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11 filmes bem longos, e pouco óbvios, para assistir na quarenta

São épicos de mais de 3 horas, mas que não exigem o (arriscado) comprometimento com uma série. Aqui, uma lista só com clássicos.

Por Ricardo Garrido
Atualizado em 26 out 2020, 15h04 - Publicado em 10 abr 2020, 13h26

Já que estamos em casa e que a agenda social está vazia, é uma ótima oportunidade para encarar filmes de fôlego – filmes mesmo, não séries.

Certos formatos de arte são ideais pra contar uma história: um romance de 200 a 300 páginas, um filme de duas a três horas.

Diluir a arte em dúzias de capítulos ao longo de anos pode resultar em algumas obras-primas que ganham força com as temporadas (Seinfeld, Mad Men), mas muitas vezes só serve pra encher linguiça mesmo (penso em como How to Get Away With Murder e This is Us arruinaram o que era ótimo).

Então aqui vai uma lista de filmes bem longos, com maios de 3 horas de duração. Evitei as obviedades, como O Poderoso Chefão, Titanic e as produções recentes de diretores notoriamente espaçosos, como Tarantino ou Scorsese. 

Quase todos esses trazem alguma semelhança com a trama do poema épico que é considerado o fundador da literatura ocidental: a Odisseia, de Homero.

Como a obra do grego, os filmes desta lista acompanham a jornada dos protagonistas ao longo de décadas, com idas e vindas, histórias paralelas e um subtexto que ambiciona revelar verdades maiores sobre a natureza humana.

É uma tradição dos épicos literários – Eneida, de Virgílio, Os Lusíadas, de Camões e o Ulysses de James Joyce. Esses filmes, a exemplo dos livros que os inspiram, exigem um preparo e um investimento maiores dos espectadores. Só assim dá apreciar de fato suas estruturas não-lineares, seu ritmo mais assentado, suas as mensagens cifradas.

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São obras desafiadoras – e que não servem para qualquer dia. Mas a recompensa vem na mesma medida do investimento.

Assim Caminha a Humanidade (1956)

Um filme tão grandioso que seu nome original é um nada modesto GIANT, menção a si mesmo, ao gigantismo do Texas e à ambição de contar a história do Estado através de três gerações de uma família de fazendeiros que lida com a transição da economia agrícola para a da extração de petróleo. É um tanto irregular: o que vale mesmo a pena é a primeira parte, apaixonante, com os jovens James Dean, Elizabeth Taylor e Rock Hudson desfilando carisma.

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Spartacus (1960)

O representante solitário dos épicos de Idade Antiga/Bíblicos de Hollywood é muito superior aos seus contemporâneos (Ben-Hur, Os Dez Mandamentos, Cleópatra), por um simples motivo: foi dirigido por Stanley Kubrick, que, aos 32 anos, já fazia um cinema assombroso. Entre tantas cenas memoráveis, a dos escravos se voluntariando para morrer no lugar de Spartacus continua sendo das coisas mais impactantes que já foram feitas no cinema.

O Franco-Atirador (1978)

Como quase todos os grandes filmes de mais três horas de duração, o filme de Michael Cimino é dividido em duas épocas diferentes – a primeira apresenta os personagens jovens e românticos, mesmo que seja no happy hour pós-turno na sidererúrgica de fim de mundo onde vivem. Aí vem a segunda parte, com Robert DeNiro e Christopher Walken sofrendo no Vietnã, a antológica cena da roleta russa etc. E então o terceiro ato mostra a dificuldade da reinserção pós-guerra, com atuações marcantes de DeNiro, Meryl Streep e John Cazale.

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Os Eleitos (1983) 

Um filmaço que, por algum motivo, foi perdendo seu lugar na História. Adaptado do livro de Tom Wolfe sobre os sete astronautas originais do programa Mercury, Os Eleitos fala do emergente culto à celebridade do fim dos anos 50 e início dos anos 60, da ciência a serviço do sonho, de um certo caráter “caubói” da mais ambiciosa aventura humana, e da vida em família.

