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Quem é Chloé Zhao, a diretora vencedora do Oscar por “Nomadland”

Ela fez história na premiação, dirigiu "Os Eternos" – a próxima aposta do Universo Marvel – e está entre os nomes de maior ascensão em Hollywood. Conheça sua trajetória.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 13 mar 2024, 15h48 - Publicado em 6 mar 2021, 16h27

Esta nota foi atualizada após a vitória de Zhao como Melhor Diretora na 93ª edição do Oscar, que aconteceu no domingo, dia 26 de abril.

Da sala de casa, em frente à tela do computador, Chloé Zhao não escondeu a surpresa (e felicidade) quando ouviu o seu nome duas vezes ao final da 78ª edição do Globo de Ouro, que aconteceu em 28 de fevereiro. Também, pudera. A cineasta chinesa levou os dois principais prêmios da noite: Melhor Direção e Melhor Filme de Drama por Nomadland.

Com isso, Zhao se tornou a primeira mulher asiática a levar o Globo de Ouro de direção e a segunda mulher a triunfar na categoria (a primeira foi Barbra Streisand em 1984, pelo filme Yentl). Aos 38 anos, ela é um dos maiores nomes em ascensão em Hollywood – mesmo com uma pequena filmografia.

Antes de Nomadland, drama estrelado por Frances McDormand, Zhao havia dirigido apenas dois outros longas independentes: Songs My Brothers Taught Me (2015) e Domando o Destino (2017). Já Nomadland estreou em setembro de 2020 no Festival de Veneza, na Itália, e saiu de lá com o principal prêmio, o Leão de Ouro.

No último domingo (26), Zhao e seu filme confirmaram o favoritismo na 93ª edição do Oscar. Nomadland levou três prêmios: Melhor Filme, Melhor Atriz (o terceiro da carreira da Frances) e Melhor Direção. Com isso, Chloé se tornou a segunda mulher na história a ganhar nessa categoria – a primeira foi Kathryn Bigelow em 2010, por Guerra ao Terror.

A curta e bem-sucedida trajetória de Zhao chamou a atenção de várias personalidades. O cineasta coreano Bong Joon Ho, que fez história no Oscar com Parasita, colocou a chinesa em uma lista de 20 diretores promissores para esta década. Já Barack Obama incluiu Nomadland em sua lista anual de melhores filmes e séries de TV. Aliás, coube a Bong a tarefa de anunciar a colega como a vencedora

Chloé chamou a atenção também dos grandes estúdios de Hollywood: nos próximos anos, ela comandará dois blockbusters. Um deles, vale dizer, é Os Eternos – uma das maiores apostas da Marvel.

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Passado

Chloé nasceu em 1982 em Pequim (seu nome, na verdade, é Zhao Ting), e passou a infância e adolescência na capital chinesa. Dentro de casa, havia influências dos mais variados campos. O pai era executivo de uma das maiores siderúrgicas do país e, com o tempo, passou a trabalhar com investimentos e imóveis; a mãe trabalhava no hospital e a madrasta era uma famosa comediante de TV.

Aos 14 anos, Zhao foi para um internato na Inglaterra para aperfeiçoar o inglês. Ela cresceu fã de mangás, Michael Jackson e cinema (em especial, filmes do cineasta Wong Kar-Wai, o primeiro chinês a ganhar como melhor diretor no Festival de Cannes). Indecisa quanto ao seu futuro, mudou-se para Los Angeles para terminar o ensino médio. Depois, foi estudar ciência política na Universidade Mount Holyoke, em Massachusetts – do outro lado dos EUA.

Depois de trabalhar como bartender e em bicos aqui e ali, Zhao finalmente decidiu o que queria fazer: contar histórias. A partir daí, começou a estudar cinema na Universidade de Nova York, a NYU, onde teve entre os seus professores Spike Lee, diretor de filmes como Faça a Coisa CertaInfiltrado na Klan. Foi na NYU também que Chloé conheceu Joshua James Richards, seu parceiro de vida – e de trabalho.

O primeiro filme de Zhao, Songs My Brothers Taught Me (“As músicas que meus irmãos me ensinaram”, sem título oficial em português) se passa em uma reserva indígena de Pine Ridge, no estado de Dakota do Sul – uma das regiões mais pobres dos EUA. Conta a história de Johnny e Joshuan, sua irmã mais nova, que vivem na reserva com a mãe e um irmão que está na cadeia. Ao ver a chance de morar em Los Angeles, Johnny se vê num dilema: ficar ou abandonar sua família?

A produção do filme foi conturbada. Zhao reescreveu o roteiro dezenas de vezes para ajustar a história às mudanças do orçamento apertado. Mas tudo virou de cabeça para baixo quando o financiamento que ela havia conseguido foi cancelado. Para piorar, a casa em que ela e Joshua moravam em Nova Jersey foi assaltada. Eles perderam computadores e HDs com parte das filmagens.

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No fim, deu certo. O casal juntou US$ 70 mil do próprio bolso, arranjou um empréstimo de US$ 30 mil e partiu para terminar o filme – que foi reconhecido em diversos festivais, como Cannes, Sundance e no Independent Spirit Awards. O longa, contudo, não está disponível em nenhuma plataforma aqui no Brasil.

Desde o início, Zhao mostrou que gosta de mergulhar fundo em histórias reais e usar atores não-profissionais. Durante as filmagens de Songs My Brothers Taught Me, ela escrevia de manhã as cenas que seriam gravadas naquele dia para incorporar histórias no roteiro conforme aprendia mais sobre o local e as pessoas que viviam ali.

