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Se a sua avó passou fome, você pode ter herdado o trauma

Um novo estudo mostra que a fome deixa marcas genéticas, transmitidas a partir dos avós, mesmo que os netos nunca tenham sofrido privações

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 ago 2017, 19h22 - Publicado em 9 ago 2017, 17h42

A história da nossa família está escrita no nosso DNA – especialmente os traumas. Filhos de pessoas que sobreviveram à grande catástrofes naturais ou sociais, como o Holocausto, trazem no seu material genético marcas de um estresse que nunca viveram diretamente. Um novo estudo inglês descobriu que existe um trauma, muito mais comum, que também deixa marcas transmitidas das avós para os netos: a fome.

O desenvolvimento de um bebê no útero depende da saúde da gestante – especialmente com relação à nutrição. O que a nova pesquisa revelou é que o impacto da má nutrição de uma gestante afeta gerações seguintes. Ou seja: se sua avó materna sofreu algum tipo de privação alimentar, mesmo que sua mãe tenha engravidado com mais recursos, você também deve ter sentido o impacto.

O estudo tomou como ponto de partida a Gâmbia. No menor país da África, a zona rural tem apenas duas estações: a de colheita e a de fome, já que a chuva é pouca e se concentra em um intervalo curto do ano.

As mães que passavam os últimos meses de sua gravidez durante a estação de fome davam à luz bebês menores, com menos peso. Eles sofriam do chamado “estresse nutricional” dentro do útero. Esse já era um fenômeno conhecido há tempos.

O que os pesquisadores fizeram foi estudar os filhos dessas crianças (hoje adultas). Algumas delas viraram mães e tiveram gestações bem diferentes: umas com condições financeiras melhores e, portanto, melhor alimentação, outras cuja fase vital da gravidez calhou com a estação de mais fartura.

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O esperado é que, para essas mães com mais recursos, o tamanho dos bebês aumentasse, voltando à média de quem nunca passou fome. Não foi bem assim. Os netos daquelas mulheres desnutridas durante a gravidez ainda nasciam menores, mesmo que suas mães não tivessem sofrido o mesmo mal.

O fenômeno não era exclusivamente feminino: quando o filho da mãe mal nutrida era homem, seus filhos também ficavam abaixo da curva, mas de forma diferente. Quando quem tinha sofria má nutrição era a avó paterna, as crianças nasciam com peso dentro da média – mas engordavam menos. Quando chegavam aos 2 anos, já eram bem menores que bebês da mesma idade.

E por que tudo isso importa? Muitos programas sociais focados em populações frágeis como essa, que suplementam as dietas das famílias, são abandonados. Isso porque indicadores como déficit de crescimento infantil não parecem melhorar por causa deles.

Já estudos como esse, segundo os pesquisadores, conseguem mostrar que a jornada precisa ser mais pacientes, já que o impacto genético da fome pode levar gerações para ser totalmente eliminado.

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