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A memória registra relacionamentos passados como “traumas”

A ideia de que "ex é uma praga" pode ter sua base científica.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 26 Maio 2020, 19h27 - Publicado em 15 fev 2019, 18h22

Para muita gente, é difícil esquecer a dor de relacionamentos fracassados. Até mesmo quando a fila já andou e estamos com outra pessoa, aquela mágoa permanece. Para se aprofundar mais sobre o que acontece dentro da sua cabeça no processo de “fazer a fila andar”, psicólogos realizaram o primeiro estudo sobre relacionamentos românticos e sua relação com um fenômeno cognitivo famoso: o FAB (fading affect bias), um viés inconsciente que afeta a memória de todo mundo, e pode ser traduzido para algo como “viés emocional do esvanecimento”, ou do “enfraquecimento”.

Esse nome horrível na verdade se refere a um comportamento já registrado há tempos na nossa forma de lembrar experiências passadas: a tendência universal de nos esquecermos muito mais rápido de aspectos negativos do que positivos de uma mesma vivência.

O FAB começa meras 12 horas depois que uma experiência acontece. Ao aprender a andar de bicicleta, por exemplo, a lembrança dos tombos já começa a enfraquecer bem mais depressa do que as pequenas alegrias de se equilibrar em duas rodas. Isso perdura pelos 3 meses seguintes, de forma que o episódio fica guardado majoritariamente como um dia feliz e vitorioso, e não como a tarde em que você colecionou hematomas e arranhões.

Esse viés cognitivo revela um otimismo que nós raramente associamos à espécie humana. Esquecer das coisas ruins nos torna mais resilientes e capazes de superar más experiências (porque, literalmente, esquecemos do impacto delas). O FAB também explica porque a maioria das pessoas costuma dizer que as coisas eram melhores no passado – o famoso “no meu tempo é que era bom!”

Pois bem: digamos que o FAB é a “regra geral” de como a sua memória funciona – mas esse viés não vale para tudo. Quando vivemos um trauma muito grande, no entanto, é natural que as lembranças ruins vençam o poder do FAB.

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Consideramos traumáticas todas as formas de (fim do) amor

No recente estudo da Universidade de Southampton, no Reino Unido, os especialistas se surpreenderam ao notar que, curiosamente, a grande maioria dos relacionamento acabam ficando registradas na memória aos moldes das experiência altamente traumática: “quando pensamos em relacionamentos passados, o bom parece não vencer. Nesse caso, ele é espancado pelo mau”.

O que eles notaram é que o padrão parece se inverter: quanto o tópico é um relacionamento que terminou, as memórias negativas parecem perdurar mais que as positivas. É um FAB ao contrário: tudo que era bom desvanece primeiro.

O estudo pediu a mais de 200 homens e mulheres que descrevessem os eventos de um romance atual ou antigo, e que contassem quais sentimentos aquelas lembranças evocavam.

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Pouco menos da metade do grupo escolheu eventos de seus relacionamentos existentes. Em média, eles relatavam mais experiências positivas (ainda bem!) e elas aparentavam ser bem mais marcantes do que as negativas.

Mas essa não foi a regra para a maioria dos voluntários, aqueles que lembraram de seus causos passados. Alguns até mencionaram eventos legais envolvendo um ex. Mas o experimento foi um show de relatos negativos, de histórias que deixaram mágoas profundas. Quando a memória em questão tinha um aspecto sexual, os sentimentos negativos eram ainda mais fortes e duradouros.

No geral, quanto mais insegura a pessoa se sentia, por mais tempo perduravam as memórias negativas, impedindo que o otimismo incorrigível da nossa memória atuasse e suavizasse a superação do trauma. Agora você já sabe que pode culpar a sua cognição pela dificuldade de “seguir o baile” da próxima vez que ouvir aquela sofrência tocando e lembrar (com raiva) de alguém.

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