Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

4 violações da Convenção de Genebra por mau uso da Cruz Vermelha

Stardew Valley, Blink-182 e Among Us têm algo em comum: eles já utilizaram o símbolo de forma indevida. Saiba por quê.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 16 Maio 2023, 16h27 - Publicado em 17 fev 2023, 09h04

No amor e na guerra realmente vale tudo? Pode não existir um protocolo para as sutilezas do amor, mas para as brutalidades da guerra existem algumas regras. Por exemplo, você não pode atacar civis, você deve reduzir ao máximo o impacto do conflito, tratar prisioneiros com humanidade e não torturar pessoas.

É justamente para limitar os horrores da guerra que existe uma coisa chamada Convenção de Genebra. Ela é a base de um conjunto de leis que busca estabelecer padrões internacionais para o tratamento humanitário em guerras, regulando a conduta de conflitos armados e minimizando seus efeitos. 

Elas ajudam a proteger pessoas que não têm nada a ver com as hostilidades, como civis e profissionais da saúde, e aqueles que já não estão mais participando do conflito, como soldados feridos, doentes, náufragos ou prisioneiros.

Violações sérias das regras da Convenção são consideradas crime de guerra.

Cruz Vermelha e a Convenção de Genebra

Em 1863, o suíço Henry Dunant, junto de mais quatro pessoas, fundou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Dunant havia presenciado em primeira mão os horrores da guerra quando passou pela cidade italiana de Solferino e viu o estrago deixado por uma batalha recente. O que mais o espantou foi a falta de instalações, profissionais e cuidado médico adequado para os soldados feridos no conflito. Essa indignação o inspirou a escrever, no ano anterior, o livro Lembrança de Solferino, em que apela para a criação de uma agência de cuidados humanitários completamente neutra que oferecesse socorro em zonas de guerra.

Continua após a publicidade

Esse é o objetivo da Cruz Vermelha: assegurar a proteção humanitária e assistir as vítimas de conflitos armados e de outras situações de violência, com humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, voluntariado, unidade e universalidade.

Em agosto de 1864, pouco mais de um ano após a criação do comitê, 12 governos do mundo adotaram a primeira Convenção de Genebra. Atualmente, estão em vigor as quatro convenções feitas em 1949. Entre outras diretrizes, elas instituíram um símbolo que representaria serviços médicos: a cruz vermelha no fundo branco, emblema da Cruz Vermelha – uma homenagem à bandeira da Suíça, país com histórico de neutralidade e terra natal de seu idealizador.

O emblema hoje é um dos símbolos mais reconhecidos do mundo. Durante conflitos, a cruz vermelha é sinal de que aquela pessoa, veículo, instalação ou equipamento não está envolvido no conflito – apenas provendo assistência imparcial. A Convenção de Genebra e as leis internacionais garantem proteção a esses profissionais da saúde – aquilo que portar esse emblema não deve ser atacado.

Maus usos do símbolo

O artigo 53 da Convenção de Genebra I de 1949​​ diz: “O uso por indivíduos, sociedades, firmas ou empresas, públicas ou privadas, que não tenham direito a isso pela presente Convenção, do emblema ou designação ‘Cruz Vermelha’ ou qualquer sinal ou designação que constitua uma imitação, qualquer que seja o objeto de tal uso, e independentemente da data de sua adoção, deve ser proibido em todos os momentos”.

Continua após a publicidade

Isso basicamente quer dizer que não é permitido se apropriar do símbolo atribuído à Cruz Vermelha. Segundo o movimento, o mau uso do emblema coloca serviços humanitários e médicos em risco. “Essas equipes dependem da confiança da comunidade — tanto em tempos de paz quanto em tempos de guerra. O simbolismo do emblema protege os humanitários e lhes dá acesso a lugares que de outra forma seriam inacessíveis”, escrevem.

Óbvio que eles estão se referindo a casos como utilização em grandes fachadas ou por profissionais não autorizados; porém, até mesmo usos aparentemente banais são protegidos pela Cruz Vermelha. 

