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“Something In The Way”, que embala o novo Batman, foi uma das gravações mais difíceis do Nirvana

Só no Spotify, a procura pela música aumentou 1.200% após a estreia do filme. Saiba como foram os bastidores da sua produção.

Por Rafael Battaglia
21 mar 2022, 11h20

O álbum Nevermind, lançado em 24 de setembro de 1991, é um dos mais importantes da história do rock. Da capa com o bebê em uma piscina aos hits antológicos “Smells Like Teen Spirit”, “Lithium” e “Come As You Are”, o disco vendeu 30 milhões de cópias, marcou o movimento grunge e consagrou o sucesso do Nirvana (cujo primeiro CD, Bleach, tinha saído apenas dois anos antes). Não à toa, em 2020, a revista Rolling Stone o elegeu como o sexto maior álbum de todos os tempos.

“Something In The Way” é a penúltima faixa de Nevermind. A letra é simples: fala sobre alguém vivendo debaixo de uma ponte, alimentando-se apenas de grama, peixe e da água que cai de uma goteira. Kurt Cobain quase sussurra os versos em uma melodia lenta, que só se quebra no refrão, quando guitarras, bateria e um violoncelo irrompem a calmaria da música. Ouça:


Por décadas, “Something In The Way” ficou à sombra de outras músicas do álbum. Não pela sua qualidade, claro. Mas vamos combinar que o páreo é duro. “Smells Like Teen Spirit”, por exemplo, acumula 1,4 bilhões de reproduções no YouTube. No Spotify, são 1,2 bilhão – dez vezes mais que “Something In The Way”.

Recentemente, o jogo virou. Em setembro de 2020, a música do Nirvana foi parar nas listas de maiores vendas digitais, segundo a Billboard. Alcançou a segunda posição dentre as músicas de rock e o 45o lugar no geral. O motivo? Ela apareceu no primeiro trailer de Batman, o mais novo filme do herói com Robert Pattinson no papel principal.

Não só. Quando Batman estreou, em 3 de março deste ano, as buscas pela canção aumentaram ainda mais (um pequeno spoiler: ela toca duas vezes durante o filme). De acordo com a empresa de análises MRC Data, o número de plays em “Something In The Way” cresceu 734% nos EUA nos quatro primeiros dias após o lançamento do filme. No dia 9, o Spotify divulgou que a procura pela música cresceu 1.200% – o que rendeu até uma piadinha no Twitter:

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Em entrevista à revista Esquire, o diretor Matt Reeves explicou a decisão de colocar a canção no filme. “Quando eu escrevo, eu ouço música. Eu estava escrevendo o primeiro ato de Batman quando coloquei ‘Something In The Way’ para tocar.”

A canção caiu como uma luva. Segundo Reeves, foi nesse momento que ele decidiu explorar Bruce Wayne para além da visão do playboy milionário – mas como alguém que passou por um grande trauma e se recolheu. Foi quando ele comparou a jornada do personagem com a do vocalista do Nirvana (que morreu em 1994, aos 27 anos).

“Eu pensei que essa poderia ser uma boa mistura”, disse o diretor. “[O Bruce Wayne] tem esse jeito de Kurt Cobain, no qual ele se parece com uma estrela do rock, mas você também sente que ele poderia ser alguém recluso.”

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Cena do filme The Batman.
(Warner Bros. Pictures/Reprodução)

Os bastidores

“‘Something In The Way’ foi, de longe, a canção mais difícil de gravar de Nevermind“, disse à revista NME o músico Butch Vig, bateirista do Garbage e produtor do segundo álbum do Nirvana.

As gravações de Nevermind duraram 16 dias e rolaram no Sound City Studios, em Los Angeles. Kurt, o baixista Krist Novoselic e o baterista Dave Grohl (que tinha acabado de entrar na banda) ficaram hospedados em um hotel próximo e, não raro, aproveitavam os momentos de descanso indo à praia de Malibu, a alguns quilômetros dali.

A banda vinha de uma exaustiva rotina diária de ensaios nos últimos seis meses. Quase todas as músicas foram gravadas numa boa – levaram de uma a três tomadas no estúdio para ficarem prontas. Mas “Something In The Way” custou a sair.

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“No estúdio simplesmente não funcionava”, lembrou Butch. “A bateria estava muito alta, e Kurt não conseguia tocar a guitarra de forma acústica. Ele ficou bem frustrado.”

Kurt saiu do estúdio, foi até a sala de controle e começou a tocar a música em um violão. Foi aí que Butch teve a ideia de gravar ali mesmo, no sofá onde ele havia se sentado. “Expulsei todo mundo da sala, liguei o microfone, tirei o telefone da tomada e Kurt voltou a tocar. Fomos construindo a música a partir disso.”

Depois, foi a vez dos outros músicos. “A gente enlouqueceu o Dave porque toda vez que ele ia tocar nós pedíamos para ele tocar mais baixo. Depois de umas cinco ou seis tomadas ele finalmente atingiu uma versão com uma boa dinâmica.”

Outro desafio foi afinar todos os instrumentos de acordo com o violão de cinco cordas de Kurt. “A trilha está um pouco desafinada [em ‘Something In The Way’]. Mas isso dá um aspecto soturno, traz personalidade.”

O Batman que o diga.

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