Por que os seres humanos ficam irritados quando estão com fome
Vários estudos comprovam que algumas pessoas podem brigar com outras pelo simples fato de estarem com fome. Veja o porquê
Se você já ficou irritado com alguém quando está com fome, você experimentou a sensação de estar “hangry” – nada mais que a união das palavras em inglês hungry (faminto) e angry (bravo). O fenômeno é tão comum, que vários cientistas realizaram pesquisas para tentar entender por que algumas pessoas sentem fome e raiva ao mesmo tempo.
A principal explicação para você se sentir assim é o baixo nível de glicose no seu sangue, segundo um estudo da Universidade de Chicago, nos EUA. Tudo que você come, desde carboidratos e proteínas até gorduras, são digeridos em glicose, aminoácidos e ácidos graxos. Tais nutrientes são distribuídos para seus órgãos para a produção de energia.
Ao passar do tempo, a quantidade de glicose na corrente sanguínea começa a cair. Com isso, o seu corpo libera hormônios relacionados ao estresse, como cortisol e adrenalina. Por isso, tarefas simples podem se tornar complicadas quando os níveis de açúcar no sangue estão baixos. Além disso, você pode ficar confuso e “estourar” com qualquer pessoa.
Outro composto químico, chamado de neuropeptídio Y, também é liberado quando você está com fome. Ele estimula a vontade voraz de comer e atua sobre vários tipos de receptores no cérebro, incluindo um receptor chamado de Y1. Tanto o neuropeptídio Y quando o receptor Y1 são responsáveis por controlar o sentimento de raiva.
A partir dessas informações e após testes com 60 voluntários, os cientistas americanos descobriram que pessoas com altos níveis de neuropeptídio Y em seu líquido cefalorraquidiano, um fluido que circula no espaço intracraniano, tendem a mostrar altos níveis de agressão.
Até que a fome nos separe
Um estudo feito em 2014 mostrou que a baixa quantidade de açúcar no sangue faz com que você aja agressivamente até com as pessoas que você ama.
A pesquisa funcionou da seguinte forma: durante 21 dias, 107 casais precisaram colocar alfinetes em bonecas de voodoo, que representavam seus entes queridos, para mostrar o quão irritados eles estavam.
Para medir a agressividade, os participantes competiram contra seus parceiros em uma tarefa de 25 julgamentos. O vencedor poderia enviar um ruído ensurdecedor diretamente para os fones de ouvido do perdedor.
Enquanto os voluntários participavam do jogo, os cientistas rastrearam os seus níveis de glicose. “Como esperado, quanto menor o nível de glicose no sangue, maior foi o número de alfinetes colocados nas bonecas e maior foi a intensidade e a duração do ruído”, escreveram os pesquisadores.
Julgar com fome
Sentir fome pode causar problemas muito maiores do que brigas entre casais. Um estudo da Universidade de Columbia, nos EUA, revelou que juízes são menos propensos a serem piedosos com suas sentenças quando os julgamentos ocorrem perto do horário do almoço.
Além disso, após examinar os resultados de mais de 1.000 pedidos de liberdade condicional, os cientistas notaram que os juízes tendem a oferecer decisões favoráveis no início do dia ou logo após o almoço.
Recentemente, os dados desse estudo foram replicados por cientistas da Universidade de Hagen, na Alemanha. Eles notaram que as frases mais severas dos juízes foram proferidas na maioria das vezes no final da manhã. Porém, segundo os pesquisadores, isso está relacionado com o fato de que os juízes programam casos mais simples nesse horário.
Ainda é preciso realizar mais estudos para confirmar as informações de ambas as pesquisas. Mesmo assim, de uma coisa os cientistas têm certeza: fome e tomada de decisões não trabalham muito bem juntas.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Exame.com