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A teoria psicológica dos anos 1980 que pode ter inspirado Divertida Mente

Em 1980, o psicólogo Robert Plutchik teorizou que existiam oito sentimentos básicos, atribuiu cores a eles e previu até que elas se misturavam.

Por Bela Lobato
31 jul 2024, 19h00

Se engana quem enxerga os dois Divertida Mente da Pixar como filmes só para crianças. O sucesso de bilheteria que já vendeu mais de 20 milhões de ingressos só no Brasil pode até não ser um retrato preciso de alguma teoria psicológica sobre a personalidade, mas foi elogiado por profissionais da área mundo afora por sua precisão e cuidado na representação da mente humano. 

Nos filmes, observamos a pequena Riley encarando o mundo a partir das decisões tomadas por suas emoções, que são personagens literais que ficam dentro da sua cabeça. Na primeira animação, são cinco emoções básicas: Alegria, Raiva, Medo, Tristeza e Nojo. Eles passam maus bocados na transição para a pré-adolescência, quando seus pais se mudam de cidade e Riley começa a ter sentimentos mistos.

No segundo filme, ela chega à adolescência propriamente dita e novas emoções aparecem: Ansiedade, Inveja, Vergonha, e Tédio. Cada um desses personagens tem uma aparência bem caricata e colorida: a Tristeza, por exemplo, é azul e lenta. A Raiva é um homenzinho vermelho e estourado cujo crânio explode em chamas quando fica nervoso; e a Tédio, lilás, fica o tempo todo deitada no sofá com um ar blasé, indiferente a tudo, rolando o feed no celular.

A Pixar nunca disse especificamente em qual teoria a história seria baseada, mas o segundo filme reforça a opinião de quem acredita se tratar da Teoria da Roda de Plutchik. Esse psicólogo norte-americano publicou, em 1980, um trabalho em que defendia a existência de oito emoções básicas, que se misturam. 

A teoria se destaca pela elaboração de um esquema colorido que facilita a compreensão da relação entre cada emoção. Abaixo, reproduzimos um guia que ajuda a entender a Roda de Plutchik.

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Gráficos de cores primárias e secundárias esquematizando as emoções em primárias, opostas, compostas.
(Montagem sobre reprodução (Foto: PICTEORICO / Getty Images)/Superinteressante)

As oito emoções básicas, segundo Plutchik, seriam alegria, tristeza, raiva, medo, antecipação, surpresa, nojo e confiança. Elas estão organizadas em pares de antagonistas, que ficam de lados opostos da roda. 

A roda não é bidimensional: o modelo na verdade é um cone, o que permite que os sentimentos se misturem, como se fossem tintas. Assim, o autor defende que a mistura de sentimentos de antecipação com os sentimentos de raiva resulta em agressividade, assim como a mistura de medo e surpresa resulta em intimidação.

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Os fãs da franquia podem já ter percebido outra semelhança entre esse guia e os personagens: as cores. Plutchik organizou os sentimentos em um degradê, em que os tons mais saturados são os sentimentos básicos em sua versão mais intensa, e os tons mais claros são as versões mais tênues.

Os criadores escolheram usar as mesmas cores de Plutchik para os personagens: a alegria é amarela; a raiva, vermelha; a tristeza, azul. O nojo é considerado uma forma mais leve do tédio, e é lilás como no filme. A ansiedade é laranja no filme, e pode estar dentro da fração de “antecipação” da roda.

Algumas são diferentes: para o psicólogo, o nojo é roxo e o medo verde, enquanto nos filmes são o contrário. Apenas duas não têm correspondência: Inveja e Vergonha, personagens do novo filme, ficam sem lugar na roda de Plutchik. 

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Na prática, a teoria do psicólogo norte-americano não deve ser enxergada como uma verdade absoluta, mas um esquema de interpretação. Segundo o autor, os sentimentos são formas de reação ao mundo externo, com o objetivo de buscar o equilíbrio psíquico após um acontecimento. Ele acreditava que essa é uma característica adaptativa presente em todos os animais, não só os humanos.

Plutchik chamou essa ideia de “síntese psicoevolutiva” porque ela se baseia na ideia de Charles Darwin de que as  emoções existem porque mobilizam o animal a tomar atitudes que vão ajudá-lo a sobreviver. O primeiro filme explica isso quando diz que o medo impede que você se coloque em perigo e o nojo impede que você se envenene. 

É importante perceber que os filmes não são e nem tentam ser uma representação fiel da teoria de Plutchik. Melhor do que isso, talvez sejam justamente uma oportunidade de simplificar assuntos complexos, e trazer recursos para famílias e educadores.

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“A personificação das emoções como personagens na história de Riley do amarelo radiante da Alegria ao azul contemplativo da Tristeza oferece uma maneira acessível e envolvente para que os espectadores se conectem e entendam seus sentimentos.”, afirmam Lori e Joshua Plutchik, respectivamente a filha psiquiatra e o neto de Robert Plutchik, em um texto no site Psychology Today.

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