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Filme que desbancou Star Wars é censurado na China

A distopia Ten Years ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Hong Kong - mas tem sido ignorada pelo governo chinês; entenda por quê

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 11h12 - Publicado em 5 jul 2016, 15h30

ten years filme

Tudo começa com um filme. O longa é sucesso de bilheteria, mas o governo ditatorial fareja problemas e censura a produção. Enfurecidos, os cidadãos começam a projetar a produção em praças, parques e nas ruas, atraindo milhares de outros espectadores. A coisa cresce, o longa é apontado como melhor filme em um importante festival e ganha projeção internacional. A partir daí, quanto mais o governo ignora, mais o mistério em torno do filme atrai espectadores – e tudo isso acaba criando um profundo questionamento sobre o tipo de governo que rege o país. 

Esse poderia ser o plot de um filme sobre realidades distópicas de Hollywood, como Jogos Vorazes ou Divergente, mas é uma história real – e chinesa. Ten Years (“Dez Anos”, em português) é um longa independente de Hong Kong que tem dado o que falar por tratar de um tema delicado: o domínio cultural do governo chinês sobre Hong Kong. Região Administrativa Especial, a cidade ganhou permissão para ser politicamente autônoma e capitalista desde 1997, quando a China recuperou o local do império britânico.

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O filme se passa em 2025 – dez anos no futuro -, e retrata uma Hong Kong à beira da dominação total chinesa. A narrativa é composta por cinco histórias curtas que giram em torno do tema da imposição cultural. Pelo trailer, dá para ver que em uma das histórias, o governo chinês começa a criminalizar o cantonês – dialeto local -; em outra, alguém se autoimola em frente ao consulado britânico.

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Produtos culturais são censurados, casas são queimadas, familiares se viram uns contra os outros e o clima ditatorial vai pesando cada vez mais, até que os personagens começam a questionar o modelo de governo imposto, protestam contra ele e chegam a falar democracia. Já deu para entender por que a China se irritou: a independência de Hong Kong incomoda o Partido Comunista Chinês, que tenta manter a unidade do país também por meio de um controle rígido da cultura – é uma clara crítica à forma como as coisas estão organizadas em Hong Kong.   

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Independente e de baixo orçamento (foram gastos 64 mil dólares para a montagem do longa), Ten Years não prometia muita coisa. Por isso, no começo, o governo chinês não deu muita bola para o teor “subversivo” do filme. Mas, depois de duas semanas em cartaz nos cinemas, o longa registrou bilheterias de US$ 5 milhões só em Hong Kong – e bateu a arrecadação do último Star Wars, em fevereiro. E não parou por aí: em abril, Ten Years ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Filmes de Hong Kong, e foi sucesso no Festival de Filmes Asiáticos de Osaka, no Japão, em março. Não demorou para a produção chamar a atenção do mundo ocidental e chegar aos EUA: agora, em julho, ele fará parte do Festival de Filmes Asiáticos de Nova York

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Foi só aí que o governo chinês começou a demonstrar preocupação – e, como estratégia, passou a fingir que o longa não existe. Ten Years não é citado na lista de vencedores do festival de Hong Kong, publicada pelos principais portais de notícias da China continental, e é ignorado na reportagem da agência nacional de notícias, Xinhua – mesmo tendo vencido na categoria Melhor Filme. 

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E não foi só isso, não. Durante a cerimônia de entrega dos prêmios, o governo chinês teria pedido à rede estatal CCTV que cortasse a transmissão da cerimônia e, de acordo com comentários na rede social Weibo, um tipo de Facebook chinês, a premiação teria sido substituída por um programa de culinária. As reclamações online incitaram protestos no mundo real: depois que a produção saiu dos cinemas, habitantes da região organizaram mais de 30 exibições comunitárias do filme, em ruas, parques e praças da cidade – das quais participaram milhares de pessoas. E aí, o governo chinês não podia mais ignorar o filme: o jornal estatal chinês Global Times publicou um editorial dizendo que o filme é um “vírus de pensamento” e um “promotor de pânico”. 

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Mesmo assim, em Hong Kong, o medo da represália chinesa tem sido maior do que a divulgação do filme. Em nota oficial sobre os longas que serão passados no Festival de Filmes Asiaticos de Nova York, o governo da região só menciona nove outros, sem citar Ten Years. Durante a entrega dos prêmios no Festival de Hong Kong, o cineasta Derek Yee, presidente da academia de cinema local, mencionou que havia sido difícil encontrar alguém para entregar o prêmio de melhor filme a Ten Years – mas reiterou, em entrevista ao New York Times, que não há nada de subversivo no filme, e que a única coisa que se deve temer nessa situação é o próprio medo. 

Ficou curioso? Assista ao trailer de Ten Years (com legendas em inglês):

 

 

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