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A história do Rock – A invasão britânica

A Inglaterra absorve o rock americano, e o devolve melhorado, com Beatles, Stones, The Who...

Por Ivan Finotti
Atualizado em 30 abr 2020, 16h29 - Publicado em 19 ago 2019, 13h27

 

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(Stan Wayman/Getty Images)

No início dos anos 1960, o rock nos Estados Unidos estava sendo relegado a segundo plano. Canções mais populares, com cantores e cantoras brancos e de rosto perfeito, e que falavam das delícias da vida estudantil ou familiar, tomavam as paradas de assalto.

Mas eis que garotos ingleses sem ter o que fazer começaram a ouvir discos de roqueiros negros norte-americanos. E a copiá-los. Só que eles copiaram tão bem que, quando a juventude americana ouviu seu som, ficou de quatro. Foi a invasão das bandas britânicas.

No final de 1963, quando os Beatles chegaram, os EUA já eram a mais poderosa e influente nação do mundo. E seu mercado interno era muito maior que o da Inglaterra. Por isso, uma banda que estourasse ali não apenas ficava rica como era exportada para todo o Ocidente. O que fazia sucesso nos EUA fazia sucesso no mundo inteiro. Inclusive no Brasil.

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Pela quantidade de hits e qualidade de suas canções, os Kinks poderiam ter se tornado a terceira maior banda de rock da Inglaterra, atrás dos Beatles e dos Rolling Stones. Mas, apesar de suas primeiras canções terem feito sucesso nos EUA, logo eles se tornariam uma banda tão inglesa, mas tão inglesa, que acabaram se fechando em sua ilha.

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A primeira fase já seria suficiente para os Kinks nessa lista de melhores bandas da Inglaterra dos anos 1960. Eles basicamente inventaram o rock pesado com “You Really Got Me”, seguida de uma batelada de canções semelhantes e ótimas. Mas foi na segunda fase, aquela que não agradou aos EUA, que eles se tornaram imprescindíveis. Seu cantor Ray Davies compôs uma série interminável de músicas perfeitas descrevendo a vida britânica, o cotidiano do homem comum, os ares dos campos ingleses, o chá da tarde, a vida dos aposentados, o amor à beira do Rio Tâmisa. “Esta é a minha rua, e eu nunca vou deixá-la”, cantou na comovente “Autumn Almanac”. E houve “Lola”, em 1970. Mas aí já era tarde demais.

 

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The Hollies acabou ficando conhecida como a banda de Graham Nash, que em 1968 trocaria a Inglaterra pelos EUA para formar a Crosby, Stills & Nash, trio que viraria um quarteto com a chegada de Neil Young. É um tanto injusto, uma vez que Nash não era exatamente o líder dos Hollies, nem havia se tornado o grande compositor de canções como “Our House” e “Teach Your Children”.

Mas Nash estava lá na formação do grupo e no lançamento da poderosa “Bus Stop”, que lhes valeu seu primeiro top 10 na América, em 1966. Sua saída deixou os Hollies pendendo mais para o pop, o que abriu caminho para a gravação de hits melosos e inesquecíveis, como “He Ain´t Heavy, He´s My Brother”, de 1969, e “The Air That I Breath”, de 1974.

 

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Os Animals são notáveis por duas coisas: seu vocalista, Eric Burdon, e a versão com órgão que fizeram para “The House of the Rising Sun”. Segundo compacto lançado pelos Animals, começa como uma lenta balada, com guitarra dedilhada e, conforme vão entrando os outros instrumentos, Eric Burdon passa a gritar, fazendo a música crescer até ficar quase ensurdecedora. Foi um sucesso instantâneo em 1964 e levou a banda ao primeiro lugar na Inglaterra, Estados Unidos e França.