Era Uma Vez na América (1984)

O último filme de Sergio Leone fecha sua trilogia americana (cujo episódio mais famoso é o igualmente grandioso faroeste Era Uma Vez no Oeste). Aqui, ele segue um grupo de pivetes judeus da quebrada em Nova York por décadas, desde seu ingresso no mundo das pequenas contravenções fazendo servicinhos para mafiosos, até se tornarem traficantes de bebida endinheirados durante a época da Lei Seca, até a velhice sem sentido e sem perspectivas, onde nem as lembranças nostálgicas da infância conseguem mais resgatar o brilho do passado. Uma visão bela e melancólica do sonho americano e da vida.

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Scarface (1983)

Brian De Palma dando um tempo na sua série de filme obsessivos sobre serial killers atrás de moças loiras para dar a sua versão sinistra do sonho americano, aqui vivido pelo refugiado cubano Tony Montana (Al Pacino, em seu papel mais explosivo), numa escalada insana de violência, sexo e drogas, cujo pico inclui Montana com a cara enfiada numa montanha de cocaína enquanto é visitado pela própria irmã nua e se prepara pra enfrentar sozinho uma milícia rival com seu “novo amigo” (uma arma inclassificável que, com um tiro, explode uma porta e mata uns cinco caras). The world is yours.

A Última Tentação de Cristo (1988)

Scorsese mostra Jesus Cristo enfrentando as situações bíblicas como um homem normal, cheio de dúvidas e fraquezas. Na época, o filme foi recebido como se fosse a própria encarnação do demônio. Eu assisti a ele com um grupo de amigos pré-púberes com o mesmo espírito (pun intended) com que jogávamos o Jogo do Copo. Merece uma revisita adulta.

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JFK (1991)

Oliver Stone estava por cima da carne seca no início da década de 90. Depois de ter ganhado o Oscar de melhor filme por Platoon, se dedicou a dar conta das suas obsessões: fez um filme sensacional (e muito pessoal) sobre Jim Morrison em 1990 e, um ano depois, fez o melhor filme de sua carreira, uma odisseia dedicada a provar sua teoria de que John Kennedy foi assassinado a mando de uma conspiração de dentro da própria CIA. A cena da reconstituição do crime, com Kevin Costner explicando cada milissegundo, ângulo por onde entra a bala e por onde sai e de onde veio, é tão convincente que não tem como não sair com a pulga atrás da orelha – e não menos importante: ganhou uma bela paródia em Seinfeld.

A Lista de Schindler (1993)

Não há nada tão secreto a respeito deste vencedor do Oscar de melhor filme, o filme mais pessoal e sério de Steven Spielberg, o mais tocante longa já feito sobre o Holocausto, sem perder o sentimentalismo que amamos odiar (ou odiamos amar) nos filmes de Spielberg. De quebra, a pesquisa do filme rendeu um documentário definitivo sobre sobreviventes de campos de concentração e inspirou Spielberg a fazer outro filme sobre a Segunda Guerra Mundial, o ótimo O Resgate do Soldado Ryan (1998), que por sua vez inspirou Spielberg a produzir a melhor série de TV que já existiu, Band of Brothers (que eu vejo como um filme de 10 horas de duração, e portanto poderia estar nesta lista).

Cassino (1995)

Se o chefão, de Coppola e os bons companheiros de Scorsese e o filmão lá em cima de Sergio Leone disseram tudo o que havia a ser dito sobre Máfia em Nova York, aqui Scorsese vai a Las Vegas (e leva os necessários DeNiro e Joe Pesci junto) e mostra como se construiu o mundo dos cassinos. Mais difícil de assistir do que seus pares, mas igualmente impactante.

O Resgate do Soldado Ryan (1998)

A sequência de abertura já é um épico por si só: quase meia hora de batalha numa praia da Normandia, acompanhando um pequeno grupo de soldados aliados sendo recebidos pela artilharia alemã. Depois, os sobreviventes se juntam e se dedicam a uma missão que pode ou não pode justificar todo o sofrimento: resgatar um único soldado cujos irmãos morreram na guerra. O final, como em qualquer Spielberg, vai te levar às lágrimas pelo menos nas cem primeiras vezes que você assistir ao filme (fonte: experiência própria).

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Ricardo Garrido, autor do artigo, foi crítico de cinema da revista VIP. Hoje é executivo da Amazon, mas segue firme em sua vocação.

 

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