegria ao ver confirmada a profecia da avó Gaia: sua cria é uma fêmea, Atena. Seu reino nos céus não será desafiado por um varão. Pelo contrário. Zeus juntará a suas forças o pensamento estratégico de sua filha predileta para governar o Universo.
Não é estranho que, apesar de misógina, a mitologia grega dê tanta importância a uma figura feminina? Sim. Mas Atena não é uma deusa como as outras. Seu nascimento é uma grande confusão de gêneros. Zeus assume uma faceta feminina ao parir a filha de sua cabeça, enquanto Hefesto se faz de parteira com seu machado. Sem a figura da mãe, Atena cresce ligada somente à figura paterna de Zeus e, com atributos da guerra, essencialmente masculina, ela se sente em casa no mundo dos homens, acompanhando heróis nas batalhas.
Fica claro desde seu nascimento que Atena será a deusa da guerra – não no sentido do amor selvagem pelo sangue derramado nas batalhas, como seu meio-irmão Ares, mas sim da inteligência estratégica, que orienta a só iniciar uma batalha quando for vantagem para o Estado, depois de terem se esgotado todos os outros meios de persuasão. Se a guerra é inevitável, Atena inspira os homens a provar sua bravura e, quando assim a prudência exige, refreia o instinto de Ares, impedindo que guerreiros se matem uns aos outros.
Ninguém poderia ser melhor amigo de um herói. Hércules, Perseu, Aquiles, Diomedes, Odisseu… todos recebem de Atena exatamente o que necessitam no momento certo de suas empreitadas. É ela quem guia a mão de Perseu para arrancar a cabeça da Górgona, inspira os Argonautas a construir sua embarcação, dá a Hércules a castanhola com que espanta as aves antropofágicas do Lago Estínfalo.
Se julgar justo, Atena consegue dobrar os raios de Zeus, prolongar a vida dos homens e conceder-lhes o dom da profecia.
Por outro lado, é implacável com seus inimigos. Uma vez desonrada pelos troianos, ela usa todos os seus poderes para que os gregos vençam a guerra contra seus adversários.
Mas o companheirismo que dedica aos heróis será sempre casto. A deusa Atena mantém sua virgindade a qualquer custo, como se negasse sua feminilidade. Em suas cerimônias de banho, é completamente vetada a presença de homens. Já nasceu vestida, e o único homem a vê-la nua ficará cego (sim, essa é uma segunda versão da história sobre como o velho adivinho Tirésias perde a visão). Atena, a filha querida de Zeus, será sempre a companheira dos guerreiros, nunca uma amante.