Burdon e seus animais, porém, não eram grandes compositores. Muitos de seus lançamentos são regravações de músicas tradicionais (caso de “The House of the Rising Sun”) ou de sucessos na voz de outros artistas, como “Don’t Let Me Be Misunderstood” (gravada por Nina Simone um ano antes, em 1964). Há pérolas de autoria própria, porém: procure a bela “San Francisco Nights” e viaje diretamente para 1967.

 

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– Vamos ao show do Quem? – Quem? – Sim. – Sim o quê? – Quem.

Traduzir nomes de bandas geralmente resulta em desastre, mas pode ser útil no caso do Who. O quarteto londrino chegou para causar confusão e nonsense, como no diálogo fictício acima. Ao contrário dos Beatles e dos Stones, o Who nunca foi vendido como uma boy band para tietes histéricas. Os quatro caras feios tocavam para outros rapazes desajustados.

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No início de carreira, o Who era a banda favorita dos mods – jovens obcecados por moda, música e uma certa dose de violência. A garotada delirava com a falta de modos da banda: o cantor girava o microfone pelo fio, o baterista arrebentava os tambores e o guitarrista espatifava o instrumento no chão. O hit mais importante dessa fase é “My Generation”, composição de Pete Townshend em que ele dizia preferir a morte a envelhecer. O guitarrista logo se firmou como líder e autor dos maiores sucessos do Who, peças cada vez mais sofisticadas.

Lançado em 1969, Tommy foi um álbum conceitual – todas as faixas sobre o mesmo tema – e, dois anos mais tarde, com Who’s Next, o grupo conquistou de vez a crítica com rock pesado. A morte do baterista Keith Moon, em 1978, foi um baque de que o Who nunca se recuperou. Entre idas e vindas e lançamentos esporádicos, a banda ainda toca ao vivo.

 

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Daqui saíram Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck. Precisa dizer mais alguma coisa? Bem, eles não chegaram a tocar os três, mas Clapton e Beck estiveram juntos na banda em 1965, assim como Beck e Page no ano seguinte. Dessa força nasceu uma das bandas mais pesadas do rock inglês de então, com porradas como “Shapes of Things”, “Evil Hearted You”, “You’re a Better Man Than I” e muitas outras, cantadas por Keith Relf.

É uma sorte que a revolucionária, violenta e estrondosa versão da tradicional “Train Kept A-Rolling” tenha impressionado tanto o cineasta Michelangelo Antonioni que ele pediu à banda que a executasse num show para filmar em 1966. Por questão de direitos autorais, uma nova letra foi escrita dez dias antes e a música mudou de nome para “Stroll On”. Assista Blow-Up – Depois Daquele Beijo. Está tudo lá.

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A voz rasgada de Rod Stewart sempre chamou atenção e, após passagens por diversas pequenas bandas, despontou como vocalista do Jeff Beck Group e, em seguida, do Faces, ao lado do guitarrista Ronnie Wood. Paralelamente, lançou sua carreira solo e foi aí que estourou, em seu terceiro disco, com o megahit “Maggie May”. O álbum Every Picture Tells a Story, de 1971, chegou ao primeiro lugar na Inglaterra e nos EUA.

Pelo refrão de “Da Ya Think I´m Sexy?”, foi processado por plágio por Jorge Ben Jor e sua “Taj Mahal” – e perdeu. O sucesso seguiu, embora em declínio, nos anos 1980 e 1990, até que, nos anos 2000, deu uma virada significativa ao se concentrar em lançar velhas canções americanas, estilo Frank Sinatra. Deu certo e voltou a arrastar multidões a estádios.

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Foi preciso que os Beatles acabassem, em 1970, para que os Stones se tornassem a maior banda de rock do mundo. Mas a verdade é que, em questão de rock’n’roll e energia, eles já estavam em primeiro lugar. Por alguns anos eles estiveram à sombra dos Beatles, que ofereceram, inclusive, uma de suas primeiras canções, ”I Wanna Be Your Man”.

