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Como os pets se transformaram em parte fundamental da economia brasileira

Enquanto a porcentagem de filhos por família cai, o número de animais de estimação aumenta – e junto com eles os gastos em creche, veterinários e até acupuntura. Entenda como os pets movimentam a economia do país.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 14 out 2025, 09h54 - Publicado em 13 out 2025, 19h00

O Brasil vive uma silenciosa revolução doméstica. Com lares cada vez menores e um número crescente de pessoas adiando – ou simplesmente descartando – a ideia de ter filhos, os animais de estimação ocupam um novo espaço na estrutura familiar e na economia do país: o de verdadeiros e únicos herdeiros.

De acordo com levantamento do Instituto Quaest, o Brasil é hoje o terceiro país com mais animais de estimação no mundo. Enquanto o tamanho médio das famílias caiu de 3,62 pessoas em 2003 para 2,8 em 2022, a proporção de pets por residência disparou, alcançando 2,3 animais por domicílio.

Mas o fenômeno ultrapassa o afeto. Ele está moldando o consumo, o mercado de trabalho e as políticas públicas. Uma tese de doutorado da economista Clécia Satel, da Universidade de São Paulo (USP), mostra que entre 2002 e 2018 o número de famílias brasileiras que declararam gastos com pets quase triplicou, passando de 11,7% para 30,2%.

“Antigamente, os gastos eram praticamente com ração e medicamentos, e agora temos variedades de serviços e itens, desde roupas até petiscos que alimentam grandes indústrias”, afirma Satel para o Jornal da USP.

O estudo, baseado em três edições da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE (2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018), revela que o gasto médio mensal com animais cresceu 145% no período, subindo de R$ 8,32 para R$ 20,42. Em famílias com maior renda e escolaridade, o valor chega a ultrapassar R$ 88 por mês.

A nova família tradicional brasileira

Os números traduzem uma mudança cultural profunda. O arranjo “casal com dois filhos ou mais” caiu 10% entre 2003 e 2018, enquanto os casais sem filhos cresceram 114%. E são justamente esses casais – menores, urbanos e com maior poder aquisitivo – os que mais investem em seus animais.

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Nas classes médias e altas, o gasto com planos de saúde veterinários, adestramento e hospedagem é expressivo. A razão de concentração para esses serviços – uma medida que indica quanto o consumo é dominado pelos mais ricos – ultrapassa 0,9 em quase todos os casos, aproximando-se da exclusividade de luxo.

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Segundo a tese da pesquisadora, esse fenômeno é conhecido como pet parenting (algo como “criação de pets como filhos”). Na prática, isso significa que os bichinhos são vistos e tratados como membros da família, tal qual os filhos humanos. 

Casas com maiores rendas, especialmente nas regiões Sul, Centro-Oeste e no Estado de São Paulo, são as que mais gastam com os pets. 

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A economia pet em expansão

O impacto é visível nas prateleiras e nas ruas. Cafés, bares e shoppings “pet friendly” multiplicam-se. Hoje, clínicas veterinárias e creches caninas surgem em ritmo acelerado e nichado, enquanto o mercado de serviços premium – que inclui banhos de creme, massagens e até acupuntura e quiropraxia em animais  – movimenta bilhões.

“Muitos colocam o seu pet numa creche mensalmente – vão trabalhar, deixam o pet na cache e pegam no final do dia, semelhante a uma criança – e as despesas vão mudando”, diz Satel ao jornal.

Empresas começam a oferecer planos de saúde que incluem os animais dos funcionários, e companhias aéreas adaptam suas políticas para permitir o embarque dos pets na cabine. 

Para as famílias de baixa renda, contudo, o cenário é outro. A pesquisa mostra que o peso dos gastos com pets pode comprometer parte relevante do orçamento. Muitos tutores ainda alimentam os animais com sobras de comida, prática comum até o início dos anos 2000. A diferença de consumo entre classes – de petiscos importados a rações caseiras – ilustra a desigualdade estrutural do país.

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Apesar disso, o vínculo emocional atravessa as fronteiras sociais. Em entrevistas realizadas pela pesquisadora, a maioria dos tutores afirmou que os animais melhoram o bem-estar emocional e reduzem a solidão.

Durante a pandemia, esse elo se intensificou: milhões de brasileiros adotaram cães e gatos em busca de companhia e conforto, explica a pesquisadora ao Jornal da USP. “Muitos casais estão optando por não ter filhos ou deixando para o futuro, e encontram num animal de estimação uma companhia que não exige tamanho compromisso”, explica.

Com uma nova POF prevista para 2026, Satel acredita que o fenômeno vai se revelar ainda mais acentuado. Enquanto isso, tramita no Senado um projeto de lei para criar o Dia dos Pais e Mães de Pet, celebrado em 4 de outubro – dia de São Francisco de Assis, o santo protetor dos animais.

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