Relâmpago: Revista em casa a partir de 9,90

O que é encíclica Laudato si’, deixada pelo Papa Francisco

Numa carta oficial, o pontífice convocou católicos e não-cristãos a se engajarem no combate às mudanças climáticas, tema importante de seu papado.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 22 abr 2025, 15h41 - Publicado em 22 abr 2025, 15h39

“Nada deste mundo nos é indiferente”, escreveu em 2015 Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que morreu aos 88 anos na última segunda-feira, 21.

Há quase dez anos, ele tomou uma postura inovadora ao escrever uma carta especial para toda a Igreja Católica, criticando o consumismo e alertando os cristãos – e todos que quisessem ouvir – para o cuidado com a Terra e o combate às mudanças climáticas.

Esse documento é a encíclica Laudato si’, na qual o Papa assinou embaixo das principais descobertas científicas sobre a degradação ambiental e a crise climática e associou a missão ecológica de cuidar da “casa comum”, como ele chama a Terra, à teologia da Igreja.

Uma encíclica é uma carta oficial do pontífice para todos os fiéis e membros do clero sobre assuntos que afetam o bem-estar da Igreja. Nesse caso, o tema é bem geral: as mudanças climáticas afetam o bem-estar do mundo todo. Por isso, Francisco não se dirigiu só aos católicos, mas endereçou sua carta a “cada pessoa que habita neste planeta”.

O documento extenso (sua versão oficial tem 184 páginas) foi publicado em 18 de junho de 2015. Os Papas João Paulo II e Bento XVI já tinham falado sobre ecologia antes, mas a carta de Francisco foi a primeira vez que um dos pontífices focou nas mudanças climáticas e no caos global desencadeado pela emissão excessiva de gases de efeito estufa, o maior desafio coletivo da nossa época.

Continua após a publicidade

Entenda a postura ecológica do Papa

Bergoglio foi o primeiro Papa da América Latina, o primeiro oriundo da ordem religiosa dos jesuítas e o primeiro a escolher o nome Francisco para marcar seu papado. O nome é uma homenagem a São Francisco de Assis, um frade católico que nasceu no fim do século 12 e, nas palavras do Papa, era definido pela “simplicidade e dedicação aos pobres”.

Compartilhe essa matéria via:

Segundo Francisco, a ideia surgiu de uma frase que o brasileiro Dom Cláudio Hummes disse a ele logo depois da eleição no conclave: “não esqueça dos pobres”. Mas o nome do santo que fundou a ordem franciscana não carrega só uma missão para com os pobres, mas também para com a natureza.

Continua após a publicidade

São Francisco de Assis é o santo patrono dos animais e do meio ambiente. De acordo com a tradição católica, ele enxergava Deus espelhado na natureza e pregava aos animais, que tratava como (e chamava de) irmãos. Por isso, a encíclica Laudato si’ é nomeada com uma expressão do Cântico das Criaturas, de São Francisco, que significa “louvado sejas”. Nessa canção, ele louva a Deus pela “nossa irmã a mãe Terra”.

Quase um milênio antes dos hippies e dos ambientalistas dos anos 1960, o frade católico já falava da necessidade de se preocupar com o bem-estar do meio ambiente. Foi essa tradição de pensamento que Francisco seguiu em sua encíclica, defendendo a ciência produzida sobre as mudanças climáticas e argumentando que não pode haver mudança ecológica sem transformação social.

É isso que o Papa chamou de “ecologia integral”: reconhecer que “não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental”. Por isso, o líder religioso criticou os modelos de produção e consumo acelerados que só visam lucro, sem responsabilidade social e ambiental.

Continua após a publicidade

O Papa reconhece que os países pobres, que menos contribuíram para a crise climática, muitas vezes são os mais afetados por suas consequências. Por isso, ele convoca os países desenvolvidos a ajudar os países em desenvolvimento. Ele também escreve que o “uso intensivo de combustíveis fósseis” é um dos principais responsáveis por agravar as mudanças climáticas.

Na encíclica, Francisco defendeu que os cristãos deveriam passar por uma “conversão ecológica”, para “desenvolver a sua criatividade e entusiasmo para resolver os dramas do mundo”. Na visão do Papa, resolver o drama da crise climática envolve a participação de toda a sociedade, de várias formas diferentes.

Abrir mão do consumismo é uma parte importante do conselho do Papa, mas o documento reconhece que só ações individuais não vão resolver o problema da crise ambiental. Por isso, o Papa falava também de se envolver na política para garantir o cuidado do meio ambiente e das pessoas que mais sofrem com seu colapso.

Continua após a publicidade

A partir da publicação da encíclica, o ambientalismo assumiu uma posição importante na Igreja Católica. Dá para ver a importância do documento no Sínodo da Amazônia, assembleia que rolou em 2019 para repensar o papel pastoral e ecológico da Igreja na maior floresta tropical do mundo.

Francisco se encontrou com representantes de vários povos indígenas num evento no Peru e a Igreja se comprometeu a ajudar a defender a Amazônia e seus povos.

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.