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Museu confirma autenticidade de obra de Van Gogh pintada durante surto

Pesquisadores não sabiam se um autorretrato feito em 1889 era mesmo do pintor holandês. O motivo? Suas técnicas de pintura são incomuns. Entenda a história.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 12 mar 2024, 16h56 - Publicado em 21 jan 2020, 18h50

A dúvida que intrigava pesquisadores de história da arte desde os anos 1970 foi finalmente sanada: a obra “Autorretrato”, de 1889, é mesmo de autoria de Vincent Van Gogh. O anúncio foi feito na última segunda-feira (20) pelo Museu Van Gogh, em Amsterdã, capital da Holanda.

O pintor holandês possui outros 35 autorretratos, mas esse contém duas particularidades. Em primeiro lugar, foi o primeiro a fazer parte de uma coleção pública. Em segundo – mas definitivamente não menos importante –, é a única peça reconhecida como pintada durante surtos mentais do artista.

 

A obra foi concebida, provavelmente, em agosto de 1889, época em que Van Gogh estava vivendo no Asilo de Saint-Paul-de-Mausole, França. Sabe-se que ele morou lá durante um ano e, apesar de afastado de tudo e todos, não viveu do ócio. Na verdade, foi o período em que mais produziu, somando 143 pinturas a óleo e mais de 150 desenhos. Os temas iam desde o interior do hospital até os campos que via em seus passeios supervisionados.

Van Gogh tentou suicídio apenas dois meses após sair da internação, no dia 27 de julho de 1890. Faleceu dois dias depois devido às complicações. Estava lá para tratar de seus episódios psicóticos, que comprometeram sua saúde e suas relações pessoais. 

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A dúvida gerada quanto a autenticidade do tal autorretrato se deve ao estilo de arte usada nele. É uma imagem fria, triste e sombria. As cores predominantes são o verde e o marrom, e não há grande importância para a textura. Tais fatores vão contra as produções de Van Gogh, conhecidas por suas cores vibrantes, onde predominam tons azuis e amarelos. 

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The Woodcutter (after millet), 1889 (Van Gogh Museum/Reprodução)

Foram cinco anos de pesquisa para chegar a essa confirmação. Pesquisadores do Museu Van Gogh pediram que o Museu Nacional da Noruega, onde a tela estava desde 1910, enviasse a obra em 2014 para checagem. Desde então, foram comparadas outras pinturas do mesmo ano e também cartas íntimas escritas pelo artista. 

Em correspondências enviadas a Theo (seu irmão) em setembro de 1889, Vincent comentou sobre uma experimentação que teria feito durante um surto – provavelmente se referindo ao auto-retrato. A crise teria durado cerca de uma semana, abrangendo o fim de agosto e início de julho daquele ano.

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Garden of the Hospital, 1889 (Van Gogh Museum/Reprodução)

Dois outros autorretratos vieram depois desse, os últimos do pintor. No entanto, evocavam seu estilo original. A Smithsonian Magazine definiu o trio de obras como um dos capítulos mais difíceis da vida do artista. Os autorretratos se encontram na Galeria Nacional de Arte de Washington, Estados Unidos, e no Museu d’Orsay, de Paris. 

Antes de chegar ao Museu Nacional da Noruega, a tela estava com Joseph e Marie Ginoux, que dirigiam o Café de La Gare em Arles, onde Van Gogh se hospedou em 1888. No filme “Com amor, Van Gogh”, de 2017, é possível acompanhar como ele vivia nessa época.

O autor holandês costumava enviar as obras que produzia para seu irmão, porém, acredita-se que devido a melancolia enrustida na tela – que ele não queria mostrar a Theo –, acabou enviando ao casal de amigos. O motivo? Marie Ginoux estava enfrentando problemas de saúde. Então, Vincent lhe presenteou com o quadro para mostrar que sua situação era ainda pior. Em 1896 o casal vendeu o quadro por um valor equivalente a quatro libras.

A pintura será exibida temporariamente no Museu Van Gogh, na exposição In the Picture, entre 21 de fevereiro e 24 de maio. Depois, retornará ao Museu Nacional da Noruega. 

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