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O evangelho ateu de Nietzsche

O pensador alemão criou a figura do "além-do-homem" - e, não satisfeito, dinamitou os valores morais e institucionais de sua época

Por Alexandre de Santi (edição: Bruno Garattoni)
Atualizado em 24 out 2020, 17h07 - Publicado em 11 dez 2015, 12h00

Livro: Assim falou Zaratustra
Autor: Friedrich Nietzsche
Ano: 1892
Por que ler? Para perceber a importância da rebeldia – e conhecer algumas verdades inconvenientes sobre as pessoas e a vida.

Quando concluiu parte de Assim falou Zaratustra, Nietzsche escreveu para seu editor dizendo que o livro era uma espécie de pregação moral. Dias depois, enviou novo recado alegando se tratar de “uma poesia ou um ‘quinto Evangelho’ ou algo para qual ainda não existe nome”. A indefinição é própria da filosofia experimental desse pensador explosivo.

Zaratustra foi um profeta persa que provavelmente viveu no século 6 a.C. e teria estabelecido a diferença entre o bem e o mal. O Zaratustra de Nietzsche assume a tarefa contrária: acabar com a dicotomia que governa a moral dos homens. Quem define o que é certo mesmo? Quem inventou que é errado diferenciar os homens entre si? Essa era, aliás, uma das críticas mais controversas do pensador ao princípio da igualdade defendido pela Igreja.

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”

O livro é composto de quatro partes, lançadas em momentos distintos. A obra como a gente conhece hoje só foi publicada em 1892, quando o filósofo vivia num manicômio.

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Nela, o pensador alemão faz emergir a figura do super-homem (ou além-do-homem), um indivíduo acima dos códigos morais e das ideias pré-fabricadas sobre como se deve viver.

Nietzsche acreditava que Platão – e depois o Cristianismo, que ele chamava de “platonismo para o povo” – deturpou a compreensão que temos de nós mesmos. Depois do século 5 a.C., a vida humana passou a ser considerada um erro. Afinal, a instituição tanto cristã como platônica de que existe um mundo ideal, perfeito – o Céu – relegava o mundo atual como imperfeito, errado, intrinsecamente ligado a uma existência de sofrimento.

Esse pensamento vai servir de base para as divisões clássicas entre o bem e o mal. O homem passou a ser submisso a esse ideal acachapante de perfeição e a obedecer a valores cristãos na tentativa de ficar entre os escolhidos.

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Em Zaratustra, ele questiona essa ética e prevê um mundo sem Deus, levando ao extremo a postura niilista que ganharia força no século seguinte. Sem o todo-poderoso, o homem ficaria livre para criar seus próprios valores e fazer o que bem entendesse, se tornando o tal super-homem.

Nietzsche Influenciou o anarquismo e todo desprezo às instituições, como o Estado, tão comuns hoje em dia, encantando de hippies a hackers.

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