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Efeito “Sideways”: como um filme mudou a indústria de vinhos nos EUA

Em 2004, o longa de Alexander Payne impactou a produção e o consumo das uvas merlot e pinot noir. Entenda.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 12 jan 2024, 20h36 - Publicado em 12 jan 2024, 18h32

Nesta quinta (11), chega aos cinemas do Brasil Os Rejeitados (The Holdovers), comédia dramática que levou dois prêmios no Globo de Ouro 2024, realizado no último domingo (7).

Os Rejeitados é um filme de Natal que, lá fora, estreou no final de outubro (o que faz muito mais sentido, convenhamos). Acompanha um grupo de alunos de um internato forçado a passar as festas de fim de ano na instituição, sob a tutela do professor Paul Hunham (Paul Giamatti) e a cozinheira Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph). 

Giamatti levou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical; Randolph, o de atriz coadjuvante. O longa, escrito e dirigido por Alexander Payne, também recebeu uma indicação a Melhor Filme – e deve aparecer no Oscar deste ano.

Não é a primeira vez que Payne e Giamatti trabalham juntos. 20 anos atrás, eles fizeram Sideways – Entre Umas e Outras (2004), um simpático filme que conta a história de Miles (Giamatti), um professor frustrado cujo único refúgio são os vinhos. Ele é um enófilo de carteirinha: não há nada que o conforte mais do que apreciar a bebida, detectar aromas e sabores, conhecer novos rótulos e produtores.

Miles viaja até o Nappa Valley (região vinícola da Califórnia) com o amigo de longa data Jack (Thomas Haden Church), que está prestes a se casar. Aos poucos, a viagem toma rumos inesperados, e a dupla começa a se questionar sobre suas decisões de vida – com muito álcool na veia, claro.

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Sideways mandou bem na temporada de premiações: em 2005, recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Levou uma estatueta, de Roteiro Adaptado. Mas o longa também repercutiu fora do mundo do cinema, e de um jeito que ninguém poderia prever.    

O “Efeito Sideways”

Sideways (2004)
(IMDB/Reprodução)

No filme, Miles é um apaixonado por vinhos feitos com a uva pinot noir. Em contrapartida, não suporta bebidas à base de outra conhecida variedade da fruta, merlot. Em uma cena, ele diz a Jack: “Se alguém pedir merlot, eu vou embora. Não vou tomar p* de merlot nenhuma!”.

(A reação não se deu apenas pela qualidade da bebida: a ex-esposa de Miles adorava merlot.)

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O diálogo é rápido, mas bastou para convencer os espectadores. Em 2009, um estudo da Universidade Sonoma State, na Califórnia, mostrou que, de 2005 a 2008, as vendas de merlot caíram 2% no país, enquanto as de pinot noir subiram 16%. Essa tendência também aconteceu no Reino Unido.

Desde o lançamento de Sideways, a produção de pinot noir aumentou 170% na Califórnia. A variedade se tornou queridinha e um dos pilares da vinicultura do estado. Muita gente quis surfar nessa onda – inclusive Rex Pickett, autor do livro no qual o filme é baseado e que já lançou dois rótulos de pinot.

O mundo dos vinhos apelidou todo esse fenômeno de “efeito Sideways“. O filme, vale dizer, também deu um gás no turismo da região vinícola da Califórnia. Mas, afinal, Miles estava certo quanto ao pinot noir e ao merlot?

Não necessariamente. Ambas as variedades ajudam a compor alguns dos melhores rótulos do mundo. O merlot faz vinhos suaves, é uma uva de Bordeaux (a segunda maior região produtora da França) e se adaptou bem ao clima do sul do Brasil. Não é, nem de longe, uma variedade de se jogar fora.

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Especialistas ouvidos pela rádio NPR e pela revista Food and Wine, dos EUA, dizem que Sideways não foi o único responsável pela queda nos preços de merlot. Era algo que já estava acontecendo na época do lançamento do filme.

Acontece que, nos anos 1990, o merlot era o queridinho da vez, e muitos vinicultores da Califórnia passaram a plantá-lo. Nem todos da maneira correta, porém. Num cenário com tanto merlot no mercado, algumas garrafas californianas ganharam vinhos de qualidade inferior. Eis a fama da variedade naquela época por lá, traduzida no diálogo de Sideways.

Sideways (2004)
(IMDB/Reprodução)

Nos últimos anos, os preços de merlot voltaram ao normal. E olha só: um estudo de 2022, conduzido pela Journal of Wine Economics, mostrou que a situação se inverteu. A alta procura levou a um aumento da produção de pinot noir na Califórnia. Para atender a demanda, muitos produtores acabaram plantando a variedade em locais inadequados. Ou seja, hoje, as chances de encontrar uma garrafa de pinot noir mais ou menos por lá são maiores do que as de encontrar um merlot qualquer coisa.

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O jogo virou, não é mesmo? Sideways está disponível no Star+.

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