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Lorotas que todos contamos

Quem é sincero o tempo todo maltrata, ofende e não é benquisto. Mas quais são as mentiras sem as quais não é possível viver em grupo? E quando a verdade não é uma opção?

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Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 11 Maio 2012, 22h00
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    Jeanne Callegari

    O escritor alemão Jürgen Schmieder decidiu passar 40 dias sem contar nenhuma mentira. Isso lhe rendeu um soco no olho depois de contar à namorada de um amigo que ele a traíra. Também perdeu dinheiro ao deixar de mentir no imposto de renda. Sua experiência, descrita no livro Sincero (Ed. Verus), confirma: a verdade dói. A boa notícia é que a maioria das mentiras que contamos não é tão grave assim. São mentirinhas brancas, do tipo desejar bom-dia a alguém de quem não gostamos. “Na maioria das vezes, as pessoas mentem para aumentar a autoestima, para fazer os outros gostar delas e para poupar os sentimentos dos outros”, escreve a cientista social Bella DePaulo em Behind the Door of Deceit (“Por trás da porta do engano”, sem tradução para o português). A equação é simples: honestidade é mais importante, mas outros valores também são, como mostrar que nos importamos com o próximo. É claro que algumas pessoas mentem mais do que outras. Mas 100% honesto ninguém é. E nem deveria ser.

    …Eles contam
    Homens são criados para parecer os maiorais. Como ninguém é super-herói, as histórias de pescador estão aí.

    …Elas contam
    Manter a reputação, agradar ao próximo e se proteger. Mulheres não ficam nada atrás na hora de enganar.

    …Colegas de trabalho contam
    A farsa começa na hora de o trainee mandar o currículo e não termina nem quando vira patrão.

    …Os pais contam
    Uns dizem que é para proteger os filhos. Outros sabem muito bem que mentir para eles é mais fácil do que dar educação.

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    Lorotas que… eles contam
    Enquanto mulheres tendem a mentir para fazer outras pessoas se sentir bem, homens exageram seus feitos pessoais para impressionar os amigos e encantar as moças.

    Um levantamento em 2009 com 2 mil britânicos apontou que homens contam lorotas 6 vezes por dia – o dobro das mulheres. Bom, a enquete foi feita pela 20th Century Fox para marcar o lançamento do DVD da série Lie To Me. Ou seja, ela não chega a ter a validade de um estudo científico. Já Robert Feldman, professor de psicologia da Universidade de Massachusetts e autor do livro The Liar in Your Life (“O mentiroso em sua vida”, sem versão em português), concluiu em suas pesquisas que os dois mentem com a mesma frequência. Só que aí há uma diferença: eles tendem a fazê-lo para se valorizar, e elas, para os outros se sentirem melhor.

    “Casado, eu? Imagina!”

    Homens dizem que são solteiros e bem-sucedidos, encolhem a barriga de cerveja para parecer mais magros e bancam o ombro amigo para levar a donzela para a cama. Em uma pesquisa com universitários americanos, 34% dos homens admitiram ter mentido para obter, digamos, gratificação sexual. Já a produtora de software Symantec fez nos EUA um levantamento com 1 060 usuários de sites de encontros e concluiu que homens mentem mais que mulheres em todos os assuntos – exceto peso. Mesmo assim, foi um empate técnico: 10% contra 11% (veja à direita). É como o professor da Universidade do Texas Mark Knapp escreve em Lying and Deception in Human Interaction (“Mentira e engano na interação humana”, sem versão em português). Um dos objetivos da mentira não é nada mais que obter um prêmio para si mesmo.

    Belo perfil
    Sobre o que mentem eles e elas nos sites de encontros.

    Homens
    Nome: 19%
    Sobrenome: 14%
    Idade: 18%
    Peso: 10%

    Mulheres
    Nome: 6%
    Sobrenome: 5%
    Idade: 2%
    Peso: 11%

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    “Era o maior atacante do time do colégio”
    Homens inflam seus feitos pessoais mais do que as mulheres. Na hora da paquera, por exemplo, mentem duas vezes mais do que elas sobre livros e revistas que teriam lido, segundo estudo britânico com 1 543 pessoas. Para os amigos, vão das histórias de pescador até o tamanho do documento. Em alguns casos, é a si mesmos que querem impressionar – são mentiras que as pessoas contam para reforçar a autoestima e parecer mais interessantes do que acham que são. Mas Feldman diz que a estratégia masculina está furada. “Em geral, a modéstia é a melhor política quando você quer impressionar alguém.”

    “Não, você fica ótima nesse vestido”
    Dar uma maquiada nos comentários sobre a aparência da companheira é um clássico dos relacionamentos. A princípio, é uma mentira altruísta – aquela contada não para benefício próprio, mas para não magoar as pessoas que amamos. Só que nem sempre a motivação é tão altruísta assim. Afinal, a reação por falar a verdade pode ser muito dura. Pela frente lá vêm o drama e as acusações de ser insensível. Se for esse o caso, a mentira é motivada também pelo medo das consequências.

    “Tomei só um copinho”
    Mentir para escapar da punição é um clássico desde a infância, quando dizemos que não roubamos os biscoitos do pote. “A mentira tem ainda mais chance de ser contada quando se acredita que a punição por falar a verdade será tão grande quanto se for pego mentindo”, escreve Mark Knapp. Essa é a razão por que a mentira mais contada pelos homens é sobre o quanto beberam, segundo estudo realizado em 2010 pelo Museu de Ciência de Londres (veja abaixo). Só de imaginar o sermão, homens preferem florear a verdade. Claro que beberam apenas um copinho (afinal, era o mesmo copo, enchido repetidas vezes…).

    “Estava na academia até agora”
    No estudo Descobrimento Sexual do Brasil (2004), de Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria da USP, 50,6% dos homens e 25,7% das mulheres confessaram já ter traído durante uma relação estável. Por que mentir? Uns são felizes no casamento, e a amante é só um passatempo que não vale a decepção para a esposa. Outros mentem para si mesmos dizendo que é melhor para as crianças se a verdade continuar oculta. Pesquisa de Bella DePaulo mostra, porém, que apenas 10% das mentiras em que algo muito importante está em jogo – como um casamento – são contadas em benefício do outro, enquanto as mentirinhas cotidianas são altruístas em 25% dos casos.

    Top 10 balelas deles

    1. Não bebi tanto assim.
    2. Não há nada de errado, estou bem.
    3. O celular estava sem sinal.
    4. Não foi tão caro assim.
    5. Já estou a caminho.
    6. Estou preso no tráfego.
    7. Não, você não fica gorda nesse vestido.
    8. Desculpa, não consegui atender.
    9. Você emagreceu.
    10. Nossa! É o que eu sempre quis!

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    FONTE: MUSEU DE CIÊNCIA DE LONDRES

    Lorotas que… elas contam
    Santas? Só na imaginação. Muitas escondem o número de parceiros sexuais, fingem orgasmo e fazem que não é com elas quando jogam fora as velharias do parceiro.

    O comediante Chris Rock brinca dizendo que os homens mentem mais, mas as mulheres contam as maiores mentiras. Essa estatística é difícil comprovar, mas é fato que elas também são peritas. Segundo Susan Shapiro Barash, autora de Little White Lies, Deep Dark Secrets (“Mentirinhas brancas, segredos profundos”, não disponível em português), elas o fazem de forma mais esperta e eficaz.

    “Dá pra contar nos dedos quantos parceiros eu tive”
    Em um levantamento pela internet sobre o número de parceiros sexuais de 2 065 quarentões e quarentonas americanos heterossexuais, o psicólogo Norman Brown, da Universidade de Michigan, chegou a um resultado interessante: homens tiveram 31,9 parceiras, e mulheres, 8,6 parceiros. Uma pesquisa do governo americano mostra algo um pouco mais conservador: homens com 7, mulheres com 4. Mas algo não fecha nessas contas. O número de homens que fazem sexo com mulher não deveria ser igual ao número de mulheres que fazem sexo com homem? Sim. Mesmo o “efeito prostituta” seria negligenciável, disse o matemático da Universidade de Berkeley ao The New York Times. Resta uma possibilidade: pessoas mentem. No questionário de Brown, 5% dos homens e 4% das mulheres admitiram ter mentido. E a engabelação não para por aí. Homens são duas vezes mais propensos a arredondar o número – “umas 15” -, estratégia que puxa o número para cima. Já elas contam seus parceiros um a um – “o Mário, o Ricardo…”. Assim fica fácil guardar só quem vale a pena e, de sobra, não passar por promíscua.

    “Amor, vi fogos de artifício”
    Numa cena clássica do filme Harry e Sally – Feitos um para o Outro (1989), Harry diz que nunca uma mulher fingiu orgasmo para ele na cama. Afinal, ele perceberia a farsa na hora. Sally então faz uma demonstração bastante sonora que o convence do talento teatral feminino. Existem várias Sallys por aí – mais precisamente 74% das mulheres. Essa foi a percentagem daquelas que afirmaram ter simulado um orgasmo em seu mais recente relacionamento, conforme o estudo The Economics of Faking Ecstasy (“A economia de fingir o êxtase”), de Hugo Mialon, da Universidade Emory de Atlanta. Seus parceiros conseguiriam identificar o fingimento? A maioria diz que sim – 55%. Mas da realidade só pode ter certeza a autora da mentira.

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    “Estes sapatos foram uma pechincha”
    Uma das mentiras mais contadas por mulheres: dizer que não gastaram tanto dinheiro assim. No livro de Susan Barash, 75% delas afirmaram que faziam isso. Entre as estratégias vale esconder as compras quando chegam em casa e arrancar as etiquetas – tudo para o companheiro não perceber. Agora, se elas estão mentindo porque são mesmo mais consumistas e querem evitar as consequências ou apenas mentem por altruísmo, para deixar o parceiro mais tranquilo, é difícil dizer.

    “Estou com dor de cabeça”
    Um clássico. Quando não estão a fim, a maioria delas inventa um mal-estar para escapar da transa. Uma pesquisa encomendada pela revista That’s Life! com 5 mil britânicas aponta que 55% já inventaram desculpas dessas. E se o cara não manda tão bem assim? Apenas 27% das mulheres diria para ele. Essa é outra das mentiras altruístas que as mulheres contam a respeito de sexo, para poupar os sentimentos de seus companheiros. Mas que fique bem claro: enquanto eles se acham os maiorais, as amigas ficam sabendo da verdade.

    Enquanto 27% das mulheres contariam ao parceiro que ele é ruim de cama… 36% contariam para as amigas.

    “Você é o pai do meu filho”
    Variam muito as estatísticas para o número de crianças que não são filhas do pai que imaginam. Um estudo de 2005 fez uma revisão de literatura sobre do tema e achou dados que vão de 0,8% a 30% – a média é de 3,7%. Mas, nos casos em que a paternidade é questionada – em que o pai pede, por exemplo, um teste de DNA -, a estatística é mais alta: vai de 17% a 33%, com uma média de 26,9%. Na pesquisa da That’s Life!, metade das mulheres afirmou que mentiria para o companheiro se engravidasse de outro homem e quisesse continuar com o titular. As razões para uma mentira tão séria vão desde evitar uma punição a conseguir um homem para criar seus filhos, caso o verdadeiro pai não seja uma opção viável.

    “Não há nada de errado”
    A principal desculpa das mulheres, segundo a pesquisa do Museu de Ciência de Londres (veja abaixo), serve para esconder o que estão sentindo. Em segundo lugar vem o hábito de negar quando mexem nas coisas deles – seja para dar uma bisbilhotada, seja para jogar fora algo que acham que está na hora de ir para o lixo. Afinal, aqueles pares de meias tinham apenas 10 anos.

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    Top 10 balelas delas
    1. Não há nada de errado, estou bem.
    2. Não sei onde está, nem toquei.
    3. Não foi tão caro assim.
    4. Não bebi tanto assim.
    5. Estou com dor de cabeça.
    6. Estava em promoção.
    7. Já estou a caminho.
    8. Isso? Ah, eu já tinha havia anos.
    9. Não, eu não joguei fora.
    10. Nossa! É o que sempre quis!

    FONTE: MUSEU DE CIÊNCIA DE LONDRES

    Lorotas que… colegas de trabalho contam
    De falsos elogios às grandes maracutaias corporativas, o ambiente de trabalho está recheado de mentiras

    Tudo começa antes mesmo de entrar no emprego. Dos currículos, quase a metade está repleta de exageros ou completas mentiras. Na relação com o chefe, nunca dá para tirar aquele pé atrás – ora é bajulação para virar o queridinho, ora são desculpinhas para esconder que nem sempre o trabalho foi prioridade. E, na hora de encontrar o cliente, a vista grossa dá lugar à cara de pau, e lorotas podem ser até estimuladas se beneficiarem a empresa.

    “Inglês fluente, espanhol intermediário”
    Em 2007, a reitora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) se demitiu depois de 28 anos na instituição. Isso porque, no início de sua carreira, Marilee Jones inventou 3 títulos universitários que ela jamais obteve. E ela não está sozinha. Mentir no currículo é assustadoramente comum. Segundo a Kroll, empresa de análise de risco, 42% dos currículos que avaliou em 2010 tinham discrepâncias com a realidade. Isso se refere somente ao universo de clientes que contrataram essa empresa para passar um pente fino em seus candidatos. Mas já dá uma ideia do que acontece por aí.

    Currículos podres

    Quais as mentiras contadas no currículo.1
    41% – Emprego anterior Histórico escolar Omissão de desemprego
    19% – Suposto cargo de direção
    15% – Qualificação profissional
    4% – Outros

    Onde os executivos brasileiros acham que candidatos mentem.2
    48% – Experiência profissional
    46% – Conhecimento de línguas
    42% – Razão para deixar o trabalho anterior

    Fonte: 1 Kroll 2 Levantamento da consultora Robert Half com executivos de alta gestão em RH e Finança

    “Estou doente, não posso ir hoje”
    Perdeu a hora e não vai chegar para a reunião? Precisa arrumar a casa, fazer compras ou simplesmente descansar da noitada? Para evitar punição, vai dar mentira na certa. E, quanto mais as tecnologias de comunicação avançam, mas fácil dar um migué. A cientista social Bella DePaulo descobriu em um estudo que pessoas mentem mais se não estiverem de frente para seu interlocutor. Por telefone é fácil; por e-mail, mais ainda. “Os participantes do estudo pareciam se intimidar ao mentir nas interações cara a cara”, diz DePaulo.

    “Já estou na metade do Relatório”
    Você nem começou a escrever, mas tudo bem. Diga que o relatório está no cronograma. Também dá para mentir se um projeto falhar ou se cometer um erro – essas são 13% das mentiras contadas no ambiente de trabalho, segundo o site Anonymous Employee. Assim como as mentiras dos atrasos, essas são contadas para se proteger da encrenca com o chefe. Puro instinto de sobrevivência. Só tome cuidado para não ser pego – 85% dos responsáveis por contratações dizem que relutariam em promover funcionários que foram pegos mentindo.

    “Gostei muito de sua apresentação, ficou ótima!”
    Elogiar a apresentação de alguém quando você se esforçou para não bocejar pode parecer uma mentira altruísta. Afinal, você só está tentando fazer com que ele se sinta bem consigo mesmo. Mas, se a pessoa em questão é seu chefe, caímos na bajulação pura e simples. “Se alguém tem poder sobre nós, é mais difícil dizer o que realmente pensamos”, afirma Robert Feldman, autor do livro Why We Lie. “Estranhamente, mesmo quando a razão para o bajulador elogiar ou concordar é clara, a mentira pode atingir o efeito desejado”, escreve Mark Knapp, da Universidade do Texas. Somos tão carentes que ficamos felizes até com elogios falsos. Ainda assim, isso é melhor do que estragar a imagem de colegas para se destacar – caso de 5% das mentiras no trabalho.

    “Este produto é ótimo, você vai adorar”
    Não se mente apenas para colegas e chefes, mas também para clientes. A pesquisa do Anonymous Employee diz que 26% das mentiras no trabalho são para satisfazer e acalmar consumidores. E pode? Pode, pelo menos para 37% dos chefes, segundo estudo britânico da Aziz Management. Afinal, eles precisam cumprir metas e tentam de tudo para salvar a pele.

    No Reino Unido, 7% dos chefes acham que um funcionário pode mentir para eles ocasionalmente… …mas 37% acham que mentir para os clientes está tudo bem. Isso sobe ainda para 46% se a mentira beneficiar a companhia.

    Fonte: Aziz Management Communications Index, 2005

    Lorotas que… os pais contam
    Todos querem ter filhos honestos. Mas, ao mesmo tempo em que dizem valorizar a integridade dos filhos, pais mentem na frente deles

    O telefone toca e a mãe fala para dizer que não está em casa. A avó dá um presente chato, e o pai ensina que se deve fingir que adorou. Isso influencia a criação dos filhos? Sim, diz Robert Feldman, da Universidade de Massachusetts. “Assim, passamos a mensagem de que é certo mentir em algumas situações.” E crianças são espertas – aos 3 ou 4 anos já são capazes de entender que algo não é verdade. Mas é possível evitar essas mentiras na criação dos filhos? O psicólogo acredita que não. “Você quer que as crianças cresçam com habilidades sociais, não que sejam o tipo de pessoa que diz para a outra que tem um nariz grande.” Ou seja: ser honesto é importante, mas educado e gentil também. O problema é partir sempre para mentiras, o que é mais fácil do que dar satisfações. Pais que fazem isso perdem a confiança das crianças, afirma Victoria Talwar, da Universidade McGill, Canadá. E tem mais. Elas aprendem que mentir é uma estratégia eficaz para obter o que querem.

    Pais contam em média 3 mil mentiras aos filhos ao longo da infância.

    “Se você não fizer a lição, vou dizer pro Papai Noel” “O Bicho-Papão vai pegar você se não terminar o prato”, “O Papai Noel não vai dar presente se não fizer a lição”. Com essas mentiras, os pais até conseguem resolver um problema imediato, mas criam outro maior – a transferência da responsabilidade pela criação de seus filhos para seres imaginários. Ou seja, quem acaba exercendo autoridade sobre os filhos não são mais eles, mas o Papai Noel. Isso não quer dizer que criaturas mágicas por si só sejam um mal. Elas estimulam a criatividade das crianças e tornam as datas comemorativas muito mais especiais. É verdade que uma hora as crianças vão descobrir quem coloca os presentes sob a árvore de Natal. Mas o fato de toda a sociedade compartilhar o mito do Papai Noel atenua a decepção. “Como é um mito social, a criança que descobre a verdade sofre menos por perceber que os amiguinhos passaram pela mesma situação”, diz o psicólogo Robert Feldman.

    FONTE: Gail Heyman (em estudo de 2009 da Universidade da Califórnia sobre as razões pelas quais pais mentem), estudo de 2008 encomendado pelo The Baby Website, Victoria Talwar (Universidade McGill).

    “Você é nosso filho”
    Essa é uma das mentiras mais prejudiciais. Ao querer dar ao adotado a mesma criação que aos biológicos, alguns pais ocultam a origem do adotado. “Pessoas que descobrem a verdade anos depois podem ter a sensação de que informações essenciais foram escondidas”, diz Robert Feldman. Isso pode dar margem para questionamentos sobre a própria vida, sobre os pais e sobre o ambiente em volta. Mais recomendado é falar a verdade desde cedo, mesmo que o filho ainda não compreenda inteiramente o significado das palavras. Assim ele se acostuma com a ideia e, à medida que cresce, vai entendendo melhor, mas sem o ressentimento de ter sido enganado.

    Está ótimo!
    “Dizer a uma criança de dois anos que não gostou do seu desenho é simplesmente cruel”, diz a psicóloga Gail Heyman, da Universidade da Califórnia. Como pais não querem destruir a autoestima dos filhos, dar uma aliviada na verdade diante de algo pouco genial é inofensivo. O problema é falar sempre que tudo está perfeito. Isso diminui a motivação da criança. Que tal perguntar por que o Sol está verde ou por que a bola está quadrada?

    “Foi a cegonha que trouxe você”
    De onde vêm os bebês, o que os adultos fazem no quarto com portas fechadas… Quando a verdade é complicada demais, pais tendem a inventar historinhas. Mas aqui excessos podem prejudicar sua relação com os filhos. Um estudo publicado no Journal of Moral Education concluiu que esse tipo de mentira atrapalha na confiança. O melhor é dosar as informações sem mentir. Uma criança de 3 anos pode se satisfazer com a resposta “da barriga das mamãe”. Já os mais velhos compreendem mais detalhes.

    Mentiu? Seu filho vai lembrar
    Em uma pesquisa, universitários tinham que marcar de uma lista de lorotas quais as que seus pais já lhes contaram. Cerca de 90% marcaram pelo menos uma opção. Quando a mesma lista foi apresentada aos pais, 80% admitiram ter contado.

    “Seu cachorrinho foi viajar”
    Mais complexa do que a origem dos bebês é a morte. A primeira coisa a se fazer é não criar tabu – para a criança, se uma coisa não se fala, ela deve ser realmente ruim. O melhor é deixar o canal de comunicação aberto. Também é mais fácil ela entender a morte se não tiver laços emocionais com o morto – por exemplo, um bicho no jardim ou uma figura pública no telejornal. Depois, a criança precisa saber que ela não tem culpa pela morte. Se um parente tiver morrido, é importante deixar claro que a criança sempre foi e sempre será amada. E, como sempre, é necessário ser claro e paciente ao falar.

    Aos 3 ou 4 anos crianças já conseguem detectar mentiras.

    Saiba mais
    Lying and Deception in Human Interaction
    Mark Knapp, Allyn & Bacon, 2007

    The Liar in Your Life: The Way to Truthful Relationships
    Robert Feldman, Twelve, 2009

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