As histórias reais que inspiraram a criação de Frankenstein
Neste Halloween, conheça os casos de experimentos científicos que levaram Mary Shelley a escrever esse clássico do terror
Lançado em 1818, o romance “Frankenstein ou o Prometeu Moderno” (“Frankenstein, para os íntimos) foi escrito pela britânica Mary Shelley, que na época tinha apenas 19 anos.
Exatos 200 anos depois do seu lançamento, a história do monstro criado pelo cientista Victor Frankenstein (sim, o nome que deu fama ao personagem vem do seu criador) virou um verdadeiro símbolo da cultura pop, ganhando filmes inspirados no livro e aparecendo em outras produções associadas ao terror e ao Halloween.
E assim como Bram Stoker, o autor de Drácula que se inspirou na história do monarca Vlad III para criar a história do vampiro mais famoso de todos os tempos, a jovem Shelley também estava antenada nos acontecimentos da época para compor o seu livro.
O professor de História Iwan Morus, da Universidade Aberystwyth, do País de Gales, elencou alguns deles em um texto publicado no site The Conversation. Veja a seguir os mais inusitados.
George Forster
Em 1803, quinze anos antes do lançamento de “Frankenstein”, um jovem inglês chamado George Forster foi condenado à forca por um assassinato dentro de uma prisão em Londres. Depois da execução, seu corpo seria levado para uma dissecação pública na Royal College of Surgeons, uma tradicional faculdade de medicina de lá.
Só teve um pequeno problema: Forster, na verdade, foi eletrificado. O seu cadáver, para ser mais exato. Quem relatou o experimento, na época, foi o jornal The Time, que disse que além da movimentação dos músculos e das mandíbulas, um dos olhos do corpo de Forster chegou a abrir com o choque.
Stephen Gray
Em 1730, um astrônomo e tintureiro inglês chamado Stephen Gray suspendeu um menino órfão em fios de seda no ar para demonstrar princípios de condutividade elétrica.
Basicamente, um tubo de carga positiva foi colocado perto dos pés do menino, criando uma carga negativa neles. Devido ao seu isolamento elétrico, uma carga positiva foi criada na outra extremidade da criança, fazendo com que pequenos pedaços de folha de ouro fossem atraídos para os dedos dele
Os estudos entre a relação entre a vida humana e a eletricidade eram comuns na época. O próprio Isaac Newton, no início dos anos 1700, mencionava isso em seus estudos. O italiano Luigi Galvani (sogro do filósofo Giovanni Aldini, que eletrificou Forster), ficou famoso por testar a interação da eletricidade em animais. Não à toa, deriva do seu nome o termo galvanismo – a geração de correntes elétricas por meios químicos.
Andrew Ure
Meses após o lançamento do livro de Shelley, em 1818, outro experimento: o químico escocês Andrew Ure realizou experiências elétricas no corpo de Matthew Clydesdale, executado por assassinato. Em seus relatos, Ure descreveu que os experimentos foram tão macabros que pessoas que acompanhavam as demonstrações eram forçadas a deixar o local – uma delas, inclusive, teria desmaiado.
Outro entusiasta desses experimentos foi o próprio marido de Mary, Peter. Para o professor Iwan Morus, a escritora vivia em uma sociedade na qual estudos do tipo eram comuns. “Frankenstein pode parecer fantasia para os olhos modernos, mas para seu autor e leitores originais não havia nada de fantástico nisso.”, disse, em seu artigo sobre o tema.
“Assim como todo mundo sabe sobre inteligência artificial agora, os leitores de Shelley sabiam sobre as possibilidades da vida elétrica”, analisa. É como um episódio de Black Mirror – em pleno século 19.