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7 vezes em que Rick and Morty foi cientificamente precisa

“Às vezes, a ciência é mais arte que ciência, Morty. Algumas pessoas não entendem isso”.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 18 Maio 2022, 15h06 - Publicado em 26 ago 2017, 11h43

Para passar do primeiro episódio de Rick and Morty, é essencial que você faça parte do grupo dos que sabem separar bem o que é arte do que é ciência. A série, produzida desde 2013 pela seção noturna do Cartoon Network, o Adult Swim, narra as aventuras de um avô cientista bêbado e seu neto, um adolescente inseguro e com problemas de autoestima. Apesar de temas como viagens no tempo e realidades alternativas serem recorrentes, não dá para dizer que se trata de um desenho que se orienta pela ciência. Aliás, essa nem é a proposta dos criadores, como eles sempre gostam de reforçar.

A liberdade criativa permitiu que os roteiristas fizessem uma série de simplificações, ou dessem outros significados a questões científicas reais. Graças a essa escolha, o rigor científico acaba servindo apenas como pano de fundo para as loucuras que só um universo infinito como o nosso é capaz de gerar.

Mas há alguns momentos em que o programa de fato se ampara na ciência produzida fora das telas. Nesta lista, elencamos alguns deles. Como é de praxe, avisamos de antemão que você está adentrando uma zona de spoilers. Então, se você ainda não assistiu a todos os episódios, volte duas casas e foque nessa tarefa. Para quem já viu, ‘senta que lá vem história’.

Multiverso

O conceito de multiverso acompanha a série desde o primeiro episódio. Munido de sua arma de portais, Rick é capaz de abrir passagens para quaisquer realidades que você possa imaginar. Quaisquer mesmo. Como uma dimensão em que o homem evoluiu do milho, ou outra em que nos tornamos telefones, ou então poltronas, ou mesmo pizzas que se alimentam de pessoas. É de deixar Black Mirror no chinelo.

A possibilidade de existir uma realidade diferente, mas acessível a partir dessa que estamos vivendo, já foi amplamente discutida pelos cientistas. Apesar de não existirem evidências de que vivemos em um multiverso ou mesmo de que a raça humana consiga driblar conceitos como espaço e tempo, pensamentos nessa linha ainda têm certo respaldo na comunidade científica.

Um deles é a chamada teoria da simulação. Ela ficou famosa com o filósofo britânico Nick Bostrom, e já foi reforçada, inclusive, pelo visionário Elon Musk. Em linhas gerais, a ideia considera a chance da realidade que enxergamos não ser a única possível. Na verdade, tudo o que vemos e vivemos pode estar sendo simulado por alguma máquina em algum canto do universo, operada por seres superinteligentes.

Isso aparece repetidas vezes em Rick and Morty. Em dado momento, Rick revela ter um miniverso inteiro dentro da bateria de sua própria nave. Os pequenos alienígenas acham que o cientista é um ser evoluído, e trabalham para gerar a energia que faz seu possante funcionar.

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Matéria escura concentrada

As viagens entre dimensões só acontecem por conta de uma grande façanha de Rick: conseguir produzir matéria escura concentrada. Ela é utilizada como combustível, fazendo sua nave vencer a barreira espaço-tempo sempre que preciso.

O interessante é que a substância também já foi considerada por nós, meros seres terrestres, na ideia de expandir nossos rolês pelo espaço. Neste estudo de 2009, físicos norte-americanos propõem que, para visitar outras estrelas de nossa galáxia, deveríamos contar com veículos espaciais movidos a energia de buracos negros ou matéria escura – que constitui 95% do universo.

Ao menos na teoria, seria possível construir uma nave com um grande refletor, em formato de antena parabólica. Posicionando-a em frente a um pequenino buraco negro, de poucas milhões de toneladas, conseguiria-se converter a massa do buraco em energia. A energia conseguida no processo poderia acelerar o veículo à velocidade da luz por alguns anos – o suficiente para metermos o pé da Via Láctea.

