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Mario Sergio Cortella: uma máquina imparável de escrever ideais

Há três décadas Mario Sergio Cortella encanta seguidores em livros sobre a felicidade e o mercado de trabalho.

Por Thales de Menezes
Atualizado em 26 Maio 2023, 15h23 - Publicado em 6 nov 2019, 14h00

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e todos os intelectuais brasileiros que dedicam seu trabalho a passar conceitos filosóficos a um público mais amplo, longe da academia, Mario Sergio Cortella é o que parece mais simpático à maioria das pessoas. De barba cerrada, encorpado, para muitos ele lembra um padre bonachão. Ele esteve bem perto disso. Integrou a Ordem dos Carmelitas Descalços, o que parece justificar a presença forte da espiritualidade em sua obra.

Cortella é professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pela qual chegou ao doutorado com a tese “Filosofia como Produção Histórica”. Pensador desde sempre ligado às questões de educação, seguidor de Paulo Freire, ele fez a transição da condição de professor acadêmico para um divulgador pop das ideias. Um de seus focos que atingem grande número de seguidores é a discussão do trabalho no mundo contemporâneo.

Em seus eventos presenciais, adota um discurso simples em que ilustra ideias clássicas do pensamento com passagens de suas vivências. Fala abertamente de temores e de ambições, reforçando a imagem de um professor camarada.

“Um professor quer ser alguém que ajude a formar opiniões sólidas, não meramente a ‘achologia’. Isso exige de mim uma formação continuada que me encanta e me agrada, me coloca o tempo todo no risco de ser alguém em quem as pessoas prestam muita atenção. Isso exige afastar o risco da superficialidade sem deixar de ser simples.”

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Cortella dá a impressão de estar confortável na condição de filósofo popular, de saber lidar com o assédio muito maior fora do círculo das universidades. “Sou da área de filosofia, preciso fazer uma reflexão da filosofia sem banalizá-la. Isso exige um esforço grande que me agrada, mas me deixa sempre em estado de atenção, nunca em estado de tensão. Na tarefa que escolhi da educação, fui beneficiado, imensamente, pelo mundo digital.”

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Ele mantém em canais nas redes sociais uma produção constante de vídeos. Sua performance ao vivo o transformou em convidado e muitas vezes presença fixa como comentarista em programas de TV. Quem acompanha essas intervenções na mídia e também seus livros que frequentam as listas de best-sellers encontra um equilíbrio entre um orientador de discurso coloquial e um filósofo interessado em liberalismo, marxismo e religião.

Cortella carrega em seus textos a importância da transformação da vida em algo grandioso, de fazer do cotidiano algo que vale a pena ser vivido. São questões de fé, mas que não devem ser confundidas com reflexões sobre dogmas ou livros sagrados.

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A pergunta central em sua obra pode ser resumida em “Qual a razão da nossa existência?”. Para tecer respostas, ou pelo menos indicar algumas direções para o início de discussões, Cortella transita entre arte, ciência, filosofia e religião.

É curioso como a trajetória do filósofo foi sendo fortemente absorvida pelo universo dos recursos humanos. Mais do que qualquer de seus colegas que também se propõem a oferecer reflexões para as massas, a obra de Cortella foi chamando atenção de quem lida com RH em empresas. Alguns de seus livros, como o best-seller Por que Fazemos o Que Fazemos?, são facilmente inseridos nas análises da vida profissional.

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O caráter de autojuda é evidente. Suas frases motivacionais pipocam na internet, e nelas fica em destaque a importância de confrontar as aspirações pessoais e as imposições do mercado. “Nossa vida é marcada pela pressa, não pela velocidade. Esta requer deixar as pessoas em estado de atenção permanente, enquanto a pressa é deixá-las em estado de tensão permanente, como as empresas vêm fazendo. Há um prazo de validade para isso, porque leva a um esgotamento grande demais das pessoas.”

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Trabalhar com ética e aprender a liderar estão entre os itens mais abordados por quem procura Cortella. Sobre as competências para liderar, ele lista cinco passos fundamentais.

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Para quem é tão procurado para falar sobre vida e trabalho e como orquestrar o relacionamento dessas duas coisas, Cortella tem sua própria conduta metódica. Desde 2012 passou a se dedicar às palestras, um mercado que abre cada vez mais espaço aos filósofos e no qual nomes como ele chegam a cobrar R$ 50 mil por evento. Mesmo assim, afirma acordar sempre às 4h30 da manhã. Gosta de escrever nesse fim de madrugada.

Ter várias obras encaixadas na lista de livros de autoajuda aparentemente não o incomoda. Ele considera seus textos provocações filosóficas. Segundo Cortella, a autoajuda nasceu ainda na Grécia Antiga, com Sócrates como grande representante. Ele lembra o tema socrático “conhece-te a ti mesmo”. Mas admite que a autoajuda é banalizada. “Uma parte da má literatura existe em qualquer área. Alguns dos meus livros estão no campo da reflexão pessoal. Não me incomodo com a palavra autoajuda. Ela pode ser banal, mas pode não ser.”

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Os livros em parceria, tendência forte observada na recente literatura de filosofia no Brasil, é um filão em que Cortella se sai bem. Há vários títulos publicados que ele escreveu com outros nomes do pensamento pop brasileiro, como Felicidade: Modos de Usar, com Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé, Verdades e Mentiras, em que ele, Pondé e Karnal se juntam ao jornalista Gilberto Dimenstein, Ética e Vergonha na Cara!, com Clóvis de Barros Filho, e Política: Para Não Ser Idiota, com Renato Janine Ribeiro.

Ele teve jornalistas como parceiros em Gerações em Ebulição, com Pedro Bial, Basta de Cidadania Obscena, com Marcelo Tas, e A Era da Curadoria: O Que Importa É Saber o Que Importa, nova colaboração com Dimenstein. Também dividiu livros com a Monja Coen (Nem Anjos Nem Demônios) e Frei Betto (Sobre a Esperança – Diálogos).

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Numa das associações mais inesperadas de sua trajetória, ele lançou Vamos Pensar um Pouco?, uma parceria com Mauricio de Sousa em um volume no qual conversa sobre filosofia utilizando Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Bidu.

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É verdade que Cortella parece ser inesgotável na hora de escrever, mas ele também sabe reciclar seus trabalhos para novas entregas aos seguidores. Lançou em quatro volumes a série Pensar Bem Nos Faz Bem!, que reproduzem falas diárias do autor na rádio CBN.

Em 2018, para comemorar os 30 anos do lançamento de seu primeiro livro, Descartes: A Paixão pela Razão, iniciou a publicação de uma série de coletâneas de “Ideias, Frases e Inspirações”. Até agora foram lançados O Melhor do Cortella: Trilhas do Pensar e O Melhor do Cortella 2: Trilhas do Fazer.

Em um de seus livros, Filosofia: E Nós com Isso?, pode estar a definição mais acurada que Cortella já fez de seu ofício: “A principal contribuição da filosofia é criar obstáculos, de modo a impedir que as pessoas fiquem prisioneiras do óbvio, isto é, que circunscrevam a sua existência dentro de limites estreitos, de horizontes indigentes e de esperanças delirantes. Em outras palavras, a filosofia estende a nossa consciência e fortalece nossa autonomia.”

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