Essa maneira de filmar ficou ainda mais evidente em seu segundo filme, The Rider, lançado dois anos depois e que também se passa nessa região de Dakota do Sul – mas com foco no universo dos caubóis e rodeios. Lançado no Brasil como Domando o Destino, conta a história de Brady Blackburn, um jovem domador de cavalos. Ao sofrer um grave acidente após uma queda (o que o deixou em coma), os médicos sugerem que ele nunca mais volte a cavalgar.

O pulo do gato: o filme é baseado na vida de Brady Jandreau, que Chloé conheceu em Dakota, e é o próprio Brady que interpreta a si mesmo no longa. Não só ele: seu pai, a irmã mais nova, o amigo que sofreu um acidente ainda pior… Todos estão em cena, em uma mistura interessante (e sensível) de drama e documentário. No Brasil, ele está no catálogo do Telecine Play, e é possível alugá-lo em outras plataformas.

Presente

Chloé conheceu Frances McDormand em 2017, durante o Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá. Ele é um dos mais importantes do mundo, e costuma apresentar muitos dos filmes que marcarão presença nas premiações da temporada. McDormand estava lá por causa de Três Anúncios Para Um Crime, que lhe garantiu o seu segundo Oscar de Melhor Atriz (o primeiro foi por Fargo, em 1997). Ela assistiu a Domando o Destino, adorou e quis conhecer a diretora.

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Àquela altura, McDormand havia comprado os direitos de adaptação do livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century, de Jessica Bruder, uma não-ficção sobre americanos que viajam pelo país em busca de trabalho. Acontece que Chloé tinha um ideia similar para o seu próximo filme. Foi a junção da fome com a vontade de comer: elas se uniram e começaram a filmar Nomadland no outono de 2018.

Frances McDormand, Chloé Zhao, e o diretor de fotografia Joshua James Richards durante a gravação de 'Nomadland'.
Chloé Zhao, o diretor de fotografia Joshua James Richards e Frances McDormand nas gravações de “Nomadland”. (IMDb/Reprodução)

Na história, Frances interpreta Fern, uma viúva que perde o emprego com a falência da mina de gesso da sua cidade. A partir daí, ela se torna uma nômade moderna e, assim como muitos americanos que sofreram com a crise econômica de 2008, cruza o país em busca de trabalhos temporários. No Brasil, ainda não há previsão de estreia.

Analisando o enredo do filme, é possível traçar um paralelo entre ele e a própria trajetória de Zhao. Afinal, estar constantemente viajando a trabalho (além de ter vivido em vários países) também a torna, de certa forma, uma nômade. E não há nenhum problema com isso.

“Percebi que existem pessoas que simplesmente nasceram para se deslocar, enquanto outras gostam de ficar paradas”, disse Chloé em uma reportagem de capa para a revista New York Magazine. Para ela, é possível viver das duas formas. “Eu sou uma pessoa muito caseira. Sou descendente de plantadores de arroz. Mas, às vezes, tudo o que quero é correr.”

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Futuro

Na época em que gravava Nomadland, Zhao foi anunciada como a diretora de um projeto ambicioso: Os Eternos, uma das grandes apostas do Marvel Studios para as próximas fases do seu Universo Cinematográfico – o MCU.

Os Eternos foram criados nos anos 1970 por Jack Kirby, o lendário quadrinista por trás de dezenas de heróis da editora. Na mitologia da Marvel, eles são uma super-raça criada há milhares de anos pelos Celestiais, os seres primordiais do Universo – e que foram mencionados em Guardiões da Galáxia.

Nos últimos anos, a Marvel tem se esforçado para aumentar a diversidade na frente e atrás das telas – algo que fica mais evidente ao olhar para os próximos lançamentos do estúdio. Miss Marvel, por exemplo, é uma série do Disney+ que contará a história de Kamala Khan, uma garota descendente de paquistaneses que adquire superpoderes.

Com Os Eternos, não será diferente. Além de contar com uma diretora asiática (que também, vale dizer, chegou a ser considerada para Viúva Negra), o filme mostrará o primeiro super-herói surdo e o primeiro super-herói gay do MCU. Houve o cuidado também para criar um elenco com bastante representatividade, como você pode conferir na imagem abaixo:

Richard Madden, Kumail Nanjiani, Lauren Ridloff, Salma Hayek, Lia McHugh, Don Lee, Angelina Jolie e Barry Keoghan de 'The Eternals' no D23 EXPO 2019 em Anaheim, Califórnia.
Richard Madden, Kumail Nanjiani, Lauren Ridloff, Salma Hayek, Lia McHugh, Don Lee, Angelina Jolie e Barry Keoghan no painel de “Os Eternos” durante a D23 EXPO 2019 em Anaheim, Califórnia. (Jesse Grant/Getty Images)
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Inicialmente previsto para estrear em novembro de 2020, Os Eternos foi adiado devido à pandemia. Se não houver nenhuma nova alteração, o filme chegará às telas em novembro de 2021.

Mas os projetos de Zhao não param por aí. Nos últimos anos, ela tem trabalhado em uma cinebiografia do policial Bass Reeves (1838-1910), o primeiro delegado negro do oeste americano. E em fevereiro, a Universal Pictures anunciou que a cineasta comandará uma nova versão de Drácula, que mistura faroeste e ficção científica. Chloé definitivamente chegou para ficar.

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