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Mulheres são mais resistentes e sobrevivem mais a desastres

Em sete eventos históricos de fome, doença e violência as mulheres resistiram mais que os homens

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 jan 2018, 11h25 - Publicado em 9 jan 2018, 19h32

O Japão é o país onde as pessoas vivem mais. Quando um bebê do sexo masculino nasce, é esperado que ele viva até os 85 anos. Se for uma menina, a expectativa é que chegue aos 87 anos. Serra Leoa é o oposto – o país africano é onde se vive por menos tempo. Por lá, a expectativa de vida ao nascer é de 37 anos para eles e 39 anos para elas. Em ambos os extremos e em todos os países as mulheres vivem mais que os homens. E isso levanta a eterna pergunta: afinal, quem é o sexo forte?

Um grupo da Universidade do Sul da Dinamarca acaba de dar o veredito: elas. Os epidemiologistas estudaram a diferença de sobrevivência de homens e mulheres em sete diferentes eventos históricos trágicos em que as populações foram expostas a fome, doenças e violência.

Em todos os casos estudados, os homens foram maioria entre o número de mortos de todas as idades. Mesmo que em alguns destes eventos a expectativa de vida tenha despencado para menos de 20 anos, os cientistas perceberam que as mulheres superaram os homens no tempo de vida – a única exceção foi em uma população escrava de Trinidade Tobago. Os autores da pesquisa explicam que os homens da ilha levavam vantagem porque, como os escravos mais velhos valiam mais, existia um incentivo a mantê-los vivos. O mesmo não acontecia com as escravas.

A equipe também analisou a disparidade de gênero na expectativa de vida ao nascer em cada um dos períodos e notaram que as meninas recém-nascidas tinham mais chances de sobreviver que os bebês do sexo masculino.

“A grande vantagem feminina foi devido a diferenças na mortalidade entre as crianças. É impressionante que, durante as epidemias e fomes, tão severas como as analisadas, as meninas recém-nascidas ainda sobrevivem melhor do que os meninos recém-nascidos “, escreveu a epidemiologista Virginia Zarulli, na divulgação do estudo no periódico científico PNAS.

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O número de nascimentos e mortes dos seguintes eventos foram analisados: Holodomor ou a Grande Fome da Ucrânia (1932-1933) que fez mais de cinco milhões de vítimas; liberdade dos escravos da Libéria (1820-1843) que foram encorajados a migrar dos Estados Unidos de volta para a África e mais de 40% deles morreram no primeiro ano após o retorno; escravidão em Trinidad e Tobago no início do século 19 – a expectativa de vida média entre os homens era de 14 anos; a fome na Suécia (1772-1773) matou boa parte da população de desnutrição; doenças epidêmicas na Islândia na metade do século 19 baixaram a expectativa de vida de 40 para 18 anos; a Grande fome na Irlanda (1845-1849) reduziu 25% da população.

Uma das explicações para que as mulheres sejam biologicamente mais resistentes que os homens está nos hormônios sexuais. Os pesquisadores creditam o benefício aos efeitos anti-inflamatórios do estrogênio que contribui para o bom funcionamento do sistema imunológico e protege o sistema vascular. A testosterona, o hormônio masculino, em contrapartida, é nocivo para o sistema imunológico e pode ser um fator de risco para diversas doenças fatais.

Eles explicam que enquanto os homens não precisam de tanto esforço para a reprodução, as mulheres têm essa colher de chá de resistência no sistema imunológico porque precisam sobreviver durante a gravidez para gerar descendentes saudáveis. O fato das mulheres terem dois cromossomos X em seus códigos genéticos também diminui a chances de que algo no funcionamento do seu organismo não funcione corretamente.

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É claro que a forma como homens e mulheres levam a vida também tem peso nessa disputa de força entre os gêneros. E, por se arriscarem mais, os homens saem perdendo. Os cientistas destacam que eles fumam, bebem e consomem mais drogas e que esses comportamentos aumentam os riscos de doenças cardiovasculares, cânceres e cirrose. Além disso, também se envolvem em mais acidentes fatais de trânsito.

“Embora os comportamentos sejam fatores importantes, eles não podem explicar completamente a diferença de sexo na sobrevivência. Em quase todas as populações humanas, as mulheres vivem mais do que os homens. Nossos resultados adicionam outra peça ao enigma das diferenças de gênero na sobrevivência. Eles sugerem que a vantagem feminina decorre de raízes biológicas”, disse Virginia Zarulli.

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