Monte seu próprio microscópio de papel – que funciona de verdade
Projeto desenvolve instrumentos científicos de baixíssimo custo em busca de expandir o acesso à ciência
Cerca de 10 minutos. Esse é o tempo necessário para montar o microscópio criado pelo projeto Foldscope, uma iniciativa que busca produzir instrumentos científicos de baixo custo a partir de materiais comuns – neste caso, papel. Essa é a base do modelo acima, um microscópio de baixíssimo custo desenhado para ser produzido de maneira acessível e com qualidade similar aos instrumentos usados para pesquisa.
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Resistente e durável, o instrumento pode cair de uma altura de até 3 andares e viver para aumentar mais elementos microscópicos – uma das vantagens de ser feito principalmente de papel. Outro trunfo é a sua portabilidade: o Foldscope cabe no bolso e pesa menos que um lápis. Mas não se deixe enganar pela aparência simples. A tecnologia envolvida em seu desenvolvimento é complexa – para os cientistas de plantão, o projeto do protótipo pode ser visto aqui.
E o resultado é impressionante. O instrumento é mais potente do que muitos que você pode já ter encontrado por aí: com lentes capazes de ampliar até 140 vezes, o brinquedinho tem capacidade para distinguir células vermelhas e permite até a observação de bactérias vivas. O Foldscope também é compatível com smartphones, possibilitando fazer fotos ou vídeos dos elementos observados nas lâminas.
O Foldscope foi criado por Manu Prakash e Jim Cybulski no período em que Jim era doutorando em Engenharia Mecânica no laboratório coordenado por Manu na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. A inspiração veio das visitas de campo realizadas em laboratórios localizados ao redor do mundo. Na maioria dos espaços visitados, a dupla se deparava com microscópios quebrados e antigos – isso quando encontravam os instrumentos, muitas vezes ausentes nos laboratórios com recursos limitados.
Originalmente pensado para permitir diagnósticos de campo baratos, o projeto acabou dando origem ao microscópio dobrável feito com papel impermeável, lentes e uma lâmpada LED. Como para produzir o instrumento são adquiridos materiais em grandes quantidades, cada unidade tem custo de produção de apenas um dólar americano.
O projeto piloto teve início em 2014 e distribuiu mais de 50 mil instrumentos em 135 países, para usuários de idades e ocupações variadas – desde crianças até laureados do Prêmio Nobel. Todos os participantes da fase de teste foram incentivados a compartilhar os resultados do uso do microscópio de origami. Com isso, foi possível averiguar uma série de usos práticos do instrumento – como a identificação de moedas e remédios falsos e de ovos microscópicos de pragas agrícolas, o mapeamento da diversidade de pólen em uma paisagem urbana, detecção de bactérias em amostras de água e até a catalogação da biodiversidade de artrópodes do solo na Amazônia.
“Nosso objetivo é encorajar e permitir que o explorador curioso que existe em cada um de nós possa fazer ciência em qualquer lugar, a qualquer momento”, afirmam os idealizadores do projeto. “Ao dissociar microscópios de bancadas de laboratório e torná-los acessíveis para todos, podemos começar a ver o mundo microscópico que define nossa saúde, nosso ambiente e quase toda a mágica que chamamos de ‘vida’. Não basta ler sobre isso em um livro; [é preciso] realmente ver e sentir o coração de animal microscópico bater e se perguntar o que é aquela coisa pequena em sua água”, completam.
Agora, a ideia é distribuir um milhão de Foldscopes ao redor do mundo. Para isso, o projeto lançou uma campanha de financiamento colaborativo no Kickstarter – com uma meta de arrecadação de 50 mil dólares, a iniciativa já ultrapassou a marca dos 150 mil. A expectativa é de que os colaboradores, além de reservarem um kit, ajudem a levar a iniciativa às suas escolas e comunidades. Os financiadores podem escolher instituições para doação de kit completos com o instrumento de papel e escolas interessadas em receber o microscópio de papel também podem se cadastrar clicando aqui.