Outra possibilidade seria capturar partículas da matéria escura chamadas de neutralinos, que se anulam quando entram em contato e podem, por conta disso, alimentar o motor da espaçonave. Graças a Rick and Morty, sabemos o que NÃO fazer se quisermos produzir matéria escura em laboratório. Juntar duas partes de quarks plutônicos, uma de césio e uma garrafa de água causaria uma explosão digna de bomba atômica – teoricamente, é claro.

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Tuberculose e Hepatite C

É no episódio Parque da Anatomia que acontece o maior número de ‘bolas dentro’ da série. Localizado no interior de Rubem, um mendigo vestido de Papai Noel, o parque de diversões indoor conta com várias atrações, todas com foco na anatomia humana. Por lá, é possível aproveitar uma descida na Montanha dos Rins, passear pela Abdomelândia ou se aventurar no brinquedo Piratas do Pâncreas – todos, claro, órgãos verdadeiros especialmente modificados para fins recreativos.

A missão de Morty, no entanto, era outra. Encolhido para ficar do tamanho de uma bactéria, ele precisa se juntar aos cientistas que trabalham no parque para descobrir por que o sistema imune está falhando. Dentro do corpo, o cenário é de guerra: logo de cara, o grupo encontra com a hepatite A, representada por um monstro amarelo. Para fugir da doença, eles decidem adentrar a Florestas de Alvéolos – uma escolha sábia, já que a hepatite costuma focar no fígado e deixar de lado o sistema respiratório.

Chegando aos pulmões, porém, o grupo encontra a tuberculose fazendo a festa. O desenho acerta ao dar detalhes da atuação da doença, por exemplo, o tecido cicatricial que o corpo cria para manter os bacilos de tuberculose em estado de dormência. Mas era tarde demais: o corpo de Rubem não resiste à quantidade de problemas e passa desta para uma melhor.

Surge mais um percalço: um corpo sem vida passa a se contrair e encher de gás – graças à ação das bactérias de decomposição, que começam a agir. É inútil para o grupo continuar pelo sistema arterial, que já parou por completo. Por sorte, há uma saída pelo mamilo esquerdo. Aos trancos e barrancos, os heróis consegue chegar até lá – seguidos de perto pela insistente hepatite A.

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A última cena no interior do corpo é a melhor parte da aventura: um monstro verde, representando a hepatite C, surge e mata a outra variedade, dando um “joinha” para Morty antes de ir embora. Apesar das duas hepatites não existirem ao mesmo tempo, sabe-se que a hepatite C é a versão “menos arrasadora” da doença. Já que não apresenta sintomas, ela permite que o portador do vírus leve uma vida normal por bastante tempo.

Combustão espontânea

Entre uma aventura e outra, o passatempo preferido de avô e neto é passar horas no sofá assistindo televisão. O que prende ambos frente a tela, porém, é uma programação um tanto diferente das TVs a cabo convencionais. Usando um decodificador, Rick consegue ter acesso a canais de todas as dimensões existentes. Como há infinitas possibilidades, as variações de roteiro são incrivelmente absurdas – como dá para ver nesta compilação. Sem dúvida, um dos momentos mais marcantes da TV alienígena é o comercial da loja de eletrônicos chamada “Formigas-em-meus-olhos Johnson”. O reclame é apresentado pelo próprio dono, que dá nome ao estabelecimento, e comenta sobre o saldão imperdível que sua loja está fazendo. Por ter formigas em seus olhos, Johnson não consegue ver nenhum de seus produtos – o que não é nada bom para um garoto propaganda, como você pode assistir abaixo.

Ao fim da propaganda, Johnson, do nada, começa a pegar fogo. Seria apenas mais item na lista de bizarrices de Rick and Morty, não fosse o fato disso de fato ser possível. Um ser humano pode realmente se consumir em chamas de fora para dentro, fenômeno que é conhecido como combustão espontânea.

