Matemático investiga por que todos os hipsters parecem iguais
Um sistema de computador confirmou: não querer seguir uma padrão acaba gerando um outro padrão. Saiba o que é o "efeito hipster"

Você deve ter algum amigo que está sempre se esforçando para ser o “diferentão”: usa roupas e acessórios que muita gente considera esquisitos, corta o cabelo de um jeito inovador e adora frequentar lugares alternativos. Mas repare: não é só seu amigo – há muitas outras pessoas “diferentes” que, no fundo, são bem parecidas.
Uma teoria por trás dessa constatação é o “efeito hipster” – que, apesar do nome, não vale apenas para esse grupo de pessoas “moderninhas”. Trata-se da lógica de que todo mundo que quer ser diferente acaba, inevitavelmente, igual aos integrantes de outro grupo. A ideia é do matemático Jonathan Touboul, que publicou recentemente uma pesquisa sobre o assunto. Em nota à imprensa, ele disse que o estudo não vale apenas para a moda, mas também para entender o comportamento social (e até financeiro) de certos grupos.
Em seu trabalho, Touboul se concentra em investigar a divisão da sociedade entre “conformistas”, que seguem a moda e copiam a maioria, e “anticonformistas”, que tendem a ir pelo caminho oposto. Sua conclusão é que, quando os “diferentões” decidem negar o padrão, eles passam por uma espécie de transição, que acaba juntando pessoas com os mesmos interesses. Ou seja: o efeito hipster é o resultado inevitável do comportamento de um grande número de pessoas.
Touboul avalia em que circunstâncias as escolhas desses indivíduos sincronizam e como isso varia conforme o tempo de consolidação de uma nova tendência. A análise do matemático da Universidade Brandeis, nos Estados Unidos, é feita a partir de um sistema de computador que simula como pessoas interagem quando alguns seguem a maioria e o restante se opõe a ela.
Segundo o pesquisador, a sincronização acontece principalmente quando há uma tendência simples e bem definida. “Por exemplo, se a maioria dos indivíduos raspar a barba, a maior parte dos descolados vai querer deixar a barba crescer; caso essa tendência se propague para a maioria da população, uma mudança nova e sincronizada ocorrerá”.
E esse comportamento acontece mesmo quando há diversos estilos a ser adotados. Ainda que seja possível cortar a barba de várias formas, a tendência é que os “diferentões” escolham a mesma, segundo o trabalho de Touboul.
Acha tudo isso muito improvável? Pasme: após a publicação de uma reportagem na MIT Technology Review sobre o “efeito hipster”, um americano ameaçou processar a publicação por usar uma fotografia sua na capa, acusando a revista de calúnia e violação de direitos autorais . Acontece que a foto era de um banco de imagens. Não era o cara.
Logo o editor da publicação, Gideon Lichfield, tratou de falar do caso no Twitter:
In other words, the guy who'd threatened to sue us for misusing his image wasn't the one in the photo. He'd misidentified himself.
All of which just proves the story we ran: Hipsters look so much alike that they can’t even tell themselves apart from each other. /ENDS
— Gideon Lichfield 🇺🇦🌻 (@glichfield) March 6, 2019
“O homem que ameaçou nos processar por abusar da sua imagem não era o da fotografia. Identificou-se erradamente. Tudo isso prova o artigo que publicamos: os hipsters são tão parecidos que nem se distinguem uns dos outros“, concluiu ele.