Originalmente liderada por Brian Jones, que se afundou nas drogas para morrer em uma piscina em 1969, a banda aos poucos foi sendo capturada pela dupla de compositores, Mick Jagger e o guitarrista-base Keith Richards. Essa fase, iniciada em 1968 com o disco Beggars Banquet, é uma das mais prolíficas da banda, com grandes canções que se tornariam hinos absolutos do rock, como “Gimme Shelter”, “Jumpin’ Jack Flash”, “Sympathy for the Devil”, “Brown Sugar”, “Tumbling Dice”, “It´s Only Rock’n’Roll (But I Like It)” etc, etc, etc.

Após flertarem com o reggae e a discoteca, nos anos 1980, os Stones voltaram triunfantes com o disco Tattoo You, e a turnê mundial que fizeram depois estabeleceu o esquema usado até hoje para grandes shows: em estádios de futebol ao ar livre.

 

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A banda que mudou o mundo é uma das raras dessa seção que não foi formada em Londres. Eram quatro garotos de Liverpool, cidade marítima que fica na costa oeste da Inglaterra e cujo porto recebia da América grãos, discos de rock e outras coisas menos importantes.

Imitando o som dos negros do outro lado do Atlântico, John Lennon e Paul McCartney aprenderam a tocar, a compor e logo conseguiram um contrato de gravação (após serem recusados pelo primeiro estúdio, que, desesperado, contratou os Rolling Stones a seguir). Em 1963, seu terceiro compacto, com “Please Please Me”, estourou em toda a ilha, mas foi com “I Want to Hold Your Hand” que os Beatles arrasaram a América e abriram a porta para toda a invasão britânica.

A Beatlemania que se seguiu, na qual os músicos sequer conseguiam escutar o que tocavam no palco, foi apenas o começo de uma revolução. Os Beatles são tão importantes não por causa das dezenas de canções que atingiram o primeiro lugar no mundo inteiro. Mas porque estiveram no centro de uma mudança de costumes que começou em seus cabelos compridos e terminou na contracultura, passando pelo movimento de paz e amor, pela revolução sexual, pela moda, pelo psicodelismo e pela arte em geral.

Se Lennon & McCartney se tornariam a assinatura musical mais famosa de todos os tempos, o guitarrista George Harrison logo começou a compor e em alguns anos estava à altura de seus companheiros. Frank Sinatra certa vez disse que sua música preferida de Lennon & McCartney era “Something”. Mas essa é do George. Já Ringo Starr foi sempre competente na bateria e terrível quando estava ao microfone. Mesmo assim, se notabilizou cantando algumas boas, como “Yellow Submarine” e “With a Little Help From My Friends”.

Quando os Beatles nasceram, o padrão da indústria era o compacto. Conforme eles próprios se sofisticavam, passaram a trabalhar com o conceito de álbuns inteiros, com uma ideia por trás. Se você puder escutar apenas um disco dos Beatles, tente Abbey Road, o último que eles gravaram. Mas se preferir ouvir apenas canções, saiba como eles foram originais: colocaram um quarteto de cordas em um rock (“Eleanor Rigby”), depois uma orquestra inteira (“A Day in the Life”), gravaram solos ao contrário (“I’m Only Sleeping”), se meteram com experimentalismos (“Tomorrow Never Knows”), com música indiana (“Within You Without You”), inventaram uma banda e se passaram por eles (“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”) e definitivamente inventaram o heavy metal (“Helter Skelter”).

Também foram sublimes, criando algumas das canções mais bonitas e lembradas da história do rock: “Strawberry Fields Forever”, “Yesterday”, “While My Guitar Gently Weeps”, “Hey Jude”, “Lucy in the Sky with Diamonds”, “Penny Lane”, “Come Together”, uma lista fácil de fazer e difícil de parar. Em todas essas frentes, com todas essas músicas, os Beatles se tornaram a banda mais influente de todos os tempos. Tudo o que fizeram foi copiado pelos artistas da época – e ainda hoje é.

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