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A probabilidade de alguém morrer assim, claro, é baixíssima – mas acontece desde a Idade Média. O primeiro relato formal foi feito em 1641 por Thomas Bartholin, médico dinamarquês que publicou uma coletânea de relatos sobre casos raros de morte. No começo do século 20, os cientistas observaram alguns pontos em comum. Pessoas que sofreram combustão espontânea, no geral, eram mulheres idosas e com histórico de alcoolismo. O fogo costuma não consumir as mãos e pernas da vítima, nem estraga móveis ou outros objetos que estejam próximos. Com certeza, algo bem mais bizarro que ter formigas nos olhos.

Não, Plutão não é mais planeta

Embora Jerry, pai de Morty, batesse o pé dizendo que o contrário era verdade. Sabemos que o antigo “nono planeta” do nosso sistema solar foi rebaixado à categoria de planeta-anão em 2006. Jerry, porém, não conseguia acreditar na informação e, contra tudo e contra todos, seguia repetindo que Plutão ainda era um planeta. No episódio em questão, um plutoniano acaba confundindo o personagem com um cientista e o leva para sua terra natal, para iludir a população quanto ao status do planetinha – o que, é claro, não dá nem um pouco certo.

Descoberto em 1930, Plutão deixou de ser chamado de planeta devido a atualizações de conceitos científicos. Por levar mais de 200 anos para dar uma volta completa em torno do Sol e cruzar sua órbita com a de Netuno, decidiu-se que o ex-planeta se encaixava melhor na gaveta dos “objetos transnetunianos” – ou então, dos planetas-anões, pequenos demais para serem colocados lado a lado a vizinhos de peso, como Júpiter e Saturno.

Memórias falsas

Há um momento da 2ª temporada em que um tipo de alienígena dá um jeito de se infiltrar na família. Sem que ninguém perceba, a espécie implanta memórias afetivas no cérebro de todos os personagens. Resultado: todos agem naturalmente em relação aos novos membros que não param de surgir, já que os aliens se reproduzem loucamente. Um mordomo, um tio que ninguém sabia que existia e até mesmo um pato de borracha gigante com braços musculosos. Rick e seus parentes, traídos por sua própria mente, acreditam que cada uma daquelas criaturas bizarras de fato é um ente querido.

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Não parece, mas há ciência real por trás disso. Experimentos mostraram que é possível implantar memórias falsas em uma pessoa, apenas dizendo para ela que determinada história é verdade. Você, provavelmente, já teve essa sensação enquanto um amigo contava uma história, por exemplo. Por querer ter vivido aquele momento, podemos nos deixar levar pela emoção e dizer que nos recordamos de tudo com detalhes – sem mesmo ter passado pela experiência. Lembra da primeira vez que isso aconteceu com você? Não precisa dizer que sim, a maioria também não faz ideia.

Realidade virtual

Com a ajuda da tecnologia, Beth, mãe de Morty, consegue realizar seu sonho de fazer uma cirurgia cardíaca em humanos. Formada em veterinária, Beth é frustrada por levar a vida como cirurgiã de cavalos, sem nunca ter operado o coração de uma pessoa. Bastava colocar os óculos 3D que Rick deixara com a família para a magia acontecer. Funciona da mesma forma com os simuladores atuais. Jogos que usam a realidade virtual permitem uma imersão muito mais completa, tornando uma cirurgia, por exemplo, bem mais real para o usuário – que não precisa apertar botão nenhum e faz tudo com seus próprios movimentos.

Mas o exemplo de realidade virtual mais interessante de Rick and Morty é o jogo Roy: A Life Well Lived. Disponível em um fliperama de um universo visitado pela dupla, o game consiste na vida de uma pessoa terrestre comum. Basta colocar um capacete para viver como Roy. Ir para a escola, arranjar uma namorada, ficar doente e falecer, como qualquer vida normal. De tão acostumados com a rotina frenética de bizarrices intergaláticas, Rick é fascinado pelo simplicidade do jogo – e volta para tentar bater seu recorde sempre que possível.

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