“Quando alguém faz uso indevido da cruz vermelha (a indústria de videogames é apenas uma entre muitas), buscamos sua cooperação para acabar com o uso não autorizado”, afirmam. “Em quase todos os casos, eles obedecem e nenhuma ação adicional é necessária. Como organização humanitária, nossa escolha preferida é educar as pessoas sobre o emblema e buscar sua cooperação”. 

Abaixo, confira dois jogos, um álbum e até uma bandeira que tiveram problemas por usar o emblema.

Among Us

Continua após a publicidade

O jogo de videogame do estúdio InnerSloth, lançado em 2018, explodiu em 2020. Com as pessoas em casa devido à pandemia, a diversão online de tentar encontrar o impostor – ou trair e assassinar todos os tripulantes – caiu nas graças dos jogadores.

Contudo, foi justamente a fama repentina que fez o jogo entrar no radar da Cruz Vermelha por causa de um uso indevido do emblema. Em uma das salas da nave, um ambiente hospitalar, havia uma cruz vermelha pintada sobre a parede branca – uma violação.


Enema of the State

Continua após a publicidade

Em junho de 1999, a banda de rock americana Blink-182 lançou seu terceiro álbum de estúdio. O Enema of the State tem algumas das músicas mais famosas da banda, como “All The Small Things” e “What’s My Age Again?”, e gerou grande impacto no pop punk, apresentando o gênero para uma nova geração e conquistando inúmeros elogios.

Quando o álbum fez 14 anos em 2013, o baixista Mark Hoppus compartilhou algumas curiosidades por trás da capa icônica em um post no Reddit. Ele disse que a banda foi contatada pela Cruz Vermelha dos Estados Unidos e, por não serem uma organização médica, a arte não deveria ter uma cruz vermelha – e, se continuassem usando, estariam violando a Convenção de Genebra.

Imagens de antes e depois da capa de álbum do Blink-182
(Reprodução/Wikimedia Commons)

Poucas versões do CD foram produzidas antes da mudança, então uma cópia que tenha a cruz vermelha é um item relativamente raro.

Stardew Valley

Stardew Valley é um jogo de simulação de fazenda criado por um único desenvolvedor, chamado de ConcernedApe. O protagonista herda uma fazenda abandonada de seu avô no Vale do Orvalho e, cansado da vida tediosa da cidade grande, decide se mudar para o campo.

Continua após a publicidade

O jogador pode aproveitar sua vida de fazendeiro como quiser. Pode criar plantações, cuidar de gado, pescar, cozinhar, minerar e até socializar com os habitantes da Vila Pelicanos, o vilarejo local, e formar uma família. Um desses personagens é o médico Harvey, que trabalha na única clínica da cidade.

Print de tela.
(Reprodução/Reprodução)

Até a versão 1.3.32, aplicada como atualização ao jogo em novembro de 2018, a clínica do Harvey tinha uma cruz vermelha na fachada. A partir daí, a cor dela foi alterada para entrar em conformidade com os usos estabelecidos pela Convenção de Genebra.

Print de tela do jogo Stardew Valley
(Reprodução/Reprodução)

Bandeira de Tonga

Tonga é um país da Oceania que consiste em um arquipélago de 171 ilhas – das quais 45 são habitadas, somando pouco mais do que 100 mil habitantes.

Quando, no século 19, missionários pregavam para os moradores da ilha, acabaram convertendo Taufa’ahau Tupou, que posteriormente se tornaria rei George Tupou 1º, fundando a monarquia tonganesa.

Para representar o aspecto cristão do novo país, foi criada uma nova bandeira. Em 1862, a bandeira oficial foi instaurada: uma cruz vermelha em um fundo branco.

Bandeiras com a cruz vermelha.
(Reprodução/Wikimedia Commons)

A bandeira ficou assim até 1866 – dois anos depois da primeira Convenção de Genebra, que instituiu as restrições ao uso da cruz vermelha. Por serem praticamente idênticas, a bandeira de Tonga teve que ceder às assinaturas internacionais e alterar o seu design: eles deixaram a cruz vermelha em cima de um retângulo branco no cantinho, e colocaram um fundo vermelho cobrindo boa parte da bandeira. Essa nova versão foi oficializada em 1975 e permanece assim até hoje.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.