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Os bastidores da versão em áudio de “1984” com Lázaro Ramos

A adaptação da Audible para a obra-prima distópica de Orwell foi lançada junto de uma candidatura fake de Felipe Neto à presidência – que enganou jornais grandes.

Por Eduardo Lima
20 abr 2025, 11h46

O romance 1984 foi o último livro publicado em vida pelo escritor britânico George Orwell. A distopia, que narra silenciosa insurreição do cidadão médio Winston Smith contra o totalitarismo do Grande Irmão, domina até hoje as listas de livros mais vendidos a História se repete e o recado permanece profético.

Em 1948, quando escreveu o clássico, Orwell imaginou dispositivos chamados “teletelas”: televisores com câmeras que vigiavam todas as ações dos cidadãos enquanto exibiam propaganda estatal dia e noite. Hoje, carregamos smartphones com GPS que armazenam dados sobre nossa localização, nossas pesquisas no Google e nossas compras.

Como o livro permanece tão relevante e interessante quanto era na semana de seu lançamento, não param de sair novas edições. A mais recente é o audiodrama 1984, uma produção da Audible com Lázaro Ramos como Winston, Alice Carvalho como seu par romântico Julia, Mateus Solano como O’Brien e Milhem Cortaz como o Grande Irmão.

Super conversou com os diretores dessa adaptação em áudio, Roberto Bürgel e Lena Horn, para entender o processo de transformar o livro em um audiodrama (e entender a diferença disso para um audiolivro normal).

Bastidores de 1984

A versão de 1984 com Lázaro Ramos é baseada em um roteiro em inglês do dramaturgo britânico Joe White que também conta com um baita elenco: Andrew Garfield, o ex-Homem-Aranha, como Winston Smith, Cynthia Erivo de Wicked como Julia, Tom Hardy de Mad Max: Estrada da Fúria como o Grande Irmão e o padre gato de Fleabag, Andrew Scott, como O’Brien.

De acordo com Roberto Bürgel, os britânicos têm uma “ligação incomum com o áudio”. Essa expertise do Reino Unido é antiga: desde 1922, a BBC (British Broadcasting Corporation, “Corporação Britânica de Radiodifusão” em português) providencia programação de alto nível gratuita para a população.

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A BBC tem uma radionovela tradicional que vai ao ar desde 1951. The Archers já teve mais de 20 mil episódios, e ainda está rolando (e sendo ouvida!) depois de 74 anos. Ou seja: eles entendem do negócio.

Os cenários e diálogos são adaptados para compensar ao máximo a ausência de imagens. Sons de fundo para ambientação, efeitos especiais e o áudio imersivo Dolby Atmos capturam a imaginação do ouvinte. Dá tão certo que é perturbador.

Numa história como a de 1984, com cenas de tortura e execuções, um dos episódios precisou de um alerta de gatilho: o som de uma forca e o estalo de um pescoço quebrando foram desconfortáveis para alguns ouvintes. “A audição é talvez um dos nossos sentidos mais fortes”, argumenta Bürgel. “Você pode fechar o olho, mas não pode parar de ouvir.”

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Esses cuidados distanciam a produção de um audiolivro e aproximam o resultado de uma série. Quem quer ouvir a obra-prima de Orwell palavra por palavra precisa encarar quase 13 horas de áudio, já que 1984 é um romance relativamente grande (a edição da Companhia das Letras tem 416 páginas). O audiodrama, por outro lado, tem pouco menos de 4 horas.

A ambientação é importante, mas o que vende mesmo são as atuações. “O Lázaro é um Winston perfeito”, acredita Lena. Na escolha do elenco, a produção tomou o cuidado de diversificar sotaques para além do eixo Rio-São Paulo, o que ajuda na diferenciação das personagens. No cinema, é fácil discernir quem é quem, já que você está vendo todo mundo. No áudio, vozes parecidas podem confundir o ouvinte.

Embora não haja câmeras, há atuação. Quando Wiston estava pensando alto, por exemplo, Lázaro gravava sentado. Outras cenas contaram com o ator de pé ou até amarrado a uma cadeira. Tudo influencia na interpretação, que é minuciosa: às vezes, 15 minutos de áudio exigem 3 horas de produção.

Para promover a série, a Audible fez uma campanha com o influenciador Felipe Neto, que apareceu num vídeo em suas redes sociais anunciando sua pré-candidatura à presidência da República e uma nova rede social, a Nova Fala.

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O vídeo é cheio de referências ao 1984, mas deu errado: poucas pessoas entenderam a ironia e vários jornais saíram noticiando que Neto seria candidato mesmo.

No dia seguinte, o influenciador apareceu com um vídeo explicando que a suposta pré-candidatura era uma ação publicitária. Pelo jeito, deu certo: os jornais precisaram noticiar que a notícia do dia anterior estava equivocada.

É, no mínimo, curioso que a campanha de publicidade de um livro que trata da manipulação da informação pelo poder acabe gerando desinformação. Acaba mostrando que 1984 continua atual, seja no audiodrama disponível na Audible ou no original de Orwell. “É triste observar que ainda precisamos lutar contra totalitarismos. Parece uma doença”, afirma Horn. 1984 não é a cura, mas continua um baita diagnóstico.

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