Como funciona a votação do Oscar?
Quem pode votar? Quais filmes podem concorrer? "Ainda Estou Aqui" tem chances reais? Entenda o passo a passo da premiação.

Devido aos incêndios de Los Angeles, o anúncio dos indicados ao Oscar 2025 já foi adiado duas vezes desde o começo do ano. Agora, o evento está marcado para acontecer no dia 23 de janeiro, às 10h30 (horário de Brasília), em uma transmissão na internet. Já a cerimônia de entrega dos troféus continua mantida para 2 de março.
A nova data para o anúncio estendeu o período de votação. Os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS, na sigla em inglês), responsável pelo Oscar, tem até o dia 17 de janeiro para escolher os seus favoritos.
Aumentar a janela de votação pode ajudar Ainda Estou Aqui, segundo a imprensa especializada. Afinal, haverá mais tempo para promover o filme, o que pode fazer mais membros da Academia o assistirem. Fernanda Torres, Selton Mello e o diretor Walter Salles seguem em uma massiva campanha de divulgação nos EUA, que é onde a maior parte dos votantes se concentra.
O filme brasileiro já está na lista de pré-indicados na categoria de Melhor Filme Internacional, e suas chances de nomeação crescem a cada dia nessa e em outras categorias (Atriz, Roteiro Adaptado e até Filme). No último domingo (12), Ainda Estou Aqui venceu Emília Perez (seu algoz no Globo de Ouro) no prêmio de longa internacional do Festival Internacional de Cinema de Palm Springs, nos EUA.
Mas, afinal, como funciona a votação do Oscar? Quem são os membros da AMPAS? E quais filmes estão aptos a concorrer? A Super preparou um guia para te ajudar nessa temporada de premiação. Vamos lá.
A Academia
A AMPAS tem mais de 10 mil membros, divididos em 20 ramificações: atores, diretores, figurinistas, designers de produção e por aí vai. O setor dos atores é o maior deles, com 1,3 mil associados. Ao todo, 9,5 mil membros da AMPAS estão aptos para votar no Oscar.
Esse é um número 65% maior em comparação a uma década atrás. Uma chuva de reclamações sobre a falta de representatividade no Oscar forçou a Academia a diversificar a lista de votantes, com mais mulheres, negros e pessoas de fora dos EUA, por exemplo.
Todo ano, a AMPAS convida novos membros; em 2024, foram 487. Para receber um convite, é preciso ou ser indicado ao Oscar ou ser “apadrinhado” por ao menos dois membros antigos, que levarão o nome para consideração da entidade. Dentre os brasileiros que podem votar no Oscar estão Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro, Alice Braga, Anna Muylaert, Bruno Barreto, Daniel Rezende – além dos próprios Salles e Mello.
Os filmes escolhidos
Em 2025, a AMPAS classificou 323 filmes como elegíveis para a votação do Oscar. Destes, 207 podem disputar o troféu de Melhor Filme.
A regra geral é que o longa precisa ser exibido por ao menos uma semana em pelo menos um de seis lugares nos EUA (Los Angeles, Nova York, Chicago, São Francisco, Dallas e Atlanta). É por isso que alguns filmes de plataformas de streaming como a Netflix estreiam antes nos cinemas, em circuito limitado, só para poder concorrer.
Há também exigências técnicas, como a duração (mínimo de 40 min, com exceção dos curtas) e os formatos de áudio e vídeo. Cada categoria também pode ter regras específicas. No caso de Filme Internacional, por exemplo, são considerados os longas escolhidos por cada país como o seu representante. Você pode entender mais sobre esse troféu neste texto.
Ingenuidade acreditar que todos os membros da Academia assistem a todos os filmes indicados, claro. Mas não é por falta de oportunidade. Há um cinema em Beverly Hills, em Los Angeles, que exibe sessões especiais para a AMPAS – que, por sua vez, também disponibiliza os filmes nomeados em um streaming apenas para os votantes.
A votação
Na primeira rodada, os membros só podem votar em duas categorias: Melhor Filme e na sua respectiva ramificação dentro da AMPAS (atores escolhem em atores, roteiristas escolhem roteiristas…). Há setores que não possuem troféus correspondentes (caso da galera do marketing e de relações públicas); eles votam apenas para Melhor Filme.
Os mais votados, claro, vão para a lista de indicados. A partir daí, todos os membros podem votar em todas as 23 categorias, sem restrições. A eleição é feita online e auditada pela empresa PwC.
Em 22 categorias, ganha quem conseguir o maior número de votos. Normal. Mas, para Melhor Filme, o sistema é diferente.
Os votantes precisam colocar os indicados em ordem de preferência, do melhor para o pior. Se um filme aparecer em primeiro lugar nas listas de 50% dos membros + 1, então ele vence “em primeiro turno”.
Só que esse é um cenário raro, em que o longa precisaria ter um favoritismo absurdo (algo cada vez mais improvável de acontecer, a julgar pela lista de votantes mais diversa). O que acontece, então?
Há uma segunda rodada de apuração, em que o filme que menos apareceu em primeiro lugar é eliminado da competição. “Ora, mas e se eu coloquei ele no topo da minha lista?” Nesse caso, o segundo lugar assume a dianteira. O “vice” passa a valer como o seu voto.
As sequências de eliminação se repetem até que se encontre um filme que apareça em primeiro em mais da metade das listas. É um sistema que valoriza o consenso, já que enaltece os longas bem posicionados na lista da maioria dos votantes.
É como na Fórmula 1: um piloto com mais vitórias, mas que não completa várias corridas, pode perder o campeonato para o corredor com uma temporada mais consistente, pontuando em todos os GPs. Um filme que apareceu várias vezes em primeiro, mas também várias vezes em último, pode perder para aquele que figurou ali no segundo ou terceiro lugar das listas